terça-feira, 12 de julho de 2016

VOLKSGATE

Coluna EMPRESA-CIDADà
13 de julho de 2016 
Paulo Márcio de Mello*
 Os Trapalhões (III),
ou Das Auto, 
ou Volksgate


A vida da Volkswagen não anda nada tranquila. Logo após anunciar a intenção de se tornar a maior fabricante de automóveis do planeta, parece que o mundo caiu sobre a sua cabeça, ou sobre a sua marca.

Resta uma pequena simpatia de quem, como eu e tantos outros, tiveram no fusca o seu primeiro carro, em um período em que carro significava uma extensão da potência do homem. Simpatia, mas não amor, já que anunciadamente foi a criação de um modelo de carro popular, concebido na Alemanha nazista. Era um símbolo do regime.

E todas as dificuldades foram criadas pela própria Volkswagen, ao tentar ser esperta e aplicar o mais ousado golpe de "greenwashing" nos seus produtos. Ou seja, fez uma dispendiosa campanha publicitária sobre a capacidade dos veículos por ela produzidos de emitir baixas emissões de carbono.
A campanha, afirmava que a VW é líder de vendas no mercado europeu e ambicionava ser líder também nos EUA e China, até 2018. Afirmava ter a melhor relação potência/preço, e que o consumidor de hoje em dia já escolhe o carro que pretende adquirir pela menor emissão de carbono. Desde 2008, os EUA dispõem de uma legislação mais rigorosa neste setor. Alegando os rigores do longo inverno e da neve, os norte-americanos, no entanto, acabam optando por carros maiores. A solução proposta então pela VW é o lançamento de veículos mais potentes com motores diesel, menos poluentes.
Três dos modelos mais vendidos, Jetta 2012, Passat 2013 e BMW X5 2013, foram testados pela Universidade de West Virginia. Apenas um deles, o BMW X5 2013 foi aprovado no teste de baixa emissão de gases poluentes. Os testes foram além disso e identificaram um programa informatizado dissimulado, que adulterava os resultados, simulando emissões menores do que na realidade eram verificados. Com ele, os carros pareciam emitir apenas 1/40 do que efetivamente emitiam. Pelo menos, há 2 anos, a VW fraudava os testes.
Só nos EUA, o software foi equipado em 500 mil carros. Nos outros mercados mundiais, estima-se em 11 milhões de veículos da marca com o software disposto. Martin Wintercorn, principal CEO do grupo "demitiu-se". Michael Horn, CEO para o mercado norte-americano seguiu-o. Outras empresas do grupo, como Seat e Audi, ainda passarão pelo pente fino.
Ao "demitir-se", Martin Wintercorn desculpou-se com suas partes  interessadas, disse que  este tipo de procedimento não faz parte do modo de gestão do grupo e concluiu com a proposta de um novo e verdadeiro recomeçar.
Vai custar caro, mas pode custar  m-u-i-t-o  caro.

Outros países sentiram-se encorajados a investigar a empresa, como Alemanha, França,Itália, República Checa e Coréia do Sul. A VW do Brasil ainda não se manifestou, mas a pick up Amaroc, com motor 2.0TDI de 180 cv é o único modelo da empresa que poderácontar com o software mentiroso.

No mercado de capitais da Alemanha, as ações da VW despencaram 20%, de imediato.. O resultado da empresa caiu em 1/3, equivalentes a 1,67 bi de Euros. A Chanceler da Alemanha, Angela Merkel cobrou da empresa um plano de trabalho para restabelecer as condições normais, de transparência, até 7 de outubro.
Um acordo com a Justiça dos EUA, onde rodam 11 milhões de carros maquiados, prevê a recompra de cada um destes veículos, pelo preço de mercado, tendo a VW reservado US$10 bi, para tal no segundo semestre, mais US$5 bi de compensação. Estão previstas multas ambientais de até US$50 bi.
De setembro de 2015, quando surgiram as primeiras denúncias, as ações da empresa já perderam 1/3 do valor. Investidores de diferentes países preparam-se para acionar a VW na Justiça dos EUA.
E por matar 19 inocentes, por matar um rio, por destruir sete cidades, por desabrigar milhares de pessoas, e por extinguir espécies, a SAMARCO/VALE eVogBR limitam-se a uma indenização de R$ 20 mil, sendo R$ 10 mil como adiantamento de um montante que não se sabe até agora como, nem quando será integralizado.

*Paulo Márcio de Mello
Professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)