Nutrição e sustentabilidade
Além de saciar a fome, as práticas nutricionais representam
padrões de consumo, orientação do investimento econômico, processos de tomada
de decisões nos planos empresarial, público e internacional, acesso digno à
renda e à riqueza, à informação, ao saber e aos recursos ambientais.
blog do professor paulo márcio
economia&arte
Quarta-feira, 26 de março de 2014
Coluna EMPRESA-CIDADÃ
Paulo Márcio de Mello*
u O Dia da Saúde e da Nutrição é uma data
criada no Brasil, para ser lembrada no dia 31 de março e estimular o debate
sobre a importância das práticas nutricionais corretas, bem como para a
conferência das políticas públicas e empresariais.
u Muito além de saciar a fome, as práticas
nutricionais adequadas consideram também aspectos como padrões de consumo,
orientação do investimento, processos de tomada de decisões nos planos
empresarial, público e internacional, o acesso digno à renda e à riqueza, à
informação, ao saber e aos recursos ambientais, entre outros.
u Em relação ao primeiro objetivo dos
Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, de erradicar a extrema pobreza e a
fome, foi fixada a meta de reduzir pela metade, até 2015, a proporção da
população que sofre de fome, com base nos números verificados em 1990. Mesmo
com a consideração crítica de que o indicador adotado, de crianças abaixo do
peso não espelha toda a complexidade do objetivo, já que estar no peso, por si
só, não significa estar bem nutrido, o Brasil já registrou sucesso, ao atingir,
ainda em 2006, a proporção de 1,8% da população flagelada pela fome, enquanto a
meta é de 2,1%.
u Outro desafio a ser enfrentado refere-se
aos significados distintos da nutrição, como conjunto de práticas de saúde, versus
alimentação, como conjunto de práticas culturais. Frequentemente, a população
em geral, e os mais pobres, em especial são acusados de serem os principais
responsáveis por suas insuficientes condições nutricionais, por não se
utilizarem plenamente das propriedades dos alimentos ou pelo desperdício destas
mesmas propriedades.
u É comum, em campanhas nutricionais e nas
peças publicitárias correspondentes, sugestões para a ingesta de compostos
exóticos, como casca de ovo triturada, ou espinha de peixe moída, por que
oferecem cálcio, cascas de frutas ou talos de verduras, por que oferecem
nutrientes, leites de soja ou de outras oleaginosas, farinhas insossas, e muito
mais do que a imaginação permite.
u Sem questionar o que os laboratórios de
pesquisa dizem sobre ricas propriedades destas matérias excêntricas, o que o
crítico propõe é o que não utiliza para o próprio consumo ou dos seus mais
queridos. Esquece-se de que a alimentação é norma cultural, representado mais
do que nutrir, mas o pertencimento a um grupo social. Dietas ascéticas, em que
a austeridade predomina sobre os prazeres, são próprias para se recomendar, mas
não para praticar.
u As possibilidades das práticas adequadas
de nutrição contribuírem para a sustentabilidade são imensas. Uma agenda
nutricional, para mais bem orientar a sociedade, é urgente, contemplando
aspectos como dietas descarbonizadas. Em outras palavras, para orientar sobre a
substituição da sobreingestão de carnes, que implica em um processo produtivo
excludente e intensivo na emissão de gases causadores das mudanças climáticas.
u Outros aspectos referem-se, por exemplo,
à substituição dos processos que implicam na produção e preparação de alimentos
intensivas em água. É só lembrar-se de que uma refeição frugal, como um filé de
frango e uma saladinha, consome cerca de 1.000 litros de água, para chegar ao
prato.
u Ou processos economicamente excludentes
e concentradores da renda e da riqueza, incluídos entre os causadores da atual
epidemia de obesidade, principalmente nos países em que a criação do gado é
estabulada e acarreta o desequilíbrio entre os fatores omega 3 e ômega 6, ou é
feita com criação e abate cruéis, casos da carne de vitela, baby-beef ou paté
de froi gras.
u Ou ainda a aplicação da regra dos
“erres” (reutilizar, reduzir, reciclar, etc) à produção e preparação de
alimentos e ao uso de embalagens, ou o estímulo à produção de orgânicos, de
produtos da agricultura familiar e da redução do uso exagerado de agrotóxicos,
entre outros.
u No Brasil, o profissional especialmente
dedicado a estas questões é o nutricionista. Em 1939, o primeiro curso de
Nutrição foi criado pela Universidade de São Paulo (USP). Em 31 de agosto de
1949, a institucionalização da Associação Brasileira
de Nutricionistas (ABN), mais tarde Federação Brasileira de Nutrição (FEBRAN),
foi outro marco que culminou com a regulamentação da profissão e definição das
atividades privativas, através da Lei nº 8.234, de 1991, e com a Resolução CFN
nº 380/2005, estabelece as áreas de atuação do nutricionista.
u O estudo e a
difusão das
práticas nutricionais corretas representam aspectos importantes na
sustentabilidade e facilitam a chegada a padrões civilizados de consumo,
compatíveis com a justiça social, impedindo que 99% da população sejam
sacrificados pelo desfrute de apenas 1%.
Paulo Márcio de Mello
Universidade do
Estado do Rio de Janeiro (UERJ)
A coluna EMPRESA-CIDADÃ
é publicada, desde 2001,
Através dela, são apresentados
casos de
empreendedores e empresas, pesquisas, resenhas, editais ou agendas sobre práticas de responsabilidade social,
sustentabilidade
e desenvolvimento sustentável.
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