coluna Empresa-Cidadã
por Paulo Márcio de Mello
► Menos de 4% das empresas
brasileiras consideram como negativos os impactos dos seus negócios sobre a
sustentabilidade, mesmo considerando os impactos indiretos, aqueles derivados
das cadeias de produção e consumo. Menos de 26% delas consideram os impactos
como neutros e cerca de 70% consideram os impactos como positivos.
► Entre mais de 30 aspectos
da sustentabilidade considerados, nenhuma empresa (0% !) classificou como
desfavorável o seu impacto sobre a discriminação e desigualdade racial, apesar
da presença de negros nos seus quadros de colaboradores, especialmente entre os
ocupantes de cargos de chefia, ser muito inferior à composição verificada na
sociedade. O mesmo acontece com a percepção da empresa sobre o impacto por ela
provocada na concentração da renda, apesar das espetaculares diferenças de
remuneração entre os níveis hierárquicos.
► No caso da energia
(“pressão gerada pelos padrões atuais de produção e consumo de produtos e
serviços nas fontes de energia para as gerações presente e futuras”), somente
6,7% das empresas classificam o seu impacto como desfavorável.
► As empresas, em 54% dos
casos, consideram como alta a importância dos aspectos da sustentabilidade para
as atividades empresarias, 26,5% consideram como moderada e 19,6% classificam
como de baixa importância.
► Em 53,5% dos casos, as
empresas informam ter incorporado, nos seus objetivos ou ações estratégicos,
aspectos da sustentabilidade, enquanto 12,6% afirmaram tê-los incorporados
apenas aos cenários do planejamento. Pouco mais de um terço das empresas não os
consideram.
► Os dez aspectos
considerados mais importantes são energia, corrupção e falta de ética,
comprometimento com valores e princípios, água, governança corporativa,
concorrência desleal, precariedade dos sistemas de infra-estrutura, estresse,
cadeia produtiva e equilíbrio dos ecossistemas e serviços ambientais.
► Os dez aspectos da
sustentabilidade menos privilegiados pelas empresas no ranking de importância
para os negócios são produção de alimentos (o último, com 10% de escolhas),
oferta e condições de moradia, pandemias, envelhecimento da população, saúde
pública, violência e tráfico, apoio político e políticas públicas,
oportunidades de trabalho e renda, desigualdade de gênero, distribuição de
renda e marketing.
► Os dados constam da
pesquisa “Desafios para a Sustentabilidade e o Planejamento Estratégico das Empresas
no Brasil”, realizada pelos professores Cláudio Bruzzi Boechat e Roberta
Mokretz Paro, do Núcleo Andrade Gutierrez de Sustentabilidade e
Responsabilidade Corporativa, da Fundação Dom Cabral (FDC,
www.fdc.org.br/pt/sala_conhecimento).
► O conflito revelado pela
pesquisa entre a importância da sustentabilidade e a percepção declarada dos
impactos das próprias atividades sobre aspectos característicos da
sustentabilidade é exponencialmente maior, quando se considera que foram
pesquisadas empresas com compromisso explícito ou com práticas comprovadas de
responsabilidade social ou sustentabilidade, como a participação formal em
entidades como Pacto Global, Dow Jones Sustainability Index, Índice de
Sustentabilidade Empresarial da Bovespa (ISE) ou a adoção das diretrizes de
relato da Global Reporting Initiative (GRI).
► Foram relacionadas 134
empresas com estas características de perfil, das quais 81 aceitaram participar
e 30 delas responderam às 155 questões fechadas do questionário. Participaram
empresas dos ramos de energia (13%), financeiro (13%), siderúrgico (10%),
eletroeletrônicos (7%), agroindustrial (7%), mineração (7%), da construção
civil (7%), de outros ramos da indústria (19%) e de outros serviços (17%).
► A pesquisa revela
questionamentos fundamentais sobre a (má) qualidade do diálogo entre empresas e
suas partes interessadas, sobre a efetividade da gestão de risco referenciada
na responsabilidade social e na sustentabilidade, sobre as diferenças da
qualidade de gestão empresarial dos valores tangíveis e intangíveis, entre
outros.
► A pesquisa contribui
também para a compreensão dos motivos da distância entre a grande difusão do
discurso corporativo sobre a responsabilidade social e ambiental nos últimos
anos e a pequena transformação concreta nas práticas empresariais. Quando será
que o espelho em que se miram começará a dizer a verdade?
Paulo Márcio de
Mello
paulomm@paulomm.pro.brProfessor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)
A coluna EMPRESA-CIDADÃ
é publicada, desde 2001,
toda quarta-feira, no jornal
Monitor Mercantil (www.monitormercantil.com.br).
Através dela, são apresentados
conceitos relativos
à responsabilidade social, à
sustentabilidade e ao desenvolvimento sustentável,
casos de empreendedores e empresas, pesquisas, resenhas,
editais ou agenda.
|