Guerra não declarada
O Brasil
apresenta estatísticas de uma guerra não declarada, quando o assunto é
trânsito. Uma tragédia, como esta, decorre de diferentes causas, mas uma delas
fica evidente no recente episódio de hesitação entre ações de segurança ou
ações de interesse econômico.
blog
do professor paulo márcio
economia&arte
coluna EMPRESA-CIDADÃ
Quarta-feira, 18 de dezembro de 2013
Paulo Márcio de Mello*
u As indenizações pagas por invalidez permanente,
causada por acidente de trânsito, cresceram 36%, de janeiro a setembro de 2012,
para o mesmo período de 2013. São 324.387 vítimas, em 2013, e 238.798, em 2012.
u O número de mortos, até setembro de 2013,
chegou a 41.761. No mesmo período de 2012, foram 45.769. Somados, os números de
vítimas fatais e vítimas com gravidade, em 2013, chegam, portanto a 445.833,
mais 25,4%, do que no ano anterior. Números de uma guerra civil não declarada,
relembrada pela recente divulgação do boletim estatístico, do terceiro
quadrimestre, pela Seguradora Líder do Seguro de Danos Pessoais Causados por
Veículos Automotores de Via Terrestre (Dpvat,
www.seguradoralider.com.br/SitePages/boletim-estatistico.aspx).
u Os homens representam 76% do total das
vítimas. Aqueles com idade entre 25 e 34 anos, são as vítimas mais frequentes,
com 22,1% do total. Seguem as faixas etárias compreendidas entre 18 e 24 anos,
com 17,9 % das vítimas; de 35 a 44 anos, com 14,8%; de 45 a 64 anos, com 13,9%;
de 8 a 17 anos (4,1%); maiores de 65 anos, com 2,4% e até 7 anos, com 0,8% das
vítimas do sexo masculino.
u As mulheres complementam o total de
vítimas, com maior incidência da faixa etária de 25 a 34 anos (6,1% do total),
seguida do intervalo entre 45 a 64 anos, com 4,9%; de 18 a 24 anos (4,6%); de
35 a 44 anos (4,4%); de 8 a 17 anos (1,9%); de mais de 65 anos (1,3%) e de até
7 anos, 0,5% do total de vítimas. O que faz com que o Brasil sustente esta
inaceitável condição?
u De acordo com DENATRAN, em agosto de 2013,
a frota nacional de motocicletas representava 27% do total de veículos
automotores. Apesar disso, respondeu por 41% das indenizações pagas por morte,
de janeiro a setembro de 2013. Automóveis representavam 60% dos total de
veículos automotores e responderam por 46% das indenizações pagas por morte.
u Os acidentes com motocicletas
corresponderam a 72% dos casos. Acidentes com automóveis representaram 23%,
enquanto os episódios com caminhões foram 3% do total e com ônibus ou
micro-ônibus foram 2%. O preço pago para a pizza chegar quentinha, ou para a
correspondência ser entregue a tempo, em cidades com problemas crescentes de
mobilidade, é muito alto.
u No período, as vítimas eram condutores, na
proporção de 60%; 23% pedestres e passageiros (17%).
u O seguro Dpvat considera como vítimas,
tanto os causadores dos acidentes, quanto os afetados. Os beneficiários do
seguro têm até três anos para requerer o seguro. O valor, nos casos de óbito, é
de R$13,5, mas varia conforme a lesão, nos casos de invalidez. Despesas médicas
podem ser reembolsáveis, até o valor máximo de R$2,7 mil.
u Na véspera da divulgação deste boletim
estatístico, o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (São Paulo) entregou ao
ministro da Fazenda, Guido Mantega, um pleito de adiamento para 2016, da obrigatoriedade
de que todos os veículos produzidos no Brasil saiam de fábrica com equipamentos
de segurança, como “air bags” e freios ABS. O Conselho Nacional de Trânsito
(Contran) estabeleceu que, em 2010, 10% dos veículos deveriam sair com estes
equipamentos de fábrica. A partir de 2011, a proporção cresceu para 30% e em
2013, para 60%. A partir de 1º de janeiro de 2014, todos os veículos deveriam
estar equipados.
u Os motivos alegados pelo sindicato
convergem para a prevenção de demissões, diante da inadaptação parcial do
mercado à legislação, já que linhas de montagem que não se ajustaram, a tempo
de atender à nova regulamentação, poderiam ser desativadas.
u O argumento de que o emprego na produção
dos novos equipamentos compensaria a desativação das linhas de produção de
veículos mais antiquadas é liminarmente recusada pela diretoria do sindicato,
alegando que a produção dos equipamentos de segurança, mais moderna, emprega
menos trabalho. Por seu lado, a Fazenda ouve o pleito do sindicato com boa
vontade, pois o aumento nos custos dos veículos poderia chegar a até R$1,5 mil,
afetando os índices de preços.
u A visão economicista, presente nos
argumentos, tanto do sindicato, quanto da Fazenda, negligencia que a vida não
pode ser a contra partida do emprego de uma categoria, nem do controle da
inflação.
Paulo Márcio de Mello
Professor
da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)
A coluna EMPRESA-CIDADÃ é publicada, desde
2001, toda quarta-feira,
no centenário jornal Monitor Mercantil (www.monitormercantil.com.br).
Através dela, são apresentados casos
de empreendedores e empresas,
pesquisas, resenhas,
editais ou agenda, relativos à
responsabilidade social, à sustentabilidade e ao desenvolvimento sustentável.
Está
disponível também no blog do professor paulo márcio - Arte&Economia,
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