Albufeira Meads em perigo
Antecipar-se às ameaças ambientais, desenvolvendo
alternativas antes que os problemas estejam instalados, é a forma de construir
o futuro desejado. E não se lamentar dele.
blog do professor paulo márcio
economia&arte
EMPRESA-CIDADÃ
Quarta-feira,
31 de dezembro de 2014
Paulo Márcio de Mello*
► Nos
anos 1930, as economias industriais do Ocidente buscavam a sintonia fina das
suas políticas econômicas, na tentativa de superar a profunda crise em que
atolaram. As fórmulas que até então eram utilizadas, geralmente baseadas na
expansão da oferta de moeda, deixaram de produzir os efeitos desejados.
► Enquanto J.M. Keynes produzia o famoso “Teoria Geral
dos Juros, do Emprego e da Moeda”, apresentado em 1936, guia da profunda
transformação por que passou a economia, tentativas de superar o desemprego
crescente foram praticadas intuitivamente. É contemporânea dessa época a
construção da represa Hoover, localizada entre os estados norte americanos de Nevada
e Arizona. Inaugurada em 1º de março de 1936 é, até hoje, considerada a maior
obra de engenharia do país.
► A albufeira da barragem Hoover é o lago Mead, maior
reservatório de água dos EUA, com capacidade para armazenar até 32.200 km3,
abastecido pelo rio Colorado. As águas do lago Mead suprem cerca de 90% das
necessidades de Las Vegas, que fica a pouco menos de 50 km do lago. A cidade,
famosa por seus imponentes hotéis-cassinos, tem cerca de 600 mil habitantes
que, somados aos da região metropolitana, totalizam 2 milhões de habitantes,
aproximadamente. Um dos seus símbolos mais conhecidos internacionalmente são as
fontes de águas dançantes, do famoso hotel Bellagio.
► A soma de fatores como a localização em uma região
desértica, o crescimento exponencial da população, a expansão imobiliária, a
redução da vazão do rio Colorado e o elevado padrão de consumo de água, da
ordem de 800 litros diários per capita,
certamente poderiam levar Las Vegas a viver uma crise de escassez de água.
► Tomando
das mãos do acaso e assumindo a construção do seu futuro enquanto há tempo,
autoridades governamentais de Nevada, estado onde se situa Las Vegas, investem
preventivamente na reversão do problema. Com recursos estimados em US$ 817
milhões, está sendo construído o terceiro túnel de tomada de água, situado a 91
metros de profundidade do lago. Este túnel, previsto para se tornar operacional
no final de 2015, corrige o efeito do processo de redução da quantidade de água
armazenada no lago Meads.
► Em
julho de 2014, pela primeira vez, o Meads registrou menos de 40% de sua
capacidade total e, com o ritmo de redução da sua lâmina d’água, no final de
2015, um dos túneis de captação, o mais antigo, dos anos 1960, a 33 metros de
profundidade, ficaria inoperante. Assim sobrecarregaria o segundo túnel,
construído no início dos anos 2000, que capta a água a 48 metros de
profundidade.
► As
obras estão sendo complementadas com a edição de leis, como a que obriga os
hotéis a reciclar a água de que se servem, incluída a da descarga dos
banheiros. Ou da proibição de que as residências mantenham jardins com grama,
que precisam ser regados, substituindo a grama por pedras.
► Ainda
assim, há 50% de chances do lago Meads ser considerado morto, até 2036, com
consequências dramáticas para a cidade de Las Vegas, se não avançarem as
negociações para, após uma década de seca, poupar o rio Colorado, que não
consegue repor as perdas do lago Meads, dado o alto nível de consumo de cidades
a montante do rio, como Los Angeles e Phoenix.
Política de águas
e emissões
A agência Thomson Reuters (http://thomsonreuters.com/)
publicou o relatório “Global 500 greenhouse gases performance 2010-2013: 2014
report on trends
(http://thomsonreuters.com/corporate/pdf/global-500-greenhouse-gases-performance-trends-2010-2013.pdf)”.
Nele, estão computadas as emissões de gás carbônico, metano, óxido nitroso e
outros gases causadores do aquecimento global das 500 maiores empresas do
mundo, em 2013.
Expresso em unidades equivalentes a milhões de
toneladas de CO2 (mi ton), é a seguinte a relação das 20 gigantes mais
poluentes.
(1º) Petrochina (China): 311 mi ton;
(2º) China Petroleum & Chemical Petróleo (China):
249 mi ton;
(3º) Arcelor Mittal (Luxemburgo): 207 mi ton;
(4º) NTPC (Índia): 201 mi ton;
(5º) RWE (Alemanha): 167 mi ton;
(6º) GDF Suez (França): 153 mi ton;
(7º) Duke Energy (EUA): 136 mi ton;
(8º) Gazprom (Rússia): 132 mi ton;
(9º) Exxon Mobil (EUA): 126 mi ton;
(10º) E.ON SE (Alemanha): 121 mi ton;
(11º) Enel SpA (Itália): 116 mi ton;
(12º) American Electric Power (EUA): 115 mi ton;
(13º) Nippon Steel & Sumitomo (Japão): 114 mi ton;
(14º) Holcim (Suíça): 102 mi ton;
(15º) The Southern Company (EUA): 102 mi ton;
(16º) Lafarge (França): 93 mi ton;
(17º) Posco (Coreia do Sul): 88 mi ton;
(18º) Royal Dutch Shell (Holanda): 83 mi ton;
(19º) EDF (França): 81 mi ton; e
(20º) Petrobras (Brasil): 73 mi ton.
Em nota, a Petrobras explicou que as emissões cresceram
em decorrência da estiagem no Sudeste do Brasil. Com a redução da vazão dos
rios, teve prejudicado o uso das hidrelétricas, ligando as usinas térmicas,
mais poluentes.
Paulo Márcio de Mello
Professor da Universidade do Estado
do Rio de Janeiro (UERJ)
A coluna EMPRESA-CIDADÃ
é publicada, desde 2001, toda quarta-feira,
no centenário
jornal Monitor Mercantil (www.monitormercantil.com.br).
São mais de 600
edições apresentando casos
de empreendedores e empresas,
pesquisas, resenhas, editais ou agenda, relativos à sustentabilidade, à
responsabilidade social e ao desenvolvimento sustentável.