Amanhã, presidente?!
Das 49.932 vítimas de homicídios no Brasil,
74,6% eram negras,
53,5% eram jovens entre 15 e 29 anos,
e 91,3 eram do sexo masculino,
de acordo com dados do Ministério da Saúde, de 2010.
Gente muito parecida com a que participa dos
rolezinhos.
A Associação Brasileira de Lojistas de Shopping,
apesar disto,
insiste em impedir a entrada deles nos “shoppings”.
E mais nada.
blog do professor paulo márcio
economia&arte
Quarta-feira, 22 de janeiro de 2014
coluna EMPRESA-CIDADÃ
por Paulo Márcio de Mello*
u O presidente da Alshop, Nabil
Sahyoun frequentou os noticiários, no início desta semana, ao solicitar reunião
à presidente Dilma Rousseff e ao ministro José Eduardo Cardoso, tendo como
pauta impedir que os “rolezinhos” sejam realizados nos “shoppings centers” do
país Referindo-se a estes encontros de jovens, ele afirmou que "podemos
amanhã lamentar mortes".
u Dados do Ministério da Saúde
(SVS/DASIS/Sistema de Informações sobre Mortalidade – SIM, 2010) mostram que 49.932
pessoas morreram no Brasil, vítimas de homicídio, ou seja, 26,2 a cada 100 mil
habitantes. Destas, 70,6% das vítimas eram negras.
u Precipitou o envio do ofício da Alshop o
fechamento do Shopping Leblon, no Rio de Janeiro, no final de semana, para
impedir a entrada de participantes de um "rolezinho", combinado
através das redes sociais. O presidente da Alshop lembrou sutilmente à
presidente que os “shoppings” são "importantes na geração de empregos e no
recolhimento de impostos".
u Em 2010, 26.854 jovens entre 15 e 29 foram
vítimas de homicídio, ou seja, 53,5% do total de homicídios. Das vítimas, 74,6%
eram negros e 91,3% eram do sexo masculino.
u O presidente da Alshop lembrou também que
a presidente recebeu os líderes do Movimento Passe Livre (MPL), após os
protestos de rua de 2013.
u De acordo com o Mapa da Violência no
Brasil, de 2001 a 2011, o número de homicídios cometidos contra brancos foi
reduzido em 27,1%, caindo os números absolutos anuais de 20.120, em 2001, para
14.664, em 2011. Contra negros, o número de homicídios cometidos aumentou em
35,9% no mesmo período, passando de 27.349, em 2001, para 37.156, em 2011.
u A taxa de vitimização da população negra
no país (homicídios cometidos contra negros cotejados com homicídios cometidos
contra brancos, por 100 mil habitantes) evoluiu de 59,1, em 2001, até chegar a
133,2, crescendo continuamente, com a exceção de um só ano (2009), em que
permaneceu igual ao ano anterior.
u O presidente da Alshop declarou não ser
contra os jovens frequentarem os estabelecimentos, mas que isso deveria ocorrer
de forma organizada. Ele exemplificou como forma organizada, que os
"rolezinhos" deveriam ocorrer em espaços públicos, e já adiantou-se
na proposta de que o Sambódromo em São Paulo seja adotado.
u Os “shoppings” passaram a adotar um elenco
diversificado de medidas para impedir o ingresso destes jovens. Fechamento de
portas, intimidação policial, com detenção de lideranças, mais tarde liberados
por falta de provas, medidas judiciais, medidas de restrição ao uso das redes
sociais, impedimento do ingresso dos menores desacompanhados dos responsáveis,
e outras para evidenciar que os “sem grife” não são bem vindos.
u É polêmica a possibilidade de se obstar o
ingresso dos jovens dos “rolezinhos” nos “shoppings”. Os argumentos favoráveis
estão baseados principalmente no caráter privado dos estabelecimentos, enquanto
que os argumentos contrários mais recorrentes estão baseados na argumentação do
direito de ir e vir.
u Contraditoriamente, “shoppings” também
aderiram ao discurso da responsabilidade social, mas os episódios recentes dos
“rolezinhos” evidenciam que há partes interessadas que não interessam tanto
assim.
Paulo Márcio de Mello
Professor da Universidade do
Estado do Rio de Janeiro (UERJ)
A coluna
EMPRESA-CIDADÃ é publicada, desde 2001, toda quarta-feira,
no centenário
jornal Monitor Mercantil (www.monitormercantil.com.br).
Através dela,
são apresentados casos
de empreendedores e empresas,
pesquisas, resenhas, editais ou agenda, relativos à responsabilidade social, à
sustentabilidade e ao desenvolvimento sustentável.