quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Amanhã, presidente?!
                                                        
Das 49.932 vítimas de homicídios no Brasil,
74,6% eram negras,
53,5% eram jovens entre 15 e 29 anos,
e 91,3 eram do sexo masculino,
de acordo com dados do Ministério da Saúde, de 2010.
Gente muito parecida com a que participa dos rolezinhos.
A Associação Brasileira de Lojistas de Shopping, apesar disto,
insiste em impedir a entrada deles nos “shoppings”.
E mais nada.
 
blog do professor paulo márcio
economia&arte
 
Quarta-feira, 22 de janeiro de 2014
coluna EMPRESA-CIDADÃ
por Paulo Márcio de Mello*
 
 u     O presidente da Alshop, Nabil Sahyoun frequentou os noticiários, no início desta semana, ao solicitar reunião à presidente Dilma Rousseff e ao ministro José Eduardo Cardoso, tendo como pauta impedir que os “rolezinhos” sejam realizados nos “shoppings centers” do país Referindo-se a estes encontros de jovens, ele afirmou que "podemos amanhã lamentar mortes".
 
u      Dados do Ministério da Saúde (SVS/DASIS/Sistema de Informações sobre Mortalidade – SIM, 2010) mostram que 49.932 pessoas morreram no Brasil, vítimas de homicídio, ou seja, 26,2 a cada 100 mil habitantes. Destas, 70,6% das vítimas eram negras.
 
u      Precipitou o envio do ofício da Alshop o fechamento do Shopping Leblon, no Rio de Janeiro, no final de semana, para impedir a entrada de participantes de um "rolezinho", combinado através das redes sociais. O presidente da Alshop lembrou sutilmente à presidente que os “shoppings” são "importantes na geração de empregos e no recolhimento de impostos".
 
u      Em 2010, 26.854 jovens entre 15 e 29 foram vítimas de homicídio, ou seja, 53,5% do total de homicídios. Das vítimas, 74,6% eram negros e 91,3% eram do sexo masculino.
 
u      O presidente da Alshop lembrou também que a presidente recebeu os líderes do Movimento Passe Livre (MPL), após os protestos de rua de 2013.
 
u      De acordo com o Mapa da Violência no Brasil, de 2001 a 2011, o número de homicídios cometidos contra brancos foi reduzido em 27,1%, caindo os números absolutos anuais de 20.120, em 2001, para 14.664, em 2011. Contra negros, o número de homicídios cometidos aumentou em 35,9% no mesmo período, passando de 27.349, em 2001, para 37.156, em 2011.
 
u      A taxa de vitimização da população negra no país (homicídios cometidos contra negros cotejados com homicídios cometidos contra brancos, por 100 mil habitantes) evoluiu de 59,1, em 2001, até chegar a 133,2, crescendo continuamente, com a exceção de um só ano (2009), em que permaneceu igual ao ano anterior.
 
u      O presidente da Alshop declarou não ser contra os jovens frequentarem os estabelecimentos, mas que isso deveria ocorrer de forma organizada. Ele exemplificou como forma organizada, que os "rolezinhos" deveriam ocorrer em espaços públicos, e já adiantou-se na proposta de que o Sambódromo em São Paulo seja adotado.
 
u      Os “shoppings” passaram a adotar um elenco diversificado de medidas para impedir o ingresso destes jovens. Fechamento de portas, intimidação policial, com detenção de lideranças, mais tarde liberados por falta de provas, medidas judiciais, medidas de restrição ao uso das redes sociais, impedimento do ingresso dos menores desacompanhados dos responsáveis, e outras para evidenciar que os “sem grife” não são bem vindos.
 
u      É polêmica a possibilidade de se obstar o ingresso dos jovens dos “rolezinhos” nos “shoppings”. Os argumentos favoráveis estão baseados principalmente no caráter privado dos estabelecimentos, enquanto que os argumentos contrários mais recorrentes estão baseados na argumentação do direito de ir e vir.
 
u      Contraditoriamente, “shoppings” também aderiram ao discurso da responsabilidade social, mas os episódios recentes dos “rolezinhos” evidenciam que há partes interessadas que não interessam tanto assim.
 
Paulo Márcio de Mello
Professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)
 
A coluna EMPRESA-CIDADÃ é publicada, desde 2001, toda quarta-feira,
no centenário jornal Monitor Mercantil (www.monitormercantil.com.br).
Através dela, são apresentados casos de empreendedores e empresas,
pesquisas, resenhas, editais ou agenda, relativos à responsabilidade social, à sustentabilidade e ao desenvolvimento sustentável.


quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

O melhor negócio do mundo (XIV)
                                                    
O tempo passou,
mas a visita de um grupo de jovens
de bairros periféricos ao “shopping”,
combinada através de mídias sociais,
é bastante para que tentem impedi-los,
mobilizando-se “seguranças” particulares, a polícia, a Justiça e
até mesmo o bloqueio de mídias sociais.
Não querem deixar o “rolezinho” passar
da senzala para a casa grande...
 
blog do professor paulo márcio
economia&arte
 
Quarta-feira, 15 de janeiro de 2014
coluna EMPRESA-CIDADÃ
por Paulo Márcio de Mello*
 
u      Esta é a décima quarta edição da coluna Empresa-Cidadã com o título “O melhor negócio do mundo”. A coluna começou a ser publicada no jornal Monitor Mercantil em 17 de janeiro de 2001, acumulando, até hoje, cerca de 650 edições, com o propósito básico de estimular o senso crítico sobre conceitos e práticas de responsabilidade socioambiental.
 
u      Muitas coisas aconteceram ao longo de treze anos que influenciaram os conceitos e valores da responsabilidade social e outros que deles derivaram. Nestes anos, a realidade superou a ficção, não faltando nem mesmo o ataque de “Godzillas” ao território norte-americano, na forma de aviões arremessados contra as torres, símbolos do capitalismo neoliberal.
 
u      Godzilla, monstro gerado por explosões nucleares que, originalmente, atacava o povo japonês, é uma criação do cinema de Tomoyuki Tanaka (produtor), Ishiro Honda (diretor) e Eiji Tsuburaya (efeitos). Em assimetria ética, ao longo dos 28 filmes da série iniciada em 1954, alterna a condição de vilão ou de herói, contradição característica do século XX, que afligiu outras personagens, como as grandes corporações empresariais.
 
u      Símbolos de inovação, eficiência, geração de empregos e de arrecadação tributária, as corporações são também identificadas como principais responsáveis pela explosão do consumo, que acarreta degradação ambiental sem precedentes na história da Humanidade e injustiça social.
 
u      A explosão consumista que as beneficia só é possível com base na externalização de custos, habilidade perversa que desenvolveram além do limite do tolerável. Comprometem assim a diversidade de espécies, florestas, água potável e o futuro de gerações e gerações de “não-cidadãos”.
 
u      Exemplo significativo de externalização de custos é o do uso dos combustíveis fósseis, como o petróleo. Nenhuma estimativa sobre o custo do barril é inferior ao dobro do que hoje é praticado, se fossem considerados os custos que são externalizados, sem remunerar os agentes penalizados pela exploração. Não há, no entanto, petroleira que não disponha de belos programas de responsabilidade social ou de sustentabilidade...
 
u      O ano de 1954, do nascimento da série Godzilla, é curiosamente o mesmo ano do nascimento de outras personagens que encarnam características contraditórias de Godzilla, ora herói, ora vilão, como Angela Merkel (chanceler alemã), e Condoleezza Rice (secretária de estado do governo George W. Bush, madrinha da guerra contra o Iraque).
 
u      Brasil adentro e mundo afora, surgiram movimentos de denúncia e resistência, caracterizados por pautas diversificadas, que conferem uma capacidade de adaptação, compatível com a velocidade das transformações necessárias e com o imediatismo da comunicação. São “movimentos de escopo”, mais flexíveis do que os de objetivo definido.
 
u      Inovadores também na descentralização e fluidez das lideranças, sem um lider concentrador. O recurso às redes sociais, como elemento aglutinador, complementa um conjunto de características novas da locução política e privilegia também a participação dos segmentos jovens da população.
 
u      Assim como os grupos Adbusters, US Day of Rage, Anonymous (com as suas máscaras características de Guy Fawkes), e o New Yorkers Against Budget Cuts (Nova-iorquinos contra os cortes no orçamento), o movimento Occupy Wall Street (OWS), talvez o mais notório deles, na origem da mobilização, há pouco mais de dois anos, foi mal compreendido, nestas características inovadoras. Como se viu nas grandes mobilizações de junho, no Brasil, ocupar tornou-se a palavra da resistência, porém.
 
u      “Rolezinho” é como começou a ser chamado um curioso movimento de jovens da periferia dos principais centros urbanos do país. Mobilizados pelas redes sociais, dezenas (por enquanto) de jovens convergem para um “shopping center”.
 
u      Planejados como o “não-lugar”, os “shoppings”, santuários do consumo, são arquitetados para não se perceber a passagem do tempo (ambientes fechados), nem o clima (temperatura controlada), para não opor resistência ao deslocamento (escadas rolantes e piso de granito), e para promover uma estética hegemônica (as mesmas grifes), entre outros aspectos.
 
u      Quando estes jovens que não se enquadram na estética dominante lotam os “shoppings”, as contradições são reveladas de imediato. Os que se sentem ameaçados recorrem aos “seguranças”, à polícia ou mesmo à Justiça, para impedir o ingresso dos jovens, como se vê nestes primeiros dias de janeiro de 2014.
 
u      Treze anos após a primeira edição da coluna Empresa-Cidadã, o discurso corporativo tornou-se uma salada de conceitos éticos, mas ainda prevalece a concepção de que só é cidadão quem é consumidor.
 
Paulo Márcio de Mello

Professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

 

A coluna EMPRESA-CIDADÃ é publicada, desde 2001, toda quarta-feira,
no centenário jornal Monitor Mercantil (www.monitormercantil.com.br).
Através dela, são apresentados casos de empreendedores e empresas,
pesquisas, resenhas, editais ou agenda, relativos à responsabilidade social, à sustentabilidade e ao desenvolvimento sustentável.


terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Empresas “Thamsanqa Jantjie”
                                                                                    
As empresas que atendem prontamente às queixas
dos consumidores encaminhadas pelos Procons diminuiu.
Como compatibilizar esta realidade com o
compromisso declarado com a responsabilidade social?
 
blog do professor paulo márcio
economia&arte
 
Quarta-feira, 8 de janeiro de 2014
coluna EMPRESA-CIDADÃ
por Paulo Márcio de Mello*
 
u      Informações do Cadastro Nacional de Reclamações Fundamentadas, da Secretaria Nacional do Consumidor, do Ministério da Justiça, indicam que o percentual de queixas acolhidas pelos Procons e resolvidas por via administrativa pelas empresas caiu de 63,1%, em 2011, para 59,9%, em 2012 (informação mais recente disponível). Ao que não foi resolvido por este caminho, restou o da Justiça.
 
u      Foram 2.031 milhões de atendimentos realizados pelos Procons, dos quais 211 mil considerados procedentes, número que significa um acréscimo de 38%, em relação ao ano anterior. Os motivos mais frequentes dos processos administrativos instalados foram falhas de cobranças indevidas (28%), falta de garantia (21%) e vícios de qualidade de serviços ou mercadorias (16%).
 
u      Pelo cadastro, a Oi lidera com 9.371 reclamações, das quais 6.707 foram atendidas (71,5%). Seguem a Claro-Embratel, com 7.653 reclamações (70,4% atendidas), o grupo de varejo Máquina de Vendas, com 6.568 reclamações (55,3% atendidas) e o grupo Casas Bahia-Ponto Frio-Nova Pontocom, com 5.963 reclamações (58,7% atendidas).
 
u      Outra relação oportuna é a das empresas que menos acolheram as reclamações dos clientes. Nesta lista, lidera a Nextel que, apesar de ocupar “apenas” a 44ª posição entre as 50 que mais agregaram arrependimento de consumidores, “conseguiu” resolver somente 31,7% de 775 queixas. Em segundo lugar está o Banco Panamericano, com 38,3% de queixas solucionadas, a TAM (40%), o grupo Carrefour (40,7%) e o Banco do Brasil (47,3%).
 
u      Outro recurso disponibilizado ao cidadão brasileiro é o Sistema de Monitoramento de Acidentes de Consumo (Sinmac), do Inmetro (www.inmetro.gov.br), desde setembro de 2013. Este cadastro enseja ao cidadão, além do relato do próprio caso, o acesso ao banco de dados, detalhado por setores, mercadorias, unidades da federação e datas, a partir de 2006.
 
u      A ênfase do cadastro é a prevenção de acidentes derivados do manuseio de produtos, reduzindo danos à saúde ou à segurança do consumidor. Entre as causas mais frequentes dos acidentes de consumo estão falhas de instrução sobre o uso adequado de mercadorias, inadequação à normas e ausência de atuação preventiva de fornecedores.
 
u      No período de 2006 a 2013, as mercadorias que mais acidentes provocaram foram produtos infantis, com 14,8% do total de acidentes, seguidas de eletrodomésticos (11,5% do total), embalagens (9,7%), alimentos (9,3%), utensílios do lar (8,9%), mobiliário (6,8%), cozinha (6,7%), saúde (6%), veículos e acessórios (5,7%), serviços (5,3%), cosméticos (4,4%), calçados e vestuário (3,3%), aparelhos elétricos (2,1%), produtos químicos (1,9%), construção civil (1,1%), papelaria (0,4%), produtos esportivos (0,4%) e outros (1,6%).
 
u      Entre os maiores vilões dos acidentes de manuseio de produtos, estão a escada doméstica, com 4,6% dos casos registrados, o automóvel (4% dos casos), o banco de plástico (1,4%), os achocolatados (1,1%) e as bicicletas (1%). Há mais registros de acidentes nestes produtos do que no transporte público (0,1%), na cama elástica (0,1%), nos patins (0,1%), no skate (0,1%) ou na panela de pressão (0,4%). Dos acidentes cadastrados no período 2006-2013 pelo Sinmac, 44,2% acarretaram atendimento médico e 32,2% implicaram em afastamento do trabalho.
 
u      Práticas empresariais podem interditar o relacionamento entre partes interessadas, como os registrados pelo Cadastro Nacional de Reclamações Fundamentadas, sustentadas por corporações que em seus credos corporativos promovem o discurso dos valores da responsabilidade social e os propagam através de ricas campanhas publicitárias, assim como negligenciam cuidados com a segurança e saúde dos cidadãos.
 
u      São características das “empresas Thamsanqa Jantjie”, lembrando-nos o notório tradutor de linguagem de sinais que recentemente, no funeral de Nelson Mandela, subiu no palanque das autoridades e simulou uma comunicação, de fato inexistente.
 
Paulo Márcio de Mello
Professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)
 
A coluna EMPRESA-CIDADÃ é publicada, desde 2001, toda quarta-feira,
no centenário jornal Monitor Mercantil (www.monitormercantil.com.br).
Através dela, são apresentados casos de empreendedores e empresas,
pesquisas, resenhas, editais ou agenda, relativos
à responsabilidade social, à sustentabilidade e ao desenvolvimento sustentável.

Equoterapia
                                 
Terapias não tradicionais
revelam-se úteis para o tratamento de PcD.
É o caso da equoterapia,
uma cooperação entre o Homem e o cavalo.
 
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economia&arte
 
Maria Eduarda Santos Pais Figueiredo
Aluna de Graduação em Nutrição da UERJ
 
É importante que estejamos sempre atentos aos portadores de deficiência, e por isso, na minha antiga escola tive que fazer uma monografia como conclusão de curso e escolhi um tema muito pouco falado, mas que me interessava muito pois, procurava uma maior intervenção nas políticas públicas para os portadores de deficiência física.
 
Em relação a métodos terapêuticos de reabilitação, questionava-me sempre na visão de que praticamente todas as doenças poderiam ser tratadas apenas com medicamentos, ignorando o homem em sua plenitude e suas necessidades.
 
O estudo se deu inicialmente por uma revisão bibliográfica e iniciei com Hipócrates, filósofo da Grécia Antiga( por volta de 350 a. C.), que já aconselhava a prática da Equoterapia para solucionar problemas de saúde.
 
Durante muitos séculos, a Equoterapia vinha em um plano secundário. Foi somente após a Segunda Guerra Mundial que essa prática foi resgatada. Atualmente, a Equoterapia é usada em muitos países do mundo, como Estados Unidos e Alemanha.
 
A Equoterapia pode ser definida como : “(...) um método terapêutico e educacional que utiliza o cavalo dentro de uma abordagem interdisciplinar nas áreas de saúde, educação e equitação, buscando o desenvolvimento biopsicossocial de pessoas portadoras de deficiência e/ou com necessidades especiais”(ANDE-BRASIL, 2012, p.1).
 
Esta pode ser usada como tratamento de Síndrome de Down, paralisia cerebral, autismo, esquizofrenia, deficiência física, distúrbio de atenção e em pessoas com problemas de postura ou insônia.
 
No Brasil, o reconhecimento da Equoterapia como método terapêutico aconteceu no ano de 1997, no dia 9 de abril, com a aprovação do Parecer n° 6/97, pelo Conselho Federal de Medicina. Com isso a Associação Nacional de Equoterapia (ANDE-Brasil) foi criada para coordenar e fiscalizar o uso da Equoterapia em âmbito nacional, promovendo também estudos, pesquisas e cursos na área da Equoterapia, buscando obter mais funcionários especializados.
 
A Política Nacional da Pessoa Portadora de Deficiência (2009) apresenta um regulamento da Secretaria Nacional de Assistência à Saúde (SNAS), que define que todas as pessoas no atendimento hospitalar devem ter acesso a remédios, leito hospitalar e a reabilitação, porém, este último nem sempre é proporcionado para o paciente. Segundo a mesma, a maior dificuldade no Brasil para a implantação é o alto custo que a reabilitação possui. O Brasil apresenta um grande déficit em sua gestão no SUS, o que impossibilita uma reabilitação voltada para não só a internação e o remédio, mas para uma assistência que abranja todas as necessidades da pessoa portadora de deficiência.
 
Mesmo com o seu reconhecimento apenas no ano de 2005, pelo projeto de Lei número 5.499/05, a Equoterapia foi incorporada nos serviços especializados oferecidos pelo SUS. O senador Flávio Arns foi um dos que mais apoiou a sua implantação, e de acordo com este “a implantação deste serviço já é possível e depende apenas do interesse do gestor público da saúde em ofertar o tratamento à população.” (Nosso mandato, Senador Flávio Arns, 2007, p.2).
 
Atualmente, no Brasil, de aproximadamente 200 centros de Equoterapia, possuímos apenas uma unidade púbica no Estado de São Paulo. Assim, podemos perceber como a Saúde humanizada e completa está voltada apenas para aqueles que detém poder aquisitivo para arcar com as despesas de tratamentos terapêuticos.


segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

A economia verde é
 o “novo Consenso de Washington”?
                                                    
 “A economia verde não é uma unanimidade.
As críticas a ela convergem para o entendimento de que este meio não altera o modo de produção hegemônico,
apenas financeiriza-o.
Este artigo, publicado pela Campanha Não à economia verde, no período da Rio+20, resume as críticas.
 
blog do professor paulo márcio
economia&arte
 
10 de abril de 2012
 
I. Economia Verde: A Nova Fase da Expansão Capitalista e de Ajuste Estrutural
 
1. Atualmente enfrentamos grandes riscos – até mesmo uma crise de civilização – que se manifestam em muitas dimensões e que são exacerbados por desigualdades sem precedentes. Sistemas e instituições que sustentam a vida e as sociedades – tal como a produção de energia e alimentos, o clima, a água, a biodiversidade e mesmo as instituições econômicas e democráticas – estão sob ataque ou em colapso.
 
2. Na década de 1980, enfrentando uma crise da lucratividade, o capitalismo lançou uma ofensiva maciça contra trabalhadores e povos, buscando aumentar os lucros através da expansão dos mercados e da redução de custos pela liberalização das finanças e negócios, flexibilização do trabalho e privatização do setor público. Esse ‘ajuste estrutural’ maciço ficou conhecido como Consenso de Washington.
 
3. Hoje, frente a uma crise ainda mais complexa e profunda, o capitalismo está lançando um novo ataque que combina as antigas medidas de austeridade do Consenso de Washington – como estamos presenciando na Europa – com uma ofensiva para criar novas fontes de lucro e crescimento através da agenda da “Economia Verde”. Embora o capitalismo sempre tenha se baseado na exploração do trabalho e da natureza, essa nova fase da expansão do capitalismo busca explorar e lucrar colocando um valor precificado em capacidades essenciais da natureza para gerar vida.
 
4. A Cúpula da Terra no Rio de Janeiro, em 1992, institucionalizou importantes bases para a cooperação internacional no desenvolvimento sustentável, tal como o princípio de que o poluidor paga, as responsabilidades comuns porém diferenciadas e o princípio da precaução. Mas o Encontro do Rio também institucionalizou o conceito de “desenvolvimento sustentável” baseado no “crescimento” ilimitado. Em 1992, as Convenções do Rio reconheceram pela primeira vez os direitos das comunidades indígenas e suas contribuições centrais para a preservação da biodiversidade. Mas, nos mesmos documentos, os países industrializados e as corporações obtiveram a garantia da propriedade intelectual das sementes e dos recursos genéticos que roubaram através de séculos de dominação colonial.
 
5. Vinte anos depois, em 2012, o saque continua. A agenda da “Economia Verde” é uma tentativa de expandir o alcance do capital financeiro e integrar ao mercado tudo o que resta da natureza. Pretende fazer isso colocando um “valor” monetário ou um “preço” na biomassa, na biodiversidade e nas funções dos ecossistemas – como o armazenamento de carbono, a polinização de plantações ou a filtragem da água – a fim de integrar esses “serviços” como unidades comercializáveis no mercado financeiro.
 
II. O Que e Quem Está Por Trás do Draft Zero (Esboço Zero)
 
6. O resultado do documento “draft zero” para a Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável da Rio+20 se chama “O Futuro que Queremos”. No coração desse breve texto está a seção “A economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e erradicação da pobreza”.
 
7. O "draft zero" - como todos os ataques perversos do capitalismo - é cheio de generalidades para esconder as reais intenções. A força ideológica por trás do "draft zero" é o relatório de 2011 do PNUMA Rumo à Economia Verde: Caminhos para o Desenvolvimento Sustentável e Erradicação da Pobreza, que mostra claramente o objetivo final de alcançar o "capitalismo verde".
 
8. Em uma escala global, a “Economia Verde” procura desassociar o crescimento econômico da deterioração do meio ambiente através de um capitalismo tridimensional que inclui capital material, capital humano e capital natural (rios, zonas úmidas, florestas, recifes de corais, diversidade biológica e outros elementos). Para a “Economia Verde”, a crise de alimentos, do clima e da energia compartilham uma característica comum: uma alocação falha de capital. Como resultado, eles tentam tratar a natureza como capital – “capital natural”.
 
A “Economia Verde” considera essencial colocar um preço no serviço gratuito que plantas, animais e o ecossistema oferecem a humanidade em nome da “conservação” da biodiversidade, purificação da água, polinização das plantas, proteção do recife de corais e regulação do clima.
 
Para a “Economia Verde”, é necessário identificar as funções específicas do ecossistema e da biodiversidade e atribuir a eles um valor monetário, avaliar suas condições atuais, estipular um limite depois do qual eles não irão mais prover serviços e concretizar em termos econômicos o custo de sua conservação a fim de desenvolver um mercado para cada serviço da natureza específico. Para a “Economia Verde” os instrumentos do mercado são poderosas ferramentas para gerir a “invisibilidade econômica da natureza”.
 
9. Os principais alvos da “Economia Verde” são os países em desenvolvimento, onde se encontra a biodiversidade mais rica. O “draft zero” até mesmo reconhece que uma nova rodada de “ajustes estruturais” será necessária: “países em desenvolvimento estão enfrentando grandes desafios para erradicar a pobreza e manter o crescimento, e uma transição para uma economia verde irá requerer ajustes estruturais que podem envolver custos adicionais para suas economias…”.
 
10. Mas a “Economia Verde” não é uma ficção do futuro: ela já está aqui. Como afirma o “draft zero”, “Nós apoiamos estruturas políticas e instrumentos de mercado que efetivamente diminuam, parem e revertam o desmatamento e degradação das florestas”. Esta passagem está se referindo ao REDD (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação), uma iniciativa da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC) que consiste em isolar e medir a capacidade das florestas de capturar e armazenar dióxido de carbono a fim de emitir certificados de redução das emissões de gases de efeito estufa que podem ser comercializados e adquiridos por empresas em países em desenvolvimento que não conseguem cumprir seus compromissos de redução das emissões.
 
Mas nós já vimos que o mercado de créditos de carbono baseado nas florestas irá levar: a) à falta de comprometimento com os acordos de redução efetiva das emissões pelos países desenvolvidos; b) ao aumento da apropriação de recursos por intermediários e entidades financeiras que raramente beneficiam países, populações indígenas e as próprias florestas; c) à geração de bolhas especulativas baseadas na compra e venda dos certificados mencionados, e; d) ao estabelecimento de novos direitos de propriedade sobre a capacidade das florestas de capturar dióxido de carbono, que irá colidir com os direitos soberanos dos Estados e dos povos indígenas que vivem nas florestas.
 
11. Os postulados promovidos sob a designação de “Economia Verde” estão errados. A atual crise ambiental e climática não é simplesmente uma falha de mercado. A solução não é colocar um preço na natureza. A natureza não é uma forma do capital. É errôneo dizer que só valorizamos aquilo que tem preço, um dono e que traz lucros. Os mecanismos de mercado que permitem trocas entre seres humanos e nações se mostraram incapazes de contribuir para uma distribuição equitativa da riqueza. O maior desafio para a erradicação da pobreza não é crescer eternamente, mas alcançar uma distribuição equitativa da riqueza que seja possível dentro dos limites do sistema Terra. Em um mundo no qual 1% da população controla 50% da riqueza do planeta não será possível erradicar a pobreza nem restaurar a harmonia com a natureza.
 
12. A agenda da “Economia Verde” é uma manipulação cínica e oportunista das crises ecológica e social. Ao invés de enfrentar as verdadeiras causas estruturais das desigualdades e injustiças, o capital está usando a linguagem “verde” para lançar uma nova e agressiva rodada de expansão. As corporações e o setor financeiro precisam dos governos para institucionalizar novas regras da “Economia Verde” que os protejam contra riscos e para criar um quadro institucional para a financeirização da natureza. Muitos governos são parceiros ativos nesse projeto por acreditarem que isso irá estimular uma nova fase de crescimento e acumulação.
 
13. De fato, a “Economia Verde” é o novo Consenso de Washington que está para ser lançada na Rio+20 como o próximo estágio do capitalismo para recuperar o crescimento e lucros perdidos. Esse definitivamente não é o futuro que NÓS queremos.
 
     1.     UNEP, 2011, Towards a Green Economy: Pathways to Sustainable Development and Poverty Eradication, www.unep.org/greeneconomy