Aqui não tem terremoto
A complacência com práticas como as de roubar e furtar,
considerando-as culturais e , portanto,
aceitáveis,
mesmo que dentro de limites,
tem importantes implicações econômicas,
como influenciar na concentração da renda e da riqueza,
na produtividade e rentabilidade, ou
na sustentabilidade.
blog do
professor paulo márcio
economia&arte
Coluna EMPRESA-CIDADÃ
Quarta-feira, 6 de maio de 2015
Paulo Márcio
de Mello*
►Há no
Brasil mais de 860 shopping centers, reunindo mais de 130 mil lojas e público
acima de 470 milhões de pessoas. São dados da Associação Brasileira de Lojistas
de Shopping (ALSHOP). O faturamento consolidado em shoppings superou a marca de
R$132 bilhões, em 2013. Roubos e furtos representam cerca de 70% das
ocorrências de perdas no segmento. Os itens mais visados, segundo a Associação
Brasileira de Supermercados (Abras), são desodorantes, aparelhos de barbear,
chocolates em geral, carnes e bebidas (com destaque para uísque e vodka).
►Em
consequência, o Brasil representa um mercado de segurança expressivo. O
segmento de segurança eletrônica, em particular, segundo pesquisa da Security
Industry Association (SIA) que, em 2011, representava R$ 1,2 bilhão, tem
potencial de mercado de R$ 3,7 bilhões, até 2017. Os itens mais demandados são
circuitos fechados de TV, alarmes e controladores de acesso.
►As perdas
por furto ou roubo no setor supermercadista que, em 2008, foram de 2,36% do
faturamento, declinam ano a ano: 2,33% em 2009; 2,26% em 2010; 1,96% em 2011; e
consolidando as perdas de todos os tipos, em 2012, alcançou R$ 4,74 bilhões,
equivalentes a 1,95% do faturamento de R$ 242,9 bilhões.
►Apesar das
cifras bilionárias, apenas 28% dos supermercados priorizam a prevenção de
perdas internas ou externas. Sobretudo quando os seus números estão na média,
ou abaixo dela. É como se “estar na média” significasse estar enquadrado na
cultura vigente. Restaria então externalizar este custo, transferindo-o para o
bolso da população.
►O índice
médio de perdas de 1,95% do faturamento, em 2012, apurado pela 13ª Avaliação de
Perdas no Varejo Brasileiro (Abras-Provar FIA-Nielsen), não se distribui de
forma homogênea pelos diferentes segmentos do setor. Entre pequenos
supermercados, ele é mais de três vezes o índice médio, alcançando perdas
equivalentes a 6,7% do faturamento.
►Se
observadas as segmentações do varejo, podem ser constatadas, por exemplo,
perdas entre os grandes varejistas de farmácias e drogarias de 0,33% do
faturamento, enquanto entre pequenos chega a 4,6%. Em materiais de construção,
o índice das perdas entre os grandes varejistas é de 1,02%, apurado sobre o
faturamento. Já entre os pequenos, alcança 11,4%.
►Entre as
micro e pequenas empresas, o impacto da corrosão gerada pela cultura de
tolerância com as perdas por roubos e furtos pode chegar a comprometer a
sustentabilidade. Apesar da importância de representarem quase metade dos
empregos do setor privado e mais de 95% dos estabelecimentos no Brasil, elas
apresentam um índice 5,37 vezes maior do que as médias e grandes empresas
(pesquisa Sebrae-Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de
Consumo Ibevar).
►Outro
estudo, desta vez realizado pelo Centro de Pesquisas do Varejo, da Grã
Bretanha, englobando 1069 empresas, de 41 países, situa o Brasil entre os 10
mais, em perdas no varejo provocadas por roubos, furtos e falhas processuais,
como erros contábeis, alternando posições com Índia, Marrocos, México, África
do Sul, Turquia, Tailândia e Eslováquia.
►Após a
deflagração da crise econômica, em 2008, houve um aumento generalizado das
perdas, ressaltando-se os índices deste aumento da Itália (54,2%), África do
Sul (52,6%) e EUA (51,7%). Na América Latina e América do Norte predominam as
perdas por causas internas e na Europa, Ásia, Oriente Médio e África a
predominância é de perdas provocadas por “clientes”. No Brasil, o estudo
apresentou 41,2% das perdas causadas por empregados, 33,8% por clientes, 8,2%
por fornecedores e 16,8% por erros de gestão.
Paulo Márcio de Mello
paulomm@paulomm.pro.br
Professor da Universidade do Estado do Rio
de Janeiro (UERJ)
A coluna EMPRESA-CIDADÃ é publicada, desde 2001,
toda quarta-feira,
no centenário jornal Monitor Mercantil (www.monitormercantil.com.br).
São mais de 600 edições apresentando casos de empreendedores e empresas,
pesquisas, resenhas, editais ou agenda,
relativos à sustentabilidade,
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