quarta-feira, 6 de maio de 2015

Aqui não tem terremoto
                                                                              
A complacência com práticas como as de roubar e furtar,
considerando-as culturais e, portanto, aceitáveis,
mesmo que dentro de limites,
tem importantes implicações econômicas,
como influenciar na concentração da renda e da riqueza,
na produtividade e rentabilidade, ou
na sustentabilidade.

blog do professor paulo márcio
economia&arte

Coluna EMPRESA-CIDADÃ
Quarta-feira, 6 de maio de 2015
Paulo Márcio de Mello*

Há no Brasil mais de 860 shopping centers, reunindo mais de 130 mil lojas e público acima de 470 milhões de pessoas. São dados da Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (ALSHOP). O faturamento consolidado em shoppings superou a marca de R$132 bilhões, em 2013. Roubos e furtos representam cerca de 70% das ocorrências de perdas no segmento. Os itens mais visados, segundo a Associação Brasileira de Supermercados (Abras), são desodorantes, aparelhos de barbear, chocolates em geral, carnes e bebidas (com destaque para uísque e vodka).

Em consequência, o Brasil representa um mercado de segurança expressivo. O segmento de segurança eletrônica, em particular, segundo pesquisa da Security Industry Association (SIA) que, em 2011, representava R$ 1,2 bilhão, tem potencial de mercado de R$ 3,7 bilhões, até 2017. Os itens mais demandados são circuitos fechados de TV, alarmes e controladores de acesso.

As perdas por furto ou roubo no setor supermercadista que, em 2008, foram de 2,36% do faturamento, declinam ano a ano: 2,33% em 2009; 2,26% em 2010; 1,96% em 2011; e consolidando as perdas de todos os tipos, em 2012, alcançou R$ 4,74 bilhões, equivalentes a 1,95% do faturamento de R$ 242,9 bilhões.

Apesar das cifras bilionárias, apenas 28% dos supermercados priorizam a prevenção de perdas internas ou externas. Sobretudo quando os seus números estão na média, ou abaixo dela. É como se “estar na média” significasse estar enquadrado na cultura vigente. Restaria então externalizar este custo, transferindo-o para o bolso da população.

O índice médio de perdas de 1,95% do faturamento, em 2012, apurado pela 13ª Avaliação de Perdas no Varejo Brasileiro (Abras-Provar FIA-Nielsen), não se distribui de forma homogênea pelos diferentes segmentos do setor. Entre pequenos supermercados, ele é mais de três vezes o índice médio, alcançando perdas equivalentes a 6,7% do faturamento.

Se observadas as segmentações do varejo, podem ser constatadas, por exemplo, perdas entre os grandes varejistas de farmácias e drogarias de 0,33% do faturamento, enquanto entre pequenos chega a 4,6%. Em materiais de construção, o índice das perdas entre os grandes varejistas é de 1,02%, apurado sobre o faturamento. Já entre os pequenos, alcança 11,4%.

Entre as micro e pequenas empresas, o impacto da corrosão gerada pela cultura de tolerância com as perdas por roubos e furtos pode chegar a comprometer a sustentabilidade. Apesar da importância de representarem quase metade dos empregos do setor privado e mais de 95% dos estabelecimentos no Brasil, elas apresentam um índice 5,37 vezes maior do que as médias e grandes empresas (pesquisa Sebrae-Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo Ibevar).

Outro estudo, desta vez realizado pelo Centro de Pesquisas do Varejo, da Grã Bretanha, englobando 1069 empresas, de 41 países, situa o Brasil entre os 10 mais, em perdas no varejo provocadas por roubos, furtos e falhas processuais, como erros contábeis, alternando posições com Índia, Marrocos, México, África do Sul, Turquia, Tailândia e Eslováquia.

Após a deflagração da crise econômica, em 2008, houve um aumento generalizado das perdas, ressaltando-se os índices deste aumento da Itália (54,2%), África do Sul (52,6%) e EUA (51,7%). Na América Latina e América do Norte predominam as perdas por causas internas e na Europa, Ásia, Oriente Médio e África a predominância é de perdas provocadas por “clientes”. No Brasil, o estudo apresentou 41,2% das perdas causadas por empregados, 33,8% por clientes, 8,2% por fornecedores e 16,8% por erros de gestão.

Paulo Márcio de Mello
paulomm@paulomm.pro.br
Professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

A coluna EMPRESA-CIDADÃ é publicada, desde 2001, toda quarta-feira,
no centenário jornal Monitor Mercantil (www.monitormercantil.com.br).
São mais de 600 edições apresentando casos de empreendedores e empresas,
pesquisas, resenhas, editais ou agenda, relativos à sustentabilidade,
à responsabilidade social e ao desenvolvimento sustentável.
  

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