Água e energia
O aumento do uso dos transportes poderá acarretar um
acréscimo ainda maior na necessidade de água para a agricultura, por conta dos
biocombustíveis. E a agricultura já responde por quase dois terços desta
demanda.
blog do
professor paulo márcio
economia&arte
Quarta-feira, 19 de março de 2014
Coluna EMPRESA-CIDADÃ
Paulo Márcio de Mello*
u Um aumento de 5% do transporte
rodoviário no mundo, até 2030, poderá aumentar o uso da água na agricultura em
até 20%, em decorrência da produção de biocombustíveis, conforme a Agência
Internacional de Energia. Pela correspondência existente, o tema escolhido pela
ONU para o Dia Mundial da Água deste ano é Água e Energia.
u Segundo o relatório Conjuntura de
Recursos Hídricos no Brasil – Informe 2013, editado pela Agência Nacional de
Águas (ANA), no Brasil há cerca de 1.064 empreendimentos hidrelétricos, dos
quais 407 são centrais de geração (CGH), 452 são pequenas centrais (PCH) e 205
são usinas (UHE). Quase 70% da capacidade total do sistema de produção de
energia elétrica instalada no Brasil é hidrelétrica. Outras modalidades de
geração também são dependentes do uso de água, como a térmica e a nuclear.
Manifesto
Um grupo de 100 pesquisadores ambientais
brasileiros, de universidades e institutos, de diferentes estados, encaminhou à
Presidência da República e aos ministérios do Meio Ambiente (MMA) e de Minas e
Energia (MME), o Manifesto de Cientistas pela Defesa de Nossos Rios. O
documento resgata a Moção sobre Barramentos, aprovada no X Congresso de
Ecologia do Brasil (http://www.cpap.embrapa.br/pesca2011_10ceb1.pdf), de
setembro de 2011.
A finalidade da divulgação do manifesto é
apelar por políticas públicas eficientes em garantir a manutenção da diversidade,
incluindo-se as culturas humanas tradicionais dos ribeirinhos e os
remanescentes de ecossistemas fluviais e de sistemas associados, como as matas
ciliares, diante do crescimento de empreendimentos hidrelétricos no Brasil.
Segundo o manifesto, a Amazônia é a grande fronteira prevista para este crescimento.
Há aproximadamente dois anos, o governo federal anunciou empreendimentos, diminuindo
em mais de 90 mil hectares algumas grandes Unidades de Conservação da Amazônia.
Um dos casos mais notórios é
o da hidrelétrica de Belo Monte (PA), em região já conflagrada, pela existência
conversão de florestas em pastagens e consequente desmatamento. Na Amazônia, há
também impactos derivados de duas grandes hidrelétricas do rio Madeira (Santo
Antônio e Jirau; RO). No Pantanal, mais de 130 pequenas e médias hidrelétricas estão
previstas ou em construção, em série nas cabeceiras dos rios dos estados do
Mato Grosso do Sul e Mato Grosso.
No sul do Brasil, os planos
da Empresa de Pesquisa Energética (EPE, do MME) para o rio Uruguai preveem pelo
menos 11 barramentos em série, o que causaria perdas da biodiversidade, como o
peixe dourado, que vem desaparecendo na região.
Cientistas apontam a falta
de pesquisas de ecologia e de etnoecologia, a fim de se romper a atual forma de
geração de estudos pontuais e parciais, por consultorias financiadas pelo setor
elétrico, para contemplar o interesse dos mesmos interessados na expansão das
hidrelétricas no País.
Cerca de 2/3 dos projetos de
grandes, médias e pequenas hidrelétricas está incidindo justamente no Mapa
Oficial das Áreas Prioritárias para a Conservação da Biodiversidade (Port. MMA
n. 9, 23/01/2007). O mapa das áreas definidas como de “Extrema Importância”
possui cerca de ¼ dos projetos de hidrelétricas previstos para os próximos
anos.
O manifesto destaca a
necessidade de compromissos governamentais na realização de estudos mais
abrangentes, denominados de Avaliação Ambiental Estratégica (AAE) ou Integrada
(AAI). Estas avaliações mais abrangentes do que os estudos de impacto ambiental
(EIA-RIMA) apresentam metodologias próximas de um zoneamento
ecológico-econômico e resultados de grande importância para os tomadores de
decisão.
Estas metodologias, com base
no Princípio da Precaução, que o Brasil assumiu perante acordos internacionais,
fortalecem a visão inteligente de se avaliar, previamente, as alternativas
locacionais, energéticas e de dimensão de empreendimentos.
Alternativas cada vez mais
viáveis e baratas poderiam gerar muito mais energia elétrica do que hoje se
utiliza no Brasil. Na Alemanha, a energia solar já é responsável por uma
geração de 30GW, descentralizada, maior do que a geração da usina de Itaipu.
Paulo Márcio de Mello
Professor da Universidade do Estado do
Rio de Janeiro (UERJ)
A coluna
EMPRESA-CIDADÃ é publicada, desde 2001, toda quarta-feira,
no centenário
jornal Monitor Mercantil (www.monitormercantil.com.br).
Através dela,
são apresentados casos
de empreendedores e empresas,
pesquisas, resenhas, editais ou agenda, relativos à responsabilidade social, à
sustentabilidade e ao desenvolvimento sustentável.
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