"Uma economia só presta, só faz sentido, só vale a pena se existir para alimentar, educar e empregar as pessoas".
coluna EMPRESA-CIDADÃ
publicada toda quarta-feira
no centenário jornal Monitor Mercantil
em 2 de agosto de 2017
por Paulo Márcio
de Mello*
Betinho
► “Uma
economia só presta, só faz sentido, só vale a pena se existir para alimentar,
educar e empregar as pessoas. As teorias só prestam se servirem para resolver
esses problemas. E todas as empresas, públicas ou privadas, grandes ou
pequenas, só fazem sentido, só valem a pena se contribuírem para construir um
país onde todos possam ter o atendimento de suas necessidades fundamentais”.
Palavras do sociólogo Herbert de Souza, o cidadão Betinho, em 9 de agosto de
2000, na Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, conforme
depoimento de André Spitz.
► Nascido em 3 de novembro
de 1935, Betinho dedicou-se à promoção dos direitos humanos, tendo sido o
criador da Ação da Cidadania contra a Fome , a Miséria e pela Vida e fundador
do Instituto
Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) e da Associação Brasileira
Interdisciplinar de AIDS, além de autor de diversos livros. Sua trajetória e
dos irmãos Henfil e Chico Mário foi retratada no filme Três Irmãos de Sangue,
de Ângela Patrícia Reiniger.
► “Eu nasci para
o desastre, porém com sorte”, dizia Betinho frequentemente. Sorte mesmo teve
quem conviveu com ele.
Angela Davis
Símbolo do ativismo norte
americano pelos direitos civis da população afrodescendente, Angela Davis
esteve no final de julho na Universidade Federal da Bahia (UFBA), para falar sobre
a luta das mulheres em circunstâncias adversas, quando se assiste o crescimento
das forças reacionárias no mundo, com exemplos como a presença de Trump na
presidência dos EUA, das políticas liberais, comprometidas predominantemente
com os interesses do capital financeiro, como a implantada pelo no Brasil e na
Argentina, entre outros.
Professora do Departamento
de Estudos Feministas da Universidade da Califórnia, Angela Davis afirmou que o
movimento das mulheres negras criou “a melhor esperança para o futuro do
Brasil”.
Em sua fala, denominada “Atravessando
o tempo e construindo o futuro da luta contra o racismo”, Angela Davis afirmou “resistiremos
ao racismo, à exploração capitalista, ao hetero-patriarcado, à islamofobia e ao
preconceito contra pessoas com deficiência. Defenderemos o meio ambiente dos
ataques insistentes e predatórios do capital.”
Ela também falou sobre o
movimento “Black Lives Matter” (As Vidas dos Negros Têm importância), que vem
ganhando destaque nos últimos anos pela luta contra a violência policial que
atinge mais incisiva e cotidianamente a população negra. “Sabemos que as
transformações históricas sempre começam pelas pessoas”. Este é o conceito do “Black
Lives Matter”.
Ela também acusou a política
de encarceramento em massa, já que afeta desproporcionalmente a população negra.
“Este é o clamor por formas de justiça que não sejam vingativas. Mulheres
negras são o futuro, a esperança de liberdade. Não reivindicamos inclusão numa
sociedade racista, misógina, patriarcal e capitalista. Afirmamos o feminismo
abolicionista”, disse.
Destacou ainda que “Qualquer
movimento que tenha expectativa de provocar uma mudança duradoura, deveria
reconhecer a importância da comunicação entre diferentes gerações.”
Funk é crime?
Passado cerca de um século, desde que os
primeiros sambistas foram perseguidos, chegou a vez do funk. O Senado do Brasil analisa uma proposta que quer
criminalizar esta concepção popular. A proposta, com 21.985 assinaturas de
apoio, foi enviada pelo webdesigner Marcelo Alonso, paulistano, 47 anos,
morador de um bairro da zona norte da cidade de São Paulo.
A relatoria da proposta ficou com o senador Romário
Faria (PSB-RJ). Desde que atinjam 20 mil assinaturas de apoio, em quatro meses,
intenções dos cidadãos podem se tornar projetos de lei. Depois disso, haverá
audiências públicas no Senado para debater o tema.
A proposta diz apenas que "é fato e de conhecimento
dos brasileiros, difundido inclusive por diversos veículos de comunicação de
mídia e internet com conteúdo podre (sic) alertando a população o poder público
do crime contra a criança, o menor adolescente e a família. Crime de saúde
pública desta 'falsa cultura' denominada funk".
Depois do parecer do senador Romário, o texto deverá
passar por comissões no Congresso e poderá ir à votação, na Câmara, em seguida
no Senado. A proposta legislativa lembra perseguições sofridas por ritmos e
manifestações populares surgidas dentro da comunidade negra, como o samba, a
capoeira e o rap.
O Código Penal de 1890 avisava da possível punição, através
do texto "Fazer nas ruas e praças públicas exercício de agilidade e
destreza corporal conhecida pela denominação de capoeiragem será punida com pena
de prisão celular por dois a seis meses". A capoeira só deixou de ser
crime no governo Vargas, que enxergou na modalidade uma forma de valorizar a
cultura brasileira.
Quanto ao rap, em novembro de 1997, os integrantes da
banda Planet Hemp foram presos por "apologia às drogas", em virtude
das letras sobre consumo de maconha. No ano 2000, a polícia do Rio
"investigou" o clipe Soldado do Morro, do rapper MV Bill, antes mesmo
dele ser lançado. Segundo a polícia, o vídeo fazia "apologia ao
crime".
Paulo Márcio de Mello
* Professor da
Universidade
do Estado do Rio de
Janeiro (UERJ)
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