terça-feira, 1 de agosto de 2017

"Uma economia só presta, só faz sentido, só vale a pena se existir para alimentar, educar e empregar as pessoas".


coluna EMPRESA-CIDADÃ
publicada toda quarta-feira
no centenário jornal Monitor Mercantil

em 2 de agosto de 2017
por Paulo Márcio de Mello*


Betinho

Uma economia só presta, só faz sentido, só vale a pena se existir para alimentar, educar e empregar as pessoas. As teorias só prestam se servirem para resolver esses problemas. E todas as empresas, públicas ou privadas, grandes ou pequenas, só fazem sentido, só valem a pena se contribuírem para construir um país onde todos possam ter o atendimento de suas necessidades fundamentais”. Palavras do sociólogo Herbert de Souza, o cidadão Betinho, em 9 de agosto de 2000, na Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, conforme depoimento de André Spitz.

Nascido em 3 de novembro de 1935, Betinho dedicou-se à promoção dos direitos humanos, tendo sido o criador da Ação da Cidadania contra a Fome , a Miséria e pela Vida e fundador do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) e da Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS, além de autor de diversos livros. Sua trajetória e dos irmãos Henfil e Chico Mário foi retratada no filme Três Irmãos de Sangue, de Ângela Patrícia Reiniger.

“Eu nasci para o desastre, porém com sorte”, dizia Betinho frequentemente. Sorte mesmo teve quem conviveu com ele.

Angela Davis

Símbolo do ativismo norte americano pelos direitos civis da população afrodescendente, Angela Davis esteve no final de julho na Universidade Federal da Bahia (UFBA), para falar sobre a luta das mulheres em circunstâncias adversas, quando se assiste o crescimento das forças reacionárias no mundo, com exemplos como a presença de Trump na presidência dos EUA, das políticas liberais, comprometidas predominantemente com os interesses do capital financeiro, como a implantada pelo no Brasil e na Argentina, entre outros.

Professora do Departamento de Estudos Feministas da Universidade da Califórnia, Angela Davis afirmou que o movimento das mulheres negras criou “a melhor esperança para o futuro do Brasil”.

Em sua fala, denominada “Atravessando o tempo e construindo o futuro da luta contra o racismo”, Angela Davis afirmou “resistiremos ao racismo, à exploração capitalista, ao hetero-patriarcado, à islamofobia e ao preconceito contra pessoas com deficiência. Defenderemos o meio ambiente dos ataques insistentes e predatórios do capital.”

Ela também falou sobre o movimento “Black Lives Matter” (As Vidas dos Negros Têm importância), que vem ganhando destaque nos últimos anos pela luta contra a violência policial que atinge mais incisiva e cotidianamente a população negra. “Sabemos que as transformações históricas sempre começam pelas pessoas”. Este é o conceito do “Black Lives Matter”.

Ela também acusou a política de encarceramento em massa, já que afeta desproporcionalmente a população negra. “Este é o clamor por formas de justiça que não sejam vingativas. Mulheres negras são o futuro, a esperança de liberdade. Não reivindicamos inclusão numa sociedade racista, misógina, patriarcal e capitalista. Afirmamos o feminismo abolicionista”, disse.

Destacou ainda que “Qualquer movimento que tenha expectativa de provocar uma mudança duradoura, deveria reconhecer a importância da comunicação entre diferentes gerações.”

Funk é crime?

Passado cerca de um século, desde que os primeiros sambistas foram perseguidos, chegou a vez do funk. O Senado do Brasil analisa uma proposta que quer criminalizar esta concepção popular. A proposta, com 21.985 assinaturas de apoio, foi enviada pelo webdesigner Marcelo Alonso, paulistano, 47 anos, morador de um bairro da zona norte da cidade de São Paulo.

A relatoria da proposta ficou com o senador Romário Faria (PSB-RJ). Desde que atinjam 20 mil assinaturas de apoio, em quatro meses, intenções dos cidadãos podem se tornar projetos de lei. Depois disso, haverá audiências públicas no Senado para debater o tema.

A proposta diz apenas que "é fato e de conhecimento dos brasileiros, difundido inclusive por diversos veículos de comunicação de mídia e internet com conteúdo podre (sic) alertando a população o poder público do crime contra a criança, o menor adolescente e a família. Crime de saúde pública desta 'falsa cultura' denominada funk".

Depois do parecer do senador Romário, o texto deverá passar por comissões no Congresso e poderá ir à votação, na Câmara, em seguida no Senado. A proposta legislativa lembra perseguições sofridas por ritmos e manifestações populares surgidas dentro da comunidade negra, como o samba, a capoeira e o rap.

O Código Penal de 1890 avisava da possível punição, através do texto "Fazer nas ruas e praças públicas exercício de agilidade e destreza corporal conhecida pela denominação de capoeiragem será punida com pena de prisão celular por dois a seis meses". A capoeira só deixou de ser crime no governo Vargas, que enxergou na modalidade uma forma de valorizar a cultura brasileira.

Quanto ao rap, em novembro de 1997, os integrantes da banda Planet Hemp foram presos por "apologia às drogas", em virtude das letras sobre consumo de maconha. No ano 2000, a polícia do Rio "investigou" o clipe Soldado do Morro, do rapper MV Bill, antes mesmo dele ser lançado. Segundo a polícia, o vídeo fazia "apologia ao crime".

Paulo Márcio de Mello
* Professor da Universidade
do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)


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