Educação (II)
O Brasil não dispõe de um Plano Nacional de Educação
desde 2011, quando o anterior expirou. O Congresso discute uma proposta
contendo 21 metas. Com passos de formiga...
blog do professor paulo márcio
economia&arte
Quarta-feira, 19 de
fevereiro de 2014
EMPRESA-CIDADÃ
por Paulo
Márcio de Mello*
u Um novo Plano Nacional de Educação (PNE)
está em tramitação no Congresso Nacional, com 21 metas propostas para serem
cumpridas em dez anos. Aprovado no Senado, no finalzinho do ano passado, o
plano volta à Câmara dos Deputados para a apreciação das emendas com que os
senadores modificaram o texto inicial. Como não poderia deixar de ocorrer em
matéria como esta, a nova versão é objeto de críticas. Entre as mais
eloquentes, estão aquelas formuladas pelos movimentos de educação, denunciando
o viés privatizante do texto aprovado no Senado.
u Entre os aspectos privatizantes mais
criticados do novo plano estão aqueles relacionados ao Fies, que facilita o
financiamento das mensalidades pagas por estudantes a instituições privadas de
ensino, e ao Prouni, que disponibiliza a oferta de bolsas de estudo em
universidades particulares. No texto em discussão, estes dispêndios seriam
classificados como gasto público, inflando o dispêndio educacional, como se
fosse público, quando não é de fato.
u São os seguintes os 21 temas propostos
pelo PNE e metas correspondentes. (01) Educação infantil (expansão da creche e
universalização da pré-escola); (02) Ensino fundamental (a universalização do
acesso e conclusão na idade certa); (03) Ensino médio (a universalização do
acesso e matrícula na idade certa; (04) Educação especial (a universalização do
acesso e atendimento educacional especializado para alunos com deficiência,
transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação;
(05) Alfabetização na idade certa (considerada como tal a de 8 anos, 7 anos e,
ao final do plano, 6 anos; (06) Educação em tempo integral (em 50% das escolas
e para 25% dos alunos da educação básica); e (07) Qualidade da educação básica
(alcançar a melhoria do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica - IDEB).
u Outras temas propostos pelo PNE e metas
correspondentes são, (08) Elevação da escolaridade de jovens de 18 a 29 anos e
diminuição da desigualdade educacional (rural, Norte/Nordeste, e os 25% mais
pobres); (09) Erradicação do analfabetismo e redução do analfabetismo funcional
em 50%; (10) Educação de jovens e adultos integrada à educação profissional
(25% das matrículas do ensino fundamental e médio); (11) Educação profissional
de nível médio (triplicar matrículas e assegurar 50% de vagas gratuitas); (12)
Educação superior (expansão do acesso, especialmente entre a população de 18 a
24 anos); (13) Qualidade da educação superior e titu lação do corpo docente
(atingir 75% de mestres e doutores, sendo 35% de doutores); e (14) Expansão da
pós-graduação (atingir 60 mil mestres e 25 mil doutores, anualmente).
u Finalmente, os temas e as metas propostas
pelo PNE, compreendem (15) Formação de profissionais da educação, de forma
inicial e continuada; (16) Formação de professores da educação básica, de forma
continuada e incrementando a pós graduação; (17) Valorização dos profissionais
do magistério público (equiparar a remuneração aos demais profissionais); (18)
Carreira dos profissionais da educação básica e superior (valorizar planos e
piso salarial); (19) Gestão democrática do ensino público básico e superior;
(20) Investimento público em educação (equivalente a 10% do PIB); e finalmente,
(21) Estimular a Produção Cientí ;fica (alcançando 4 doutores, por grupos de
mil habitantes).
u Na poeira da mobilização popular
deflagrada em junho de 2013, o Congresso Nacional aprovou, em setembro, a
aplicação de 75% dos royalties do petróleo em educação. Isto não assegura, no
entanto, uma das propostas críticas do novo plano, de elevar os dispêndios em
educação para 10% do PIB. De acordo com a UNESCO, atualmente, o país aplica
5,9%.
u Indicadores adotados para medir o
dispêndio em educação também estão sob a luz das críticas. O montante do valor
absoluto gasto é preterido em outros países, em benefício de indicadores como o
do gasto por aluno. Ademais, o tamanho do dispêndio não pode ser utilizado como
uma "cortina de fumaça" que esconde a qualidade.
u Outras exclusões criticadas no texto
aprovado no Senado referem-se a novas fontes de financiamento aprovadas pela
Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado. Recaem sobre 50% do bônus de
assinatura dos contratos de partilha de produção de petróleo e gás e pelo menos
25% dos recursos das compensações financeiras da União, estados, Distrito
Federal e municípios, para exploração mineral e de recursos hídricos usados
para geração de energia elétrica.
u O texto aprovado no Senado também
negligenciou as metas aprovadas na Comissão de Educação, de reservar 40% das
vagas nas instituições públicas de ensino superior e 50% das vagas no ensino
profissionalizante para alunos originários de escolas públicas.
u Como 2014 é um ano eleitoral, é provável
que o Congresso prefira o ruído da Copa do Mundo de Futebol da FIFA,
negligenciando os debates que revelam a importância subalterna atribuída à
educação em nosso país. Há cerca de três anos, o país não dispõe de um
plano nacional de educação, visto que o anterior expirou em 2011. Com certeza,
o Brasil não passaria tanto tempo sem uma seleção de futebol.
Paulo Márcio de Mello
paulomm@paulomm.pro.br
Professor da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)
A coluna EMPRESA-CIDADÃ é publicada, desde 2001,
toda quarta-feira,
no centenário jornal Monitor Mercantil (www.monitormercantil.com.br).
Através
dela, são apresentados casos de
empreendedores e empresas,
pesquisas,
resenhas, editais ou agenda, relativos
à responsabilidade social, à sustentabilidade e ao desenvolvimento sustentável.
Em tempos de eleição / inflação, pão e copa para enganar o povo. Aproveitando cada oportunidade para acorrentá-lo cada vez mais aos grilhões das dúvidas. Talvez com os votos abertos, e entrando em votação, poderiamos ver o caminho que os dirigentes estão nos apontando.
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