quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Uma banana para o preconceito
                                                             
As maiores empresas  brasileiras negligenciam
a participação de negros e de mulheres nos cargos mais altos.
E nos de outros níveis também.

blog do professor paulo márcio
economia&arte

coluna EMPRESA-CIDADÃ
Quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015
Paulo Márcio de Mello*

u      Entre as funções executivas das 500 maiores empresas brasileiras, 93,3% são exercidas por brancos. Negros exercem 5,3% das funções executivas. O conceito reúne "pardos", que ocupam 5,1% destas funções e "pretos", que exercem 0,2% das funções (totalizando assim 5,3%. O restante é exercido por amarelos).

u     Os números já foram piores. Em 2001, 95,2% das funções executivas nas maiores empresas eram desempenhadas por brancos e 2,6% por negros. Apesar das alterações, não se pode concluir pela manifestação de qualquer mudança estrutural neste cenário.

u    São números divulgados pelo Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social e Ibope Inteligência, em 2010, ano em que o Instituto Ethos publicou a quinta e mais recente edição do "Perfil Social, Racial e de Gênero das 500 Maiores Empresas do Brasil e Suas Ações Afirmativas" (disponível em http://www1.ethos.org.br/EthosWeb/arquivo/0-A-eb4Perfil_2010.pdf), com base na relação das empresas classificadas na publicação "Melh ores e Maiores 2009", editada pela revista Exame.

u      No plano gerencial, 84,7% das funções foram ocupadas por brancos e 13,2% por negros, sendo 11,6% por pardos e 1,6% por pretos. O restante das funções gerenciais foi ocupado por amarelos (1,9%) e indígenas (0,2%). Nas funções de supervisão, observa-se que 73,0% foram ocupadas por brancos, 22,5% por pardos e 3,1% por pretos (portanto, os negros totalizam 25,6% das funções de supervisão). O restante foi ocupado por amarelos (1,3%) e indígenas (0,1%).

u    Observadores da realidade brasileira, os autores do samba enredo do Grêmio Recreativo Escola de Samba Imperatriz Leopoldinense, do Rio de Janeiro, no carnaval de 2015, Marquinho Lessa, Adriano Ganso, Zé Catimba, Jorge Finge e Aldir Senna, conclamam "...A luz dentro de você acenda!"

u    O quadro funcional das empresas observadas era composto por 67,3% de brancos, 31,1% de negros (24% pardos e 7,1% pretos), 1,3% de amarelos e 0,3% de indígenas. Na composição da população brasileira, conforme o Censo 2010, há cerca de 82 milhões de pardos (43,1% do total) e 15 milhões de pretos (7,6%). Negros totalizam, portanto, 91 milhões (50,7% do total da população). Apesar de representarem a segunda maior população negra do mundo (atrás apenas da Ni géria), observa-se uma acentuada assimetria entre os 31% que compõem o quadro funcional das maiores empresas e os 50,7% que fazem a maioria da população.

u   A sabedoria no samba revela-se ainda mais quando canta que "A voz do vento vem prá nos contar que na Mãe África nasceu a vida. / Pura magia, 'baobá abençoado ... tanta riqueza no triângulo sagrado / Mistérios! Grandeza! O homem em comunhão com a natureza! / Tristeza e dor, na violência pelas mãos do invasor."

u  Planos, projetos ou objetivos de transformação da cena são praticamente inexistentes, apesar de se tratar do elenco de empresas com maior poder de impacto. Apenas 3% das empresas que responderam à pesquisa revelaram dispor de metas para alterar este cenário de iniquidade...

u   E continua o samba, na sua sábia interpretação da realidade ou proposta de destino. "Vamos louvar o canto da massa / Unindo as raças pelo respeito... / Vamos lutar pelos direitos! / Uma banana para o preconceito! / Mandela! Mandela! / Num ritual de liberdade... / Lá vem a Imperatriz! Eu vou com ela! / Eu sou Madiba! Sou a voz da igualdade!

Paulo Márcio de Mello
Professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

A coluna EMPRESA-CIDADÃ é publicada, desde 2001, toda quarta-feira,
no centenário jornal Monitor Mercantil (www.monitormercantil.com.br).
São mais de 600 edições apresentando casos de empreendedores e empresas,
pesquisas, resenhas, editais ou agenda, relativos à sustentabilidade,
à responsabilidade social e ao desenvolvimento sustentável.

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