Uma banana para o preconceito
As maiores empresas brasileiras negligenciam
a participação de
negros e de mulheres nos cargos mais altos.
E nos de outros
níveis também.
blog do professor paulo márcio
economia&arte
coluna EMPRESA-CIDADÃ
Quarta-feira, 18 de
fevereiro de 2015
Paulo Márcio de Mello*
u Entre as funções executivas das 500 maiores empresas
brasileiras, 93,3% são exercidas por brancos. Negros exercem 5,3% das funções
executivas. O conceito reúne "pardos", que ocupam 5,1% destas funções
e "pretos", que exercem 0,2% das funções (totalizando assim 5,3%. O
restante é exercido por amarelos).
u Os números já foram piores. Em 2001, 95,2% das funções
executivas nas maiores empresas eram desempenhadas por brancos e 2,6% por
negros. Apesar das alterações, não se pode concluir pela manifestação de
qualquer mudança estrutural neste cenário.
u São números divulgados pelo Instituto Ethos de Empresas e
Responsabilidade Social e Ibope Inteligência, em 2010, ano em que o Instituto
Ethos publicou a quinta e mais recente edição do "Perfil
Social, Racial e de Gênero das 500 Maiores Empresas do Brasil e Suas Ações
Afirmativas" (disponível em
http://www1.ethos.org.br/EthosWeb/arquivo/0-A-eb4Perfil_2010.pdf), com base na
relação das empresas classificadas na publicação "Melh ores e
Maiores 2009", editada pela revista Exame.
u No plano gerencial, 84,7% das funções foram ocupadas por
brancos e 13,2% por negros, sendo 11,6% por pardos e 1,6% por pretos. O
restante das funções gerenciais foi ocupado por amarelos (1,9%) e indígenas
(0,2%). Nas funções de supervisão, observa-se que 73,0% foram ocupadas por
brancos, 22,5% por pardos e 3,1% por pretos (portanto, os negros totalizam
25,6% das funções de supervisão). O restante foi ocupado por amarelos (1,3%) e
indígenas (0,1%).
u Observadores da realidade brasileira, os autores do samba
enredo do Grêmio Recreativo Escola de Samba Imperatriz Leopoldinense, do Rio de
Janeiro, no carnaval de 2015, Marquinho Lessa, Adriano Ganso, Zé Catimba, Jorge
Finge e Aldir Senna, conclamam "...A luz dentro de você acenda!"
u O quadro funcional das empresas observadas era composto por
67,3% de brancos, 31,1% de negros (24% pardos e 7,1% pretos), 1,3% de amarelos
e 0,3% de indígenas. Na composição da população brasileira, conforme o Censo
2010, há cerca de 82 milhões de pardos (43,1% do total) e 15 milhões de pretos
(7,6%). Negros totalizam, portanto, 91 milhões (50,7% do total da população).
Apesar de representarem a segunda maior população negra do mundo (atrás apenas
da Ni géria), observa-se uma acentuada assimetria entre os 31% que compõem o
quadro funcional das maiores empresas e os 50,7% que fazem a maioria da
população.
u A sabedoria no samba revela-se ainda mais quando canta que
"A voz do vento vem prá nos contar que na Mãe África nasceu a vida. / Pura
magia, 'baobá abençoado ... tanta riqueza no triângulo sagrado / Mistérios!
Grandeza! O homem em comunhão com a natureza! / Tristeza e dor, na violência
pelas mãos do invasor."
u Planos, projetos ou objetivos de transformação da cena são
praticamente inexistentes, apesar de se tratar do elenco de empresas com maior
poder de impacto. Apenas 3% das empresas que responderam à pesquisa revelaram
dispor de metas para alterar este cenário de iniquidade...
u E continua o samba, na sua sábia interpretação da realidade ou
proposta de destino. "Vamos louvar o canto da massa / Unindo as raças pelo
respeito... / Vamos lutar pelos direitos! / Uma banana para o preconceito! /
Mandela! Mandela! / Num ritual de liberdade... / Lá vem a Imperatriz! Eu vou
com ela! / Eu sou Madiba! Sou a voz da igualdade!
Paulo Márcio de Mello
Professor da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)
A coluna EMPRESA-CIDADÃ
é publicada, desde 2001, toda quarta-feira,
no centenário
jornal Monitor Mercantil (www.monitormercantil.com.br).
São mais de 600
edições apresentando casos
de empreendedores e empresas,
pesquisas,
resenhas, editais ou agenda, relativos
à sustentabilidade,
à responsabilidade social e ao
desenvolvimento sustentável.
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