ARNOLD
O famoso ator, empresário, político e fisiculturista Arnold Schwarzenegger (dos fimes da grife "O Exterminador do Futuro",
Gêmeos (com Denny deVito, Um tira no jardim de infância, True Lies, e muitos
outros, esteve no Brasil em outubro passado e muitos outros,
esteve no Brasil em outubro passado e muito
se falou sobre as suas ocupações. O que poucos chegaram a saber da história de
Arnold é que ele governou o estado da Califórnia, o mais rico estado norteamericano,
com um PIB que supera os das economias da Rússia, da Índia e do Brasil.
coluna Empresa-Cidadã
quarta-feira, 12 de
novembro
por Paulo Márcio de Mello
■ Há, na prática política dos EUA, uma
instituição raramente acionada no Brasil, da chamada democracia direta, em que
no dia das eleições as pessoas opinam sobre vários aspectos que afetam as suas
vidas, através de plebiscitos ou referenduns, como maioridade penal,
legalização do aborto, etc. além da mera eleição do político que vai suceder
outro político pelos próximos anos. E há a eleição revogatória, verdadeiro
recall que permite aos eleitores retirar pelo voto um político antes eleito, e
que tenha desagradado a maioria da população, uma verdadeira
"deseleição". Com Arnold foi assim. A Califórnia também tem grandes
empresas e empresários dispostos a meter a mão no bolso e, dessa forma, impor a
sua "força política"
■ A estratégia de Arnold no
primeiro processo eleitoral de que participou (2003-2006), aliava o estímulo a
uma votação de emenda popular que limitasse a carga tributária sobre bens
imobiliários e uma proposta de forte cunho ambiental - a instalação de um
milhão de telhados solares, junto à emissão de títulos públicos em montante
superior a US$ 10 bi, para alcançar as metas, com o orçamento público
equilibrado.
■ A plataforma eleitoral
somava a proibição nas escolas de refrigerantes e de alimentos sem valor
nutritivo, a reforma do sistema de seguros e indenizações trabalhistas, a
emissão de US$ 68 bi em títulos públicos para financiar investimentos em
infraestrutura de transporte ferroviário, comunicação, geração de energia, etc.
■ Incluía também algumas
medidas populares, como a do cancelamento da taxa de emplacamento de veículos
automotores. Na educação, uma medida de impacto. Quase metade do orçamento era
direcionado para o “K-14”, que corresponde à transição entre o ensino médio e
superior (lá chamado de superior básico e que nada destinava à construção de
escolas, nem para a emenda popular, tratada como Proposta98, da Lei de Melhoria
Educacional e da Responsabilidade em Sala de Aula. Esta proposta garantia o
orçamento da educação, independentemente de aumentos orçamentários prévios,
como forma de levar a Assembléia Legislativa a se concentrar em questões
sociais, como a do financiamento da educação e de programas extra-curriculares.
■ A tradição da Califórnia
nas práticas da democracia direta remonta ao governador Hiram Johnson
(1911-1917), empenhado em reduzir o poder do legislativo corrupto, então
submetido ao cartel de empresas ferroviárias, cuja expressão mais célebre
ocorreu na reforma fiscal de 1978, quando os eleitores aprovaram a Proposta 13,
uma proposta de origem popular que se tornou emenda constitucional para aliviar
a carga tributária sobre bens imobiliários.
■ Uma pesquisa constatou que
a maior parte dos delitos cometidos por jovens era cometida entre 15h e 18h, o
que foi interpretado como uma oportunidade para a implantação de programas
extra-curriculares, como se tornaram os Inner City Games, através de uma emenda
popular, a Proposta 49, ou Lei do Programa de Educação e Segurança, de 2002,
uma coalizão de professores, câmaras de comércio, agentes de segurança pública
e outros e que reuniu mais de US$ 1 mi, doados por Jerry Perrenchio, dono da TV
em espanhol, UNIVITION.
■ O novo governador Arnold
transformou a votação popular de um milhão de telhados solares em lei, em
setembro de 2003, gerando US$ 2,9 bi para os californianos equiparem as suas
casas com energia solar. Estímulo à inovação, à criação de empregos e à
incorporação de 3mil megawatts em energia limpa, em 10 anos, bastante para
fechar seis usinas a carvão, em afirmação do investimento ambiental como
gerador de empregos e não como custo social, como até então muitos acreditavam.
O orçamento estadual foi aprovado com a subscrição de títulos públicos da ordem
de US128 bi, dos quais US2 bi, para a amortização da dívida pública, possível
pelo correspondente aumento da receita fiscal.
■ A ousada resposta da
Califórnia para a questão do aquecimento global incluiu metas drásticas de
redução das emissões de gases, de 30% até 2020 e de 80%, até 2050, calculadas
sobre os dados de 1990. A lei, como uma compensação pela omissão do governo do
presidente George W. Bush em subscrever o Protocolo de Kyoto, foi mais
abrangente e influenciou o sistema de transporte público, o plantio de mais de
um milhão de novas árvores e investimentos significativos em fontes
alternativas de energia. Logo atrás do Texas, a Califórnia é o estado
norte-americano que mais emite gases causadores do efeito estufa nos EUA, daí
ter se proposto um caminho diferente daquele oferecido pelo Congresso Nacional
e pelo presidente Bush. Gray Davis, governador que antecedeu Arnold já havia
promulgado uma lei, obrigando os fabricantes de veículos automotores a aumentar
a eficiência média no uso de combustível, de 11,5km/l, para 15 km/l, a partir
da constatação de que 40% das emissões dos gases causadores do efeito estufa
vêm do uso de veículos.
■ A Agência federal de
proteção ambiental do governo americano (EPA é a sigla em inglês), interferiu,
impedindo a implementação da lei, porém. Os fabricantes de automóveis se uniram
então, para processar o governo da Califórnia e o próprio governador Arnold.
■ Em 2009, no entanto, quando
o presidente Obama foi empossado, ele adotou o padrão californiano e o cartel
de fabricantes de automóveis assinou um acordo que obrigou a melhoria de 40% na
eficiência do combustível, contra os então 10,6km/l.
A Califórnia somou ao seu
programa de sustentabilidade a promoção do "Obamacare" a reforma mais
inclusiva do sistema de saúde da História dos EUA.
■ Por meio de uma proposta de
consulta popular, foi aprovada também uma 'contra-malandragem' do sistema de
voto distrital, que resultou numa fixação dos limites distritais, antes
alterados pelos deputados eleitos, de forma a tornar inevitáveis as reeleições,
através da constante mudança de limites dos distritos.
■ O combate à violência de
gangues juvenis e o financiamento às pesquisas com células tronco, obstadas
pelo presidente Bush, e a assinatura de uma aliança pelo clima com a província
canadense de Ontário, estrategicamente situada em frente à Detroit, do outro
lado da fronteira foram conquistas à época.
■ A tragédia do Katrina, em
2005, com a fracassada resposta do governo federal, levou também à criação de
um plano para a prevenção de desastres.
Geologicamente, o território
da Califórnia tem as carcterísticas de 'mar interior'. O sistema de diques é
antigo e vulnerável. Considerando que 'toda emergência é local', Arnold
investiu também em um plano de emergências.
■ E Arnold reelegeu-se para o
período 2007- 2011, apesar de ter caído em armadilhas políticas também. Casado
com uma Kennedy, envolveu-se em um rumoroso e caro divórcio por ter tido um
filho com uma empregada e se calado.
Paulo Márcio de Mello
Professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)
A coluna EMPRESA-CIDADÃ é publicada, desde 2001, toda quarta-feira,
no centenário jornal Monitor Mercantil (www.monitormercantil.com.br).
São mais de 600 edições apresentando casos de empreendedores e empresas,
pesquisas, resenhas, editais ou agenda, relativos à sustentabilidade, à responsabilidade social e ao desenvolvimento sustentável.
Engraçado como a grande mídia americana faz do ex-governdor uma caricatura de político paspalhão, porém o que se viu foi um político de viés moderno focado em alguns dos maiores problemas americanos da atualidade: O alto custo do ensino superior, alta taxa de emissão de poluentes e a obesidade. Coisa bem americana essa execração por coisas de cunho pessoal.
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