A refloresta
Uma lição de otimismo oferecida por seis escravos,
a (re) Floresta da Tijuca.
Quarta-feira, 12 de junho de 2013
blog do professor paulo márcio
economia&arte
Quarta-feira, 12 de junho de 2013
coluna Empresa-Cidadã
por Paulo Márcio de Mello
por Paulo Márcio de Mello
► Eleutério,
Constantino, Mateus, Leopoldo, Maria e o menino Manuel plantaram mais de 100
mil árvores, na Floresta da Tijuca, entre 1861 e 1874. Também a estes escravos,
o Rio de Janeiro deve o título atribuído pela UNESCO, há um ano, de primeira cidade Patrimônio Mundial da Humanidade, como Paisagem
Cultural Urbana.
► O pleito de
se tornar cidade Patrimônio Mundial da Humanidade foi apresentado à UNESCO em
2002. Após sucessivas correções, o
projeto coordenado pela arquiteta Cristina Lodi, concertou diversas
instituições, até a indicação da cidade na categoria de paisagem cultural, pelo
cenário urbano constituído por elementos naturais, modificados pela intervenção
humana.
► São exemplos
desta forma de intervenção a entrada da Baía de Guanabara, com a presença de fortificações
militares, dos morros do Pão de Açúcar e Cara de Cão, marcos da fundação da
cidade em 1º de março de 1565, da enseada de Botafogo e da orla de Copacabana.
► Citando a inspiração que o Rio proporciona a
músicos, paisagistas e urbanistas, o comitê do Patrimônio
Mundial da Humanidade da
UNESCO contemplou também o Jardim Botânico, criado em 1808 por D. João VI, o
morro do Corcovado, com a estátua do Cristo Redentor, uma das sete maravilhas
do mundo moderno, inaugurada em 1931, e o entorno montanhoso da Baía de
Guanabara, que abriga paisagens urbanas, além da Floresta da Tijuca.
► A Floresta da
Tijuca, na verdade “re-floresta”, é um caso de sustentabilidade realizado entre
1861 e 1872. Desde o século XVII, a região vinha sendo devastada pela extração
de madeira para lenha e carvão, fonte de energia dos engenhos, bem como para
construções e para exportação dirigida à Europa. No século XIX a devastação foi
radicalizada, com a monocultura do café, acarretando severos problemas sociais
e ambientais, como o da escassez de água, pela destruição das matas protetoras
das nascentes.
► Quatro
grandes secas assolaram o Rio na primeira metade do século XIX. Com uma
população de cerca de 400 mil pessoas e uma demanda de 60 milhões de litros de
água por dia, a oferta da cidade caiu, não passando de oito milhões.
► Em 1861, o
imperador Pedro II ordenou ao major da polícia militar Manuel Gomes Archer, com
os escravos Eleutério, Constantino, Mateus, Leopoldo, Maria e o menino Manuel,
plantar mais de 100 mil mudas de árvores nativas, no que hoje é o Parque
Nacional da Tijuca, uma área com pouco mais de 39 km2, equivalentes
a 3,5% da área da cidade do Rio de Janeiro. O trabalho foi concluído com o
comando do Barão Gastão Luiz Henrique de Robert d'Escragnolle.
► O planejamento
do reflorestamento começou a ser posto em prática em 1854, com a desapropriação
de terrenos, sítios e outras propriedades localizadas nas áreas de nascentes.
Desde 1844, o imperador dava ordens para ações policiais de repressão aos
desmatamentos, mas os poderosos cafeicultores resistiam e os coletores de
impostos consentiam.
► Este é um
exemplo para graves desafios ambientais contemporâneos. Declarada Patrimônio
Natural Mundial, como Reserva da Biosfera, em 1991, pela UNESCO, a Floresta da
Tijuca é frequentemente chamada de maior floresta urbana do mundo. Na verdade,
a re-Floresta da Tijuca é menor do que outra floresta existente na própria
cidade do Rio de Janeiro, a do Maciço da Pedra Branca.
► Com cerca de
125 km2, portanto quase 4 vezes maior do que a Floresta da Tijuca, a
floresta foi transformada em área de proteção ambiental, em 1988, com a criação
do Parque Estadual da Pedra Branca. No entanto, continua sofrer com ações de
ocupação irregular, extração ilegal de madeira, perda de biodiversidade e
redução na disponibilidade de água. Eleutério, Constantino, Mateus, Leopoldo,
Maria e o menino Manuel, hoje apenas estátuas na entrada do Centro de
visitantes do Parque Nacional da Tijuca, fazem falta.
► Às vezes, me
pergunto o que seria do governante que hoje anunciasse a instalação de uma
imagem religiosa no alto de uma montanha, como a do Cristo Redentor do
Corcovado, ou de um teleférico ligando dois morros, para fins exclusivamente
contemplativos. Aí estão os “bondinhos” do Pão de Açúcar, porém.
► Ou como seria
uma licitação para reflorestar 39km2 de uma área como a da Floresta
da Tijuca. De que brechas na legislação se aproveitariam as empreiteiras de
sempre, para aditar contratos milionários de licitações de cartas marcadas? E
pensar que a refloresta foi restabelecida por seis escravos, comandados por um
major...
paulo márcio de mello
paulomm@paulomm.pro.br
professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)
paulomm@paulomm.pro.br
professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)
A coluna EMPRESA-CIDADÃ é publicada, desde 2001,
toda quarta-feira, no jornal Monitor Mercantil (www.monitormercantil.com.br).
Através dela, são apresentados conceitos relativos à responsabilidade
social,
casos de empreendedores e empresas, pesquisas, resenhas ou agenda.
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Não é segredo para ninguém que o Rio de Janeiro é lindo e que ocupa posição privilegiada no que diz respeito ao turismo, mesmo que potencialmente (Ainda não explorado, de fato).
ResponderExcluirMas nos deparamos com problemas diários de desmatamento de nossas florestas, liberação por parte do Estado para que pessoas com boa condição financeira levante suas suntuosas mansões em lugares que são, ou deveriam ser, preservados.
Tivemos um caso mais recente da liberação de uma área de proteção ambiental para construção de uma casa de Luciano Huck e até agora nada foi feito contra esse crime ambiental.
Outros exemplos podem ser visto no Bairro de Santa Teresa, Bairro tombado, onde o interesse do capitalista sobrepõem os interesses dos moradores. Áreas inteiras floresta a dentro são devastadas com o único intuito de se construir uma casa.
A questão ambiental em nosso Estado precisa ser melhor discutida e mais respeitada.
É de fato importante o reflorestamento, mas os governantes focam erradamente considerando isso mais como paisagem do que um fator ecológico importante. Interessante o texto demonstrando quanto tempo faz que um governante se importou em reflorestar.
ResponderExcluirAchei brilhante a história da Floresta da Tijuca, confesso que até finalizar a leitura desse texto eu não à conhecia.
ResponderExcluirEssa história nos mostra o quão atrasados estamos em comparação ao século XIX. Naquela época o conhecimento sobre as consequências da devastação ambiental era inferior ao de hoje, e a preocupação maior. Parece que quanto mais informações e aprendizado temos, menos inteligentes ficamos.
Numa era como a de hoje, onde o processo de reflorestamento se daria de uma forma mais rápida graças ao avanço da tecnologia e automatização, é triste saber que há trinta milhões de hectares no Brasil de área que precisa ser reflorestada, incluindo APP - Área de Preservação Permanente - e reserva legal. (Estimativa do Ministério do Desenvolvimento Agrário).
Prefere-se ocupar e extrair madeira de áreas de preservação ambiental à replantar e reconstituir a biodiversidade da flora e da fauna que tanto bem nos fazem.
Me pergunto até quando o dinheiro vai ser o bem mais precioso para o ser humano?
Não há como negar que, sem a pressão de um imperador, dificilmente algo parecido aconteceria nos dias de hoje. Certamente a cidade do Rio de Janeiro seria outra, teríamos outro perfil urbanístico e talvez até social.
ResponderExcluirInteressante é procurar quantificar o impacto econômico de uma floresta urbana. Em um documento do U.S. Department of Agriculture, "Urban & Community Forestry, a Guide for the Interior Western United States"( http://www.fs.fed.us/psw/programs/uesd/uep/products/cufr_195_REF90_57.PDF) cita na página 17 que “negócios florescem, pessoas permanecem mais, compram mais, o turnover de imóveis aumenta, inquilinos ficam mais tempo, os valores das propriedades crescem, e novos negócios e industrias são atraídos pelas árvores”. O efeito físico da área arborizada – sombra (regulação de calor), controle de umidade, vento, erosão, resfriamento por evaporação, a triagem visual e sonora, controle de tráfego, a absorção de poluição e chuva, tudo pode ser traduzido em benefícios econômicos.
Sim, devemos muito mais que podemos quantificar aos escravos Eleutério, Constantino, Mateus, Leopoldo, Maria e o menino Manuel. O Rio não seria o Rio sem seu trabalho árduo.
Atualmente a floresta da Tijuca corre risco. As pessoas passam por ali todos os dias, mas não percebem a importância da floresta e o risco que ela corre. A prefeitura do Rio quer discutir o futuro, as mudanças climáticas para daqui a cem anos. Mas a minha preocupação é que as mudanças já começaram há um século. E se aceleraram ainda mais nas últimas cinco décadas. Mudanças no regime de distribuição de chuvas, no crescimento das cidades pressionando o remanescente de floresta. Na cidade do Rio de Janeiro nós temos um remanescente razoável, apesar de toda a pressão urbana sobre as encostas dos maciços montanhosos costeiros: o da Tijuca, o da Pedra Branca e o do Mendanha.
ResponderExcluirA verdade é que muitas ações sustentáveis por parte do governo acabam corrompidas pelas iniciativas privadas, que se aproveitam para lucrar em cima de atitudes que deveriam ser em benefício geral da sociedade. É claro que isso só ocorre devido a cultura da corrupção instalada na nossa, e em tantas outras, sociedades.
ResponderExcluirSe com apenas alguns escravos e um major foram plantadas mais de 100mil árvores, imagina com a tecnologia e as facilidades de hoje quanto nós conseguiríamos re-florestar, se não fôssemos tão corruptos e ávidos por lucro !
Em uma sociedade onde se pode comprar tudo, políticos, licitações entre outros, comprar uma parte da floresta para construção de casas, entretenimento e outros não seria uma coisa impossível. Em uma sociedade onde a corrupção prevalece as políticas sustentáveis se tornam cada vez mais difíceis, uma vez que não sejam interesse das pessoas certas, fica cada vez mais propicio a construção de mais "bondinhos" e mais "cristos" do que reflorestamente em si.
ResponderExcluirPor incrível que pareça, o imperador D. Pedro II era mais republicano e democrata do que os que o sucederam. Suas obras e realizações, como a Floresta da Tijuca, deveriam servir de inspiração para os governantes atuais, que não tem nenhum interesse em servir à Nação, só em garantir a todo custo seus cargos e privilégios, garantir a vitória na próxima eleição e deixar os revezes de suas "administrações" para o próximo que vier.
ResponderExcluirÉ muito lindo ver quantas maravilhas naturais o Estado do Rio tem mas, ao mesmo tempo, é triste perceber o quanto o homem tem agredido a natureza do Rio de Janeiro. Com o passar do tempo, cada vez mais o homem desmata e polui a natureza afim de atingir os seus objetivos econômicos e/ ou por simplesmente falta de educação. Eu fico sem entender como que o homem não percebe que desmatar e poluir faz mal a si próprio e as pessoas que o cercam. Parece que cada vez mais as pessoas perdem a sensibilidade pela vida e simplesmente esquecem das consequências de suas ações. Fico muito feliz por saber que a Floresta da Tijuca apresenta uma história tão bonita. Fico mais feliz ainda por perceber que se poucas pessoas conseguiram reflorestar uma área tão bonita, muitas pessoas poderão ainda fazer o seu papel, no dia a dia, para se ter uma natureza melhor e com isso, um mundo mais saudável. Mas sei, que para isso é preciso que realmente haja conscientização por parte do governo, além disso que haja fortes repressões contra as pessoas que continuam agredindo a natureza. Tem que reprimir, o governo tem que fazer o seu papel pois, a natureza não aguenta mais!
ResponderExcluirUm ponto importante que esse texto nos traz a mente é a questão do reflorestamento, da preocupação com o meio ambiente que é tão excessivamente abordado hoje em dia, porém tão poucos atos são realmente feitos e com certeza nenhum comparado a esse, que foi feito em 1861 por apenas 6 escravos, o que demonstra também o poder que um líder com o objetivo de ajudar a sociedade de algum modo possui. E em plena era digital, dotada de todos seus artifícios, um ato no mínimo parecido seria improvável, por muitos fatores, mas também pelos líderes que possuímos que dizem “não possuir recursos" para melhoria da qualidade de vida da população.
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