sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Só vendo ...
                                                                                                               
Pode um banco adotar boas práticas de responsabilidade socioambiental por força de lei? O Banco Central acha que sim.

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economia&arte


Quarta-feira, 4 de junho de 2014
Coluna EMPRESA-CIDADÃ
Paulo Márcio de Mello*


u      Em 2013, o banco Itaú e o Banco do Brasil registraram os maiores lucros líquidos contábeis da história dos bancos brasileiros, chegando a R$15,7 bilhões e R$15,8, respectivamente. Foram seguidos pelo banco Bradesco, com R$12 bilhões, e pelo banco Santander, com R$5,7 bilhões. Apesar do “pibinho”, da crise, e de outros males, 2013 foi um ano bom, o melhor deles para os bancos.

u      Talvez por este cenário, o Conselho Monetário Nacional e o Banco Central tenham decidido que os bancos se tornem socialmente responsáveis na marra e tenham editado a Resolução 4.327/14, que as instituições financeiras e outras instituições por eles reguladas aprovem e iniciem a implantação da Política de responsabilidade socioambiental (PRSA), até 28 de fevereiro de 2015.

u      Por que então, no ranking das dez empresas com o maior número de reclamações feitas no Procon, no estado de São Paulo, no mesmo ano dos super lucros, figurem o Grupo Itaú UNIBANCO, na segunda posição, com 7.199 reclamações, o Grupo Bradesco, em quarto lugar, com 5.897 queixas, e o Grupo Santander, em nono lugar, com 2.763 reclamações?

u      Por que então, no ano dourado, a satisfação dos clientes com os bancos de varejo no Brasil é tão baixa? Segundo o estudo divulgado pela consultoria J.D. Power, realizado também no Canadá, onde os bancos alcançaram 756 pontos, seguidos pelos dos Estados Unidos (752 pontos), da China (685) e da Grã-Bretanha (683), os bancos brasileiros ficaram nos 679 pontos.

u      A consultoria adota como indicadores a satisfação dos clientes com relação às atividades e informações sobre a conta, a oferta de serviços, as instalações físicas, as taxas e a capacidade de solucionar problemas, dispostas em uma escala que pode chegar até mil pontos. O estudo abordou 3 mil clientes.

u      Por que então, no rastro do ano de ouro, já no primeiro quadrimestre de 2014, as instituições financeiras fecharam 2.567 postos de trabalho? É o que registra a Pesquisa de Emprego Bancário, da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), como saldo do balanço de 11.080 empregados contratados e 13.647 cortados. O estado de São Paulo lidera os cortes, com 1.301 demitidos, seguido do Rio Grande do Sul, com 381, Rio de Janeiro, com 362 e Minas Gerais, com 251 cortes.

u      O estudo é feito em parceria com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), utilizando dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e Emprego.

u      Na contra mão dos cortes estão a Caixa Econômica Federal, que abriu 1.256 vagas e a economia brasileira, que gerou 458.145 novos empregos formais, no mesmo período.

u      Em relação aos salários, a média dos admitidos pelos bancos no primeiro quadrimestre, foi de R$3.221,18, contra o salário médio de R$ 5.206,73 dos demitidos, ou seja, uma redução drástica de 38%.

u      Entre os homens recém admitidos, média dos salários foi de R$ 3.660,01, enquanto entre as mulheres o salário médio é de R$ 2.776,30. Isto é, para os bancos, o valor do trabalho das mulheres é menor do que o dos homens em 24,1%.

u      A média dos salários dos homens demitidos no primeiro quadrimestre era de R$6.027,18. Já a remuneração média das mulheres demitidas era de R$ 4.333,27. Ou seja, para os bancos, isso significa que o valor da contribuição das mulheres para os bancos era 28,1% menor do que a dos homens.

u      São muitas as partes interessadas contrariadas, seja por falta de qualidade de serviço, desrespeito ou discriminação. Só vendo, para acreditar na aplicação verdadeira da Resolução 4.327/14, a da política de responsabilidade socioambiental pelas instituições financeiras.

Paulo Márcio de Mello

Professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

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