Só vendo ...
Pode um banco adotar boas práticas de responsabilidade
socioambiental por força de lei? O Banco Central acha que sim.
blog do professor paulo
márcio
economia&arte
Quarta-feira, 4 de junho de 2014
Coluna EMPRESA-CIDADÃ
Paulo Márcio de Mello*
u Em 2013, o banco Itaú e o Banco do Brasil registraram os
maiores lucros líquidos contábeis da história dos bancos brasileiros, chegando
a R$15,7 bilhões e R$15,8, respectivamente. Foram seguidos pelo banco Bradesco,
com R$12 bilhões, e pelo banco Santander, com R$5,7 bilhões. Apesar do
“pibinho”, da crise, e de outros males, 2013 foi um ano bom, o melhor deles
para os bancos.
u Talvez por este cenário, o Conselho
Monetário Nacional e o Banco Central tenham decidido que os bancos se tornem
socialmente responsáveis na marra e tenham editado a Resolução 4.327/14, que as
instituições financeiras e outras instituições por eles reguladas aprovem e
iniciem a implantação da Política de responsabilidade socioambiental (PRSA),
até 28 de fevereiro de 2015.
u Por que então, no ranking das dez
empresas com o maior número de reclamações feitas no Procon, no estado de São
Paulo, no mesmo ano dos super lucros, figurem o Grupo Itaú UNIBANCO, na segunda
posição, com 7.199 reclamações, o Grupo Bradesco, em quarto lugar, com 5.897
queixas, e o Grupo Santander, em nono lugar, com 2.763 reclamações?
u Por que então, no ano dourado, a
satisfação dos clientes com os bancos de varejo no Brasil é tão baixa? Segundo o
estudo divulgado pela consultoria J.D. Power, realizado também no Canadá, onde
os bancos alcançaram 756 pontos, seguidos pelos dos Estados Unidos (752 pontos),
da China (685) e da Grã-Bretanha (683), os bancos brasileiros ficaram nos 679
pontos.
u A consultoria adota como
indicadores a satisfação dos clientes com relação às atividades e informações
sobre a conta, a oferta de serviços, as instalações físicas, as taxas e a
capacidade de solucionar problemas, dispostas em uma escala que pode chegar até
mil pontos. O estudo abordou 3 mil clientes.
u Por que então, no rastro do ano de ouro,
já no primeiro quadrimestre de 2014, as instituições financeiras fecharam 2.567 postos de trabalho? É o que
registra a Pesquisa de Emprego Bancário, da Confederação Nacional dos
Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), como saldo do balanço de 11.080
empregados contratados e 13.647 cortados. O estado de São Paulo lidera os
cortes, com 1.301 demitidos, seguido do Rio Grande do Sul, com 381, Rio de
Janeiro, com 362 e Minas Gerais, com 251 cortes.
u O estudo é feito em parceria com o Departamento
Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), utilizando
dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do
Trabalho e Emprego.
u Na contra mão dos cortes estão a Caixa Econômica
Federal, que abriu 1.256 vagas e a economia brasileira, que gerou 458.145 novos
empregos formais, no mesmo período.
u Em relação aos salários, a média dos admitidos
pelos bancos no primeiro quadrimestre, foi de R$3.221,18, contra o salário
médio de R$ 5.206,73 dos demitidos, ou seja, uma redução drástica de 38%.
u Entre os homens recém admitidos, média dos salários
foi de R$ 3.660,01, enquanto entre as mulheres o salário médio é de R$ 2.776,30.
Isto é, para os bancos, o valor do trabalho das mulheres é menor do que o dos
homens em 24,1%.
u A média dos salários dos homens demitidos no
primeiro quadrimestre era de R$6.027,18. Já a remuneração média das mulheres demitidas
era de R$ 4.333,27. Ou seja, para os bancos, isso significa que o valor da contribuição
das mulheres para os bancos era 28,1% menor do que a dos homens.
u São muitas as partes interessadas contrariadas,
seja por falta de qualidade de serviço, desrespeito ou discriminação. Só vendo,
para acreditar na aplicação verdadeira da Resolução 4.327/14, a da política de
responsabilidade socioambiental pelas instituições financeiras.
Paulo
Márcio de Mello
Professor
da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)
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