Quase metade do PNB
Entre 1970 e 2000, os dispêndios realizados nos EUA
para combater o câncer resultaram em benefícios equivalentes a quase metade do
Produto Nacional Bruto (PNB).
blog do professor paulo márcio
economia&arte
Quarta-feira, 25 de junho de 2014
Coluna EMPRESA-CIDADÃ
Paulo Márcio de Mello*
u A
doença mais onerosa e segunda maior causa de mortes nos EUA, o câncer, mata
cerca de 1.600 norte-americanos por dia. Custa ao país mais de US$200 bilhões
em serviços de saúde e perdas de produtividade do trabalho. Estima-se o
crescimento dramático da enfermidade, transformando-se na maior causa de mortes
em futuro próximo. É o que publica Nancy Davenport-Ennis, da National Patient Advocate
Foundation (NPAF; www.npaf.com), no número
mais recente da revista Scientific American.
u Apesar
dos dados preocupantes, há meios de reduzir os impactos deste flagelo, como ocorreu
nos avanços alcançados na erradicação da pólio, em 1979, nos EUA, na
transformação da AIDS em uma condição crônica, mas controlável, ou na obtenção
de taxas de sobrevivência da leucemia infantil, da ordem de 90%.
u Desde
1991, a taxa global de óbitos por câncer caiu em 20%, enquanto a sobrevida de
cinco anos atingiu a marca de 68,5% nos casos diagnosticados, bem acima dos
48,7% observados em 1975. Em consequência, há hoje nos EUA 13,7 milhões de
pessoas sobreviventes à doença, enquanto havia 2 milhões, em 1975, nas mesmas
condições.
u A
autora afirma que a continuidade das inovações no combate ao câncer não está
assegurada, pois tanto o investimento de risco em biotecnologia no país está
decrescendo, desde 2007, quanto os gastos públicos em pesquisa medicinal básica
caíram em 20%, desde 2010.
u Comparados
aos dois anos decorridos, em média, entre a descoberta e aprovação de uma droga
para o tratamento do HIV, decorrem mais de nove anos até a aprovação de uma
nova terapia para os pacientes de câncer. O risco no desenvolvimento de uma
nova terapia reserva o sucesso até a colocação no mercado de uma a cada vinte
iniciativas. Consequentemente, os custos neste caso são elevados. Estudo da
Tufts University (http://csdd.thfts.edu/files/uploads/outlook-2010.pdf),
de 2010, aponta que o custo de desenvolvimento de uma nova droga para o
tratamento do câncer pode ultrapassar a cifra de US$ 1 bilhão.
u Onde
estão as saídas para acelerar as inovações no tratamento da doença? De acordo
com Nancy Davenport-Ennis, a primeira possibilidade é a redução de obstáculos
logísticos, através de processos aprovatórios mais padronizados, liberalizando
os caminhos da pesquisa, permitindo a sua aplicação em pacientes, antes da liberação
para uso geral, com o suporte dos dados centralizados para acesso e
compartilhamento.
u Outra
alternativa indicada é a inovação na forma de financiamento da pesquisa, por um
lado, com estímulos compensatórios para mitigar a incerteza de investidores e,
por outro lado, incrementar os fundos públicos para a pesquisa, sobretudo a
pesquisa biomédica básica, ignição da pesquisa avançada.
u A
última alternativa proposta é a de expandir a interação entre os provedores das
inovações e os pacientes. Estima-se entre 2% a 5% o percentual de pacientes
adultos envolvidos em caminhos das pesquisas clínicas. O baixo número é
consequência de fatores como falta de engajamento, complexidade de
procedimentos autorizadores e custos não reembolsados para os pacientes.
u O
elenco de partes interessadas, como pesquisadores, pacientes e suas famílias,
provedores de serviços de saúde, governantes e futuras gerações, tem um papel
decisivo na luta contra o câncer. Visto apenas pela perspectiva econômica, de
importância menor do que as percepções éticas e afetivas, o empenho
justifica-se, bastando observar poucos números.
u Novas
terapias estão relacionadas a 50 milhões de anos de vida humana poupados nos
últimos 15 anos, assim como à economia de US$1,2 milhão em dispêndios em
tratamentos por pessoa. Pode ser traduzido em cerca de US$3,2 trilhões
agregados à economia por ano, entre 1970 e 2000. Quase metade do Produto
Nacional Bruto dos EUA, no mesmo período!
u No
Brasil, as estimativas de incidência de câncer entre a população ultrapassa 518
mil casos por ano, mais de 1.419 casos diários. Nossa atenção para esta questão
não pode ser negligenciada.
Paulo Márcio de
Mello
Professor
da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)
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