quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Quase metade do PNB
                                                             
Entre 1970 e 2000, os dispêndios realizados nos EUA para combater o câncer resultaram em benefícios equivalentes a quase metade do Produto Nacional Bruto (PNB).

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Quarta-feira, 25 de junho de 2014
Coluna EMPRESA-CIDADÃ
Paulo Márcio de Mello*


u      A doença mais onerosa e segunda maior causa de mortes nos EUA, o câncer, mata cerca de 1.600 norte-americanos por dia. Custa ao país mais de US$200 bilhões em serviços de saúde e perdas de produtividade do trabalho. Estima-se o crescimento dramático da enfermidade, transformando-se na maior causa de mortes em futuro próximo. É o que publica Nancy Davenport-Ennis, da National Patient Advocate Foundation (NPAF; www.npaf.com), no número mais recente da revista Scientific American.

u      Apesar dos dados preocupantes, há meios de reduzir os impactos deste flagelo, como ocorreu nos avanços alcançados na erradicação da pólio, em 1979, nos EUA, na transformação da AIDS em uma condição crônica, mas controlável, ou na obtenção de taxas de sobrevivência da leucemia infantil, da ordem de 90%.

u      Desde 1991, a taxa global de óbitos por câncer caiu em 20%, enquanto a sobrevida de cinco anos atingiu a marca de 68,5% nos casos diagnosticados, bem acima dos 48,7% observados em 1975. Em consequência, há hoje nos EUA 13,7 milhões de pessoas sobreviventes à doença, enquanto havia 2 milhões, em 1975, nas mesmas condições.

u      A autora afirma que a continuidade das inovações no combate ao câncer não está assegurada, pois tanto o investimento de risco em biotecnologia no país está decrescendo, desde 2007, quanto os gastos públicos em pesquisa medicinal básica caíram em 20%, desde 2010.

u      Comparados aos dois anos decorridos, em média, entre a descoberta e aprovação de uma droga para o tratamento do HIV, decorrem mais de nove anos até a aprovação de uma nova terapia para os pacientes de câncer. O risco no desenvolvimento de uma nova terapia reserva o sucesso até a colocação no mercado de uma a cada vinte iniciativas. Consequentemente, os custos neste caso são elevados. Estudo da Tufts University (http://csdd.thfts.edu/files/uploads/outlook-2010.pdf), de 2010, aponta que o custo de desenvolvimento de uma nova droga para o tratamento do câncer pode ultrapassar a cifra de US$ 1 bilhão.

u      Onde estão as saídas para acelerar as inovações no tratamento da doença? De acordo com Nancy Davenport-Ennis, a primeira possibilidade é a redução de obstáculos logísticos, através de processos aprovatórios mais padronizados, liberalizando os caminhos da pesquisa, permitindo a sua aplicação em pacientes, antes da liberação para uso geral, com o suporte dos dados centralizados para acesso e compartilhamento.

u      Outra alternativa indicada é a inovação na forma de financiamento da pesquisa, por um lado, com estímulos compensatórios para mitigar a incerteza de investidores e, por outro lado, incrementar os fundos públicos para a pesquisa, sobretudo a pesquisa biomédica básica, ignição da pesquisa avançada.

u      A última alternativa proposta é a de expandir a interação entre os provedores das inovações e os pacientes. Estima-se entre 2% a 5% o percentual de pacientes adultos envolvidos em caminhos das pesquisas clínicas. O baixo número é consequência de fatores como falta de engajamento, complexidade de procedimentos autorizadores e custos não reembolsados para os pacientes.

u      O elenco de partes interessadas, como pesquisadores, pacientes e suas famílias, provedores de serviços de saúde, governantes e futuras gerações, tem um papel decisivo na luta contra o câncer. Visto apenas pela perspectiva econômica, de importância menor do que as percepções éticas e afetivas, o empenho justifica-se, bastando observar poucos números.

u      Novas terapias estão relacionadas a 50 milhões de anos de vida humana poupados nos últimos 15 anos, assim como à economia de US$1,2 milhão em dispêndios em tratamentos por pessoa. Pode ser traduzido em cerca de US$3,2 trilhões agregados à economia por ano, entre 1970 e 2000. Quase metade do Produto Nacional Bruto dos EUA, no mesmo período!

u      No Brasil, as estimativas de incidência de câncer entre a população ultrapassa 518 mil casos por ano, mais de 1.419 casos diários. Nossa atenção para esta questão não pode ser negligenciada.

Paulo Márcio de Mello

Professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

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