quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

O melhor negócio  do mundo (XV)
                                                             
Este é o início do 15º ano de publicação da coluna Empresa-Cidadã no centenário Monitor Mercantil. Ao longo de quatorze anos, conceitos e valores da responsabilidade socioambiental e outros que deles derivaram, pioneiros, voluntários e profissionais reúnem-se em torno de uma gama de realizações.

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Coluna EMPRESA-CIDADÃ
Quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Paulo Márcio de Mello*



u      Pela décima quinta vez, utilizo o título “O melhor negócio do mundo” em uma edição da coluna Empresa-Cidadã. A coluna Empresa-Cidadã começou a ser publicada no jornal Monitor Mercantil em 14 de janeiro de 2001, reunindo, até hoje, quase 700 edições, com o propósito básico de estimular o senso crítico e as práticas da responsabilidade social e da sustentabilidade.

u      Ao longo de quatorze anos, conceitos e valores da responsabilidade socioambiental, e outros que deles derivaram, pioneiros, voluntários e profissionais reúnem-se em torno de uma gama de realizações em que o cotidiano superou a ficção.

u      Naquele ano, os onze mil quilômetros que separam Porto Alegre (RS) de Davos (Suíça) só não foram maiores do que é a distância entre países ricos e pobres, como mostrou o confronto de idéias e, sobretudo, de ideais estabelecido entre o Fórum Social Mundial de Porto Alegre e o Fórum Econômico Mundial de Davos, realizados simultaneamente, em janeiro de 2001. Em Genebra, o então secretário-geral da ONU, Kofi Annan, apresentou um relatório de 87 medidas sugeridas para reduzir as disparidades entre as economias do Hemisfério Norte e do Hemisfério Sul.

u      Do relatório da ONU, concluiu-se que os investimentos estrangeiros diretos (IED) nos países mais pobres aumentaram, de US$ 178 bilhões em 1997, para US$ 190 bilhões, em 2000. Que os países doadores destinaram, em média, 0,24% do seu PIB para ajuda financeira aos países mais pobres em 1999, menos do que os 0,33% de 1992, e que apenas Dinamarca, Holanda, Noruega e Suíça atingiram o percentual já combinado de 0,7%.

u      Os países mais ricos precisam ser doadores para as suas economias não estiolarem, como aconteceu com a do Japão nos anos 90. Tanto assim que a principal medida proposta do relatório de Kofi Annan é a do fim das barreiras alfandegárias impostas a bens e serviços exportados pelas nações mais pobres. E não se referiu às barreiras técnicas ou fito-sanitárias, do tipo vaca louca Canadá-Bombardier contra a carne brasileira.

u      Armada até os dentes para se defender de um ataque dos santos guerreiros contra o dragão da maldade da globalização, como o que levou ao fracasso de Seattle, de 1999, Davos ocupou-se de discutir os efeitos da desaceleração da economia americana sobre a economia global, que pode custar até um ponto percentual do seu crescimento. Ainda estava sendo gestada a “crise da subprime”. Alternativamente, Porto Alegre discutiu os efeitos perversos da globalização da economia sobre o crescimento das economias mais pobres.

u      Frequentaram o Fórum Social Mundial algumas das personagens mais exóticas do palco da desobediência ao pensamento hegemônico do neoliberalismo. José Bové foi. O ativista francês aproveitou para invadir e destruir parte da plantação de soja transgênica da multinacional Monsanto. Resultado: mais notoriedade, detenção pela Polícia Federal até Bové assinar notificação com compromisso de deixar o país em 24 horas, a aplicação da Lei dos Estrangeiros, respaldada pela Advocacia Geral da União e concessão de mais 24 horas pela Justiça Federal de Porto Alegre.

u      Enquanto isso, no Rio de Janeiro, seguranças da loja Carrefour, grupo multinacional francês como Bové, mantiveram em cárcere privado duas mulheres acusadas de furtar bloqueadores solares e as teriam entregado à marginalidade do bairro Cidade de Deus, além de editarem a fita de vídeo do circuito interno de vigilância, posteriormente entregue à polícia. Os seguranças foram detidos mas nada se disse sobre a aplicação da Lei dos Estrangeiros, neste caso, versão Cidade de Deus da globalização. Diferente da de Porto Alegre.

u      Diferente do que parte do noticiário pode ter sugerido, sugestão reforçada pela diversidade das conclusões de mais de 400 oficinas, o Fórum Social Mundial de Porto Alegre não foi um evento antiempresa. Bem ao contrário, o que deve ser percebido era a manifestação de que saúde e educação fortalecem mercados com maior capacidade de aquisição. Que meio-ambiente é o maior patrimônio a ser legado entre gerações. Que ética, democracia e solidariedade são valores que atraem investidores, fidelizam consumidores e entusiasmam colaboradores. Em Porto Alegre falou-se, portanto, da empresa na sua forma mais requintada - a empresa-cidadã.

u      Assim era aquele mundo, o de 2001.

Paulo Márcio de Mello
Professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

A coluna EMPRESA-CIDADÃ é publicada, desde 2001, toda quarta-feira,
no centenário jornal Monitor Mercantil (www.monitormercantil.com.br).
São mais de 600 edições apresentando casos de empreendedores e empresas,
pesquisas, resenhas, editais ou agenda, relativos à sustentabilidade, à responsabilidade social e ao desenvolvimento sustentável.

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