O melhor negócio do mundo (XV)
Este é o início do 15º ano
de publicação da coluna Empresa-Cidadã no centenário Monitor Mercantil. Ao longo de quatorze anos, conceitos e valores da
responsabilidade socioambiental e outros que deles derivaram, pioneiros,
voluntários e profissionais reúnem-se em torno de uma gama de realizações.
blog do professor paulo márcio
economia&arte
Coluna EMPRESA-CIDADÃ
Quarta-feira,
14 de janeiro de 2015
Paulo Márcio de Mello*
u Pela décima quinta vez, utilizo o título
“O melhor negócio do mundo” em uma edição da coluna Empresa-Cidadã. A coluna Empresa-Cidadã
começou a ser publicada no jornal Monitor Mercantil em 14 de janeiro de 2001,
reunindo, até hoje, quase 700 edições, com o propósito básico de estimular o
senso crítico e as práticas da responsabilidade social e da sustentabilidade.
u Ao longo de quatorze anos, conceitos e
valores da responsabilidade socioambiental, e outros que deles derivaram,
pioneiros, voluntários e profissionais reúnem-se em torno de uma gama de
realizações em que o cotidiano superou a ficção.
u Naquele ano, os onze mil quilômetros que
separam Porto Alegre (RS) de Davos (Suíça) só não foram maiores do que é a
distância entre países ricos e pobres, como mostrou o confronto de idéias e,
sobretudo, de ideais estabelecido entre o Fórum Social Mundial de Porto Alegre
e o Fórum Econômico Mundial de Davos, realizados simultaneamente, em janeiro de
2001. Em Genebra, o então secretário-geral da ONU, Kofi Annan, apresentou um
relatório de 87 medidas sugeridas para reduzir as disparidades entre as
economias do Hemisfério Norte e do Hemisfério Sul.
u Do relatório da ONU, concluiu-se que os
investimentos estrangeiros diretos (IED) nos países mais pobres aumentaram, de
US$ 178 bilhões em 1997, para US$ 190 bilhões, em 2000. Que os países doadores
destinaram, em média, 0,24% do seu PIB para ajuda financeira aos países mais
pobres em 1999, menos do que os 0,33% de 1992, e que apenas Dinamarca, Holanda,
Noruega e Suíça atingiram o percentual já combinado de 0,7%.
u Os países mais ricos precisam ser doadores
para as suas economias não estiolarem, como aconteceu com a do Japão nos anos
90. Tanto assim que a principal medida proposta do relatório de Kofi Annan é a
do fim das barreiras alfandegárias impostas a bens e serviços exportados pelas
nações mais pobres. E não se referiu às barreiras técnicas ou fito-sanitárias,
do tipo vaca louca Canadá-Bombardier contra a carne brasileira.
u Armada até os dentes para se defender de
um ataque dos santos guerreiros contra o dragão da maldade da globalização,
como o que levou ao fracasso de Seattle, de 1999, Davos ocupou-se de discutir
os efeitos da desaceleração da economia americana sobre a economia global, que
pode custar até um ponto percentual do seu crescimento. Ainda estava sendo
gestada a “crise da subprime”. Alternativamente, Porto Alegre discutiu os
efeitos perversos da globalização da economia sobre o crescimento das economias
mais pobres.
u Frequentaram o Fórum Social Mundial
algumas das personagens mais exóticas do palco da desobediência ao pensamento
hegemônico do neoliberalismo. José Bové foi. O ativista francês aproveitou para
invadir e destruir parte da plantação de soja transgênica da multinacional
Monsanto. Resultado: mais notoriedade, detenção pela Polícia Federal até Bové
assinar notificação com compromisso de deixar o país em 24 horas, a aplicação
da Lei dos Estrangeiros, respaldada pela Advocacia Geral da União e concessão
de mais 24 horas pela Justiça Federal de Porto Alegre.
u Enquanto isso, no Rio de Janeiro,
seguranças da loja Carrefour, grupo multinacional francês como Bové, mantiveram
em cárcere privado duas mulheres acusadas de furtar bloqueadores solares e as
teriam entregado à marginalidade do bairro Cidade de Deus, além de editarem a
fita de vídeo do circuito interno de vigilância, posteriormente entregue à
polícia. Os seguranças foram detidos mas nada se disse sobre a aplicação da Lei
dos Estrangeiros, neste caso, versão Cidade de Deus da globalização. Diferente
da de Porto Alegre.
u Diferente do que parte do noticiário pode
ter sugerido, sugestão reforçada pela diversidade das conclusões de mais de 400
oficinas, o Fórum Social Mundial de Porto Alegre não foi um evento antiempresa.
Bem ao contrário, o que deve ser percebido era a manifestação de que saúde e
educação fortalecem mercados com maior capacidade de aquisição. Que
meio-ambiente é o maior patrimônio a ser legado entre gerações. Que ética,
democracia e solidariedade são valores que atraem investidores, fidelizam
consumidores e entusiasmam colaboradores. Em Porto Alegre falou-se, portanto,
da empresa na sua forma mais requintada - a empresa-cidadã.
u Assim era aquele mundo, o de 2001.
Paulo Márcio de Mello
Professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro
(UERJ)
A coluna
EMPRESA-CIDADÃ é publicada, desde 2001, toda quarta-feira,
no centenário
jornal Monitor Mercantil (www.monitormercantil.com.br).
São mais de 600
edições apresentando casos
de empreendedores e empresas,
pesquisas, resenhas, editais ou agenda, relativos à sustentabilidade, à
responsabilidade social e ao desenvolvimento sustentável.
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