Até você ?
Um site deixa gigantes modernos,
como Google e Apple,
de saia justa…
blog do professor paulo márcio
economia&arte
coluna EMPRESA-CIDADÃ
Quarta-feira, 4 de março de 2015
Paulo Márcio de Mello*
u Tomando-se como referência as 500 maiores empresas brasileiras,
verifica-se que, entre as funções executivas, 86,3% são exercidas por homens. Mulheres
ocupavam 13,7% destas funções, em 2010. Desde 2001, quando os homens ocupavam
94% das funções executivas, há uma evolução progressiva, ainda que lenta, da
participação feminina, de 6% em 2001, para 10,6% em 2005, e 11,5% em 2007.
u Os números constam do estudo "Perfil
Social, Racial e de Gênero das 500 Maiores Empresas do Brasil e Suas Ações
Afirmativas" (disponível em
http://www1.ethos.org.br/EthosWeb/arquivo/0-A-eb4Perfil_2010.pdf), realizado pelo
Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social e Ibope Inteligência, com base em uma amostra extraída da relação das empresas
classificadas na publicação "Melhores e Maiores 2009", editada pela
revista Exame.
u No âmbito gerencial, em 2010, ano da mais recente publicação da
série, 77,9,% das funções foram ocupadas por homens e 22,1% por mulheres.
Novamente, registra-se uma discreta evolução, desde o início da medição deste
indicador, quando em 2003, mulheres ocuparam 18% das funções gerenciais. Em
2005, um salto discrepante mostrou 31% das funções gerenciais ocupadas por
mulheres. A discrepância é parcialmente corrigida em 2007, quando o estudo
consigna 24,6% de ocupação destas funções por mulheres, dado mais consistente
com os 22,1% de funções gerenciais exercidas por mulheres em 2010.
u No exercício das funções de supervisão, observa-se que mulheres
ocupam 26,8% delas, em 2010. Em relação ao primeiro ano da série de observação,
em 2003, quando a marca da presença feminina nestas funções era de 28%,
registra-se uma discreta melhora. Na composição do elenco de funcionários deste
conjunto das maiores empresas do país, observa-se uma redução da presença
feminina, de 35% em 2003, para 33,1%, em 2010.
u Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (IBGE;
PNAD 2012) complementam este cenário de iniquidade. Na composição da população
brasileira com 15 anos de idade ou mais, a participação das mulheres é de 52,1%.
Nas faixas de escolaridade de 8 a 10 anos, o contingente feminino é 2,2%
superior ao de homens, no intervalo de 11 a 14 anos de escolaridade, é 18% superior
e, no de 15 anos ou mais de escolaridade, é 36,9% superior ao masculino.
u Apesar de tudo, o rendimento médio mensal das mulheres corresponde
à apenas 74% do valor do rendimento médio total.
Até você, Google ?
Em janeiro deste ano, foi lançado
o site InHerSight, com o propósito de
desnudar as desigualdades existentes nas empresas, que limitam as
possibilidades de progressão funcional de mulheres, e de conciliar maternidade
e carreira, entre outros temas.
Inicialmente, o site utiliza-se de um questionário
simples e de rápido preenchimento, através de questões sobre facilidades
proporcionadas (ou negadas) para a trabalhadora ser mãe, em uma escala de um a
cinco. Quem se interessar também poderá fazer comentários sobre a empresa. A
criação é de Ursula Mead, mãe e operadora de mercado financeiro. Ela estuda a
possibilidade de tornar o site uma
ferramenta que possa ser utilizada também em outros países, além dos EUA.
Apesar do pouco tempo de
existência, algumas reflexões já podem ser feitas. Exemplo é o caso do Google,
uma empresa situada entre as que tratam bem as mulheres. Ela obteve 4,8 (em
5,0) no aspecto condições para ser mãe e 4,7 em apoio para o crescimento
familiar. Onde está o ponto mais fraco do Google, porém? Na representação
feminina em cargos de alta direção, com nota 2,9. Curiosamente, a Apple também
teve neste aspecto a sua menor pontuação (2,7).
Em seu propósito, o site InHerSight não pretende apurar dados estatisticamente exatos,
nem se limitar à discussão sobre direitos formalmente conquistados. Se uma
mulher sente algum constrangimento em utilizar-se plenamente do período de uma
licença maternidade, por exemplo, há algum dente na engrenagem da empresa que
não se encaixa adequadamente no sulco. O que o InHerSight pretende é fomentar o
debate sobre a igualdade de oportunidades nas corporações.
Paulo Márcio de Mello
Professor da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)
A coluna
EMPRESA-CIDADÃ é publicada, desde 2001, toda quarta-feira,
no centenário
jornal Monitor Mercantil (www.monitormercantil.com.br).
São mais de 600
edições apresentando casos
de empreendedores e empresas,
pesquisas, resenhas, editais ou agenda, relativos à sustentabilidade,
à responsabilidade social e
ao desenvolvimento sustentável.
Nenhum comentário:
Postar um comentário