Saudades de Aurora Miranda
Professores do estado do Paraná foram alvejados de helicópteros,
covardemente.
Coluna Empresa-Cidadã, publicada no jornal
Monitor Mercantil,
na quarta-feira, 03 de maio de 2017,
por Paulo
Márcio de Mello*
Para
ninguém se esquecer do triste 29 de abril de 2015, quando os professores do
estado do Paraná foram agredidos por policiais militares, com jatos d’água,
bombas de gás lacrimogêneo, arremessadas até de helicóptero, balas de borracha,
spray de pimenta, cassetetes e cães pit-bull, por ordem, expressa ou tácita, do
governador Beto Richa.
Na
ocasião, os educadores estavam mobilizados contra mudanças desastrosas na
Previdência Estadual e foram agredidos quando tentavam se aproximar da
Assembleia Legislativa (Alep), apesar de manterem os braços erguidos, onde
seria realizada a votação em segundo turno do projeto. Pelo menos 100
professores ficaram seriamente feridos.
Esta
agressão precursora ocorrida no Paraná, repetida nas covardes agressões na
greve geral de 28 de abril pelas polícias militares do Rio de Janeiro e São
Paulo, mostram o quanto o Brasil se afastou da democrática liberdade de
manifestação, restringindo-a. E o quanto é necessário desmilitarizar as
polícias para se chegar á plenitude democrática. “Polícia
para quem precisa de polícia...” (Arnaldo Antunes, Titãs).
Acordo do Clima de Paris ameaçado de
sabotagem?
Ao
anunciar, em março, que revogaria a política climática de seu antecessor, o
presidente norte americano, Donald Trump, disse estar apenas cumprindo uma das suas
promessas de campanha, para preservar as vagas de trabalho norte americanas, no
setor carvoeiro.
As
mudanças anulam as ferramentas que visam reduzir as emissões de gases-estufa
dos Estados Unidos, como acertado no pacto sobre o clima de Paris, em 2015.
Algumas
companhias carboníferas americanas, contudo, estão reivindicando que o
presidente modifique esta posição. As grandes corporações dos combustíveis
fósseis e os políticos mais conservadores entendem que abandonar o pacto do
clima afetará a influência dos EUA, no setor de energia global.
O
influente diretor executivo da companhia Cloud Peak Energy, Colin Marshall,
argumentou, em carta aberta ao presidente, que o país deveria permanecer no pacto,
a fim de conferir mais realismo na política climática global. Segundo ele, dois
terços da população dos EUA acreditam que as mudanças climáticas estão em curso
e que as emissões de carbono são determinantes neste processo.
Medo da exclusão?
Paralelamente,
a Cloud e a Peabody Energy, entre outras, estavam realizando encontros na Casa
Branca pedindo que fosse mantida a participação americana no Acordo de Paris.
Grandes
empresas de petróleo, como a Exxon Mobil, cujo ex-presidente Rex Tillerson
ocupa a importante Secretaria de Estado, nomeado por Donald Trump, têm
igualmente apelado para que os EUA se mantenham no acordo mundial do clima. Por
sua vez, o congressista republicano e adepto dos combustíveis fósseis Kevin
Cramer vem circulando uma carta entre os deputados de seu partido com o mesmo
propósito.
Isto
não quer dizer que ocorreu uma alteração radical entre que as corporações ou entre
os políticos conservadores, que subitamente passaram a zelar pelo ambiente e
pelo clima. Tão bonzinhos, a preocupação deles é estratégica, já que o Pacto do
Clima começa a ser detalhado nos próximos quatro anos e poderá se transformar
no principal fórum global para energia e clima. Retirar-se significaria
afastar-se do processo.
Há
também a cautela com a possibilidade, ante a baixa popularidade e
imprevisibilidade do atual presidente, ante um próximo presidente norte americano
que venha realinhar o país com a comunidade internacional, sem que ele tenha
participado das primeiras fases de desenvolvimento do pacto.
O
porta-voz da Casa Branca já comunicou que, até o final de maio, o presidente
Donald Trump se pronunciará quanto ao Acordo de Paris. A preocupação
remanescente é a de que o governo Donald Trump opte por sabotar o pacto do
clima por dentro, considerando todas as suas declarações até aqui, em relação às
mudanças climáticas.
A
importância da participação dos EUA nos desdobramentos do pacto do clima é
notória, mas eles devem ser mantidos a qualquer preço? A preocupação diante da
incerteza quanto à participação dos EUA, um dos maiores emissores de carbono do
mundo, no Acordo de Paris foi compensada pelo fato de que o presidente da
China, Xi Jinping, anunciou que seu país honraria o compromisso de permanecer,
qualquer que fosse a decisão do executivo norte americano.
As
lembranças do Protocolo de Kyoto são amargas neste aspecto. Pequim se recusou a
efetuar reduções de emissões de carbono sem movimento dos EUA no mesmo sentido.
E deu no que deu. Apesar de manter o suspense ao protelar o anúncio de sua
decisão até o final deste mês, há quem considere que a decisão da retirada dos
EUA já foi tomada, com a revogação do Clean Power Plan, o plano de energia
limpa demarrado por Barak Obama.
O
presidente Xi Jinping, em Davos (fevereiro), deixou explícito que a China pretende
assumir papel de liderança nos debates sobre o clima e, neste propósito, poderá
formar uma sólida dobradinha com a UE. As ameaças políticas ao Pacto sobre o
Clima residem na extensão que venha revelar a onda conservadora europeia e na
dúvida sobre a sinceridade da possível participação dos EUA. “Se você fosse sincera, ô ô ô, Aurora...” (Mário Lago e
Roberto Roberti, interpretada por Aurora Miranda)
Paulo Márcio de Mello
Professor da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (UERJ)
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