quinta-feira, 4 de maio de 2017

Saudades de Aurora Miranda 
Professores do estado do Paraná foram  alvejados de helicópteros,
covardemente.

Coluna Empresa-Cidadã, publicada no jornal Monitor Mercantil,
na quarta-feira, 03 de maio de 2017,
por Paulo Márcio de Mello*

Para ninguém se esquecer do triste 29 de abril de 2015, quando os professores do estado do Paraná foram agredidos por policiais militares, com jatos d’água, bombas de gás lacrimogêneo, arremessadas até de helicóptero, balas de borracha, spray de pimenta, cassetetes e cães pit-bull, por ordem, expressa ou tácita, do governador Beto Richa.

Na ocasião, os educadores estavam mobilizados contra mudanças desastrosas na Previdência Estadual e foram agredidos quando tentavam se aproximar da Assembleia Legislativa (Alep), apesar de manterem os braços erguidos, onde seria realizada a votação em segundo turno do projeto. Pelo menos 100 professores ficaram seriamente feridos.

Esta agressão precursora ocorrida no Paraná, repetida nas covardes agressões na greve geral de 28 de abril pelas polícias militares do Rio de Janeiro e São Paulo, mostram o quanto o Brasil se afastou da democrática liberdade de manifestação, restringindo-a. E o quanto é necessário desmilitarizar as polícias para se chegar á plenitude democrática. “Polícia para quem precisa de polícia...” (Arnaldo Antunes, Titãs).

Acordo do Clima de Paris ameaçado de sabotagem?

Ao anunciar, em março, que revogaria a política climática de seu antecessor, o presidente norte americano, Donald Trump, disse estar apenas cumprindo uma das suas promessas de campanha, para preservar as vagas de trabalho norte americanas, no setor carvoeiro.

As mudanças anulam as ferramentas que visam reduzir as emissões de gases-estufa dos Estados Unidos, como acertado no pacto sobre o clima de Paris, em 2015.

Algumas companhias carboníferas americanas, contudo, estão reivindicando que o presidente modifique esta posição. As grandes corporações dos combustíveis fósseis e os políticos mais conservadores entendem que abandonar o pacto do clima afetará a influência dos EUA, no setor de energia global.

O influente diretor executivo da companhia Cloud Peak Energy, Colin Marshall, argumentou, em carta aberta ao presidente, que o país deveria permanecer no pacto, a fim de conferir mais realismo na política climática global. Segundo ele, dois terços da população dos EUA acreditam que as mudanças climáticas estão em curso e que as emissões de carbono são determinantes neste processo.

Medo da exclusão?

Paralelamente, a Cloud e a Peabody Energy, entre outras, estavam realizando encontros na Casa Branca pedindo que fosse mantida a participação americana no Acordo de Paris.
Grandes empresas de petróleo, como a Exxon Mobil, cujo ex-presidente Rex Tillerson ocupa a importante Secretaria de Estado, nomeado por Donald Trump, têm igualmente apelado para que os EUA se mantenham no acordo mundial do clima. Por sua vez, o congressista republicano e adepto dos combustíveis fósseis Kevin Cramer vem circulando uma carta entre os deputados de seu partido com o mesmo propósito.

Isto não quer dizer que ocorreu uma alteração radical entre que as corporações ou entre os políticos conservadores, que subitamente passaram a zelar pelo ambiente e pelo clima. Tão bonzinhos, a preocupação deles é estratégica, já que o Pacto do Clima começa a ser detalhado nos próximos quatro anos e poderá se transformar no principal fórum global para energia e clima. Retirar-se significaria afastar-se do processo.

Há também a cautela com a possibilidade, ante a baixa popularidade e imprevisibilidade do atual presidente, ante um próximo presidente norte americano que venha realinhar o país com a comunidade internacional, sem que ele tenha participado das primeiras fases de desenvolvimento do pacto.

O porta-voz da Casa Branca já comunicou que, até o final de maio, o presidente Donald Trump se pronunciará quanto ao Acordo de Paris. A preocupação remanescente é a de que o governo Donald Trump opte por sabotar o pacto do clima por dentro, considerando todas as suas declarações até aqui, em relação às mudanças climáticas.

A importância da participação dos EUA nos desdobramentos do pacto do clima é notória, mas eles devem ser mantidos a qualquer preço? A preocupação diante da incerteza quanto à participação dos EUA, um dos maiores emissores de carbono do mundo, no Acordo de Paris foi compensada pelo fato de que o presidente da China, Xi Jinping, anunciou que seu país honraria o compromisso de permanecer, qualquer que fosse a decisão do executivo norte americano.

As lembranças do Protocolo de Kyoto são amargas neste aspecto. Pequim se recusou a efetuar reduções de emissões de carbono sem movimento dos EUA no mesmo sentido. E deu no que deu. Apesar de manter o suspense ao protelar o anúncio de sua decisão até o final deste mês, há quem considere que a decisão da retirada dos EUA já foi tomada, com a revogação do Clean Power Plan, o plano de energia limpa demarrado por Barak Obama.

O presidente Xi Jinping, em Davos (fevereiro), deixou explícito que a China pretende assumir papel de liderança nos debates sobre o clima e, neste propósito, poderá formar uma sólida dobradinha com a UE. As ameaças políticas ao Pacto sobre o Clima residem na extensão que venha revelar a onda conservadora europeia e na dúvida sobre a sinceridade da possível participação dos EUA. “Se você fosse sincera, ô ô ô, Aurora...” (Mário Lago e Roberto Roberti, interpretada por Aurora Miranda)


Paulo Márcio de Mello

Professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

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