segunda-feira, 24 de abril de 2017

Gigantes com  pés de barro, nem mesmo as maiores corporações resistem a uma reclamação, seguida de danos à imagem e uma “boa” perda de valor, como no caso recente da United Airlines.

publicada EMPRESA-CIDADÃ
publicada no jornal Monitor Mercantil
em Quarta-feira, 26 de março de 2017

por Paulo Márcio de Mello*


United,
é tempo de voar,
para não dançar.

u        Em junho de 2013, uma das maiores empresas aéreas de transporte de passageiros e cargas do mundo, a United Airlines (UA) não ofereceu papel higiênico em um voo de São Francisco para Londres, com tempo estimado de dez horas. Tripulantes e passageiros improvisaram “genéricos” de papel higiênico, como guardanapos e folhetos promocionais da empresa, para fazer frente à situação. Pela falha, a empresa pediu desculpas.

u        Neste ano, no domingo 26 de março, a mesma empresa foi novamente objeto de críticas, ao impedir os embarques de duas adolescentes, por vestirem calças legging na ocasião. Porta voz da empresa tentou justificar a medida, alegando que a indumentária seria inadequada para viajantes com passes especiais. Elas e o acompanhante perderam o voo, e ainda que não tenham apresentado queixa, a passageira Shannon Watts testemunhou a conversa e desencadeou a polêmica através de redes sociais, referindo-se à política da empresa como incorretamente aplicada a mulheres e meninas.

u        Os passes especiais da United Airlines são, com maior frequência, utilizados por empregados da empresa, seus familiares ou amigos. Mais tarde, a United distribuiu um comunicado com os dizeres “Às nossas clientes: suas calças legging são bem vindas!”

UA em alguns números

u        Faturamento em 2010 de US$ 23.3 bilhões; Lucro em 2010 de US$ 253 milhões; Valor de mercado em 2017 US$ 22,5 bilhões; Frota em 2017 de 709 aviões; Destinos: 377, em 2010; Hubs principais: 10, em 2010; Passageiros transportados em 2010: 145.5 milhões; Presença em 62 países, em 2010; Empregados: 86.200, em 2010; e principais concorrentes: American Airlines e Delta Air Lines.

Soluções inovadoras de segurança de voo e conforto

u        Criada em 1928, a United Airlines é conhecida também por desenvolver soluções de segurança de voo e conforto, como a introdução de um novo tipo de tripulante, a aeromoça. Algumas entre outras contribuições da UA à aviação civil foram o controle da formação de gelo nas asas dos aviões, controle de rotações das hélices, uso de raios de luz direcionais para auxilio da navegação, desenvolvimento da gravação de voo e analisadores barográficos, precursores das atuais caixas pretas.

u        Em cooperação com a Douglas, desenvolveu uma aeronave que levaria a indústria aeronáutica a um patamar superior de segurança, o quadrimotor Douglas DC-4. Outras inovações introduzidas pela UA foram o Sistema de aterrissagem por instrumentos (ILS) e radares de vigilância.

u        Os atentados do 11 de setembro de 2001 atingiram também a UA. Quando as perdas da empresa chegaram a US$ 3.8 bilhões (2002), a United Airlines, responsável por 20% do mercado aéreo norte americano, decretou concordata junto aos credores.

u        No dia 1º de fevereiro de 2006, a UA saiu da concordata, apresentando lucro no ano seguinte. Em maio de 2010, a UA anunciou uma fusão com a Continental Airlines, criando assim a maior empresa aérea do mundo, se considerada a relação entre o número de passageiros e milhas percorridas.

O gigante tem pés de barro: perdas futuras?

u        Recentemente, em abril, a United Airlines perdeu o equivalente a mais de US$600 milhões, segundo “The Wall Street Journal”, após a rápida difusão de filmagens realizadas por passageiros da agressão cometida por seguranças da empresa contra um médico chinês, que se recusou a desembarcar de um voo da empresa de Chicago para Louisville, em decorrência da política de “overbooking” praticada pela United Airlines. Passageiros receberam a proposta financeira da empresa, em troca da liberação de lugares, para acomodar quatro empregados, portadores de passes especiais.

u        Como não houvesse interessados na proposta, ela “sorteou” os assentos que deveriam ser desocupados. Um deles, era o ocupado pelo médico chinês David Dao, de 69 anos, que se recusou a abandonar a aeronave, alegando sua impossibilidade, em razão de compromissos profissionais assumidos. David Dao foi então agredido covardemente por seguranças da UA.

u        Antes do fato, A United Airlines estava avaliada em US$22,5 bilhões. No dia seguinte, o valor de suas ações caiu 3%, chegando ao final do pregão com queda de 1,13%.

u        O CEO da United Airlines, Oscar Muñoz, reagiu, a princípio, acusando o passageiro agredido de ser “indisciplinado e beligerante”. Só quando se deu conta dos estragos na imagem e no valor da United Continental Holding (controladora da corporação), de uma petição pedindo a sua demissão e de apelos de boicote por parte dos usuários, é que o executivo apresentou o pedido de desculpas à vítima e anunciou mudanças na política de “overbooking” (venda de assentos na aeronave em número superior aos disponíveis) a serem divulgadas em 30 de abril. Anualmente, nos EUA, cerca de 46 mil passageiros são retirados de voos, em decorrência de “overbooking.”

u        Será bom para a United Airlines e para Oscar Muñoz que as novidades sejam convincentes pois, quando pisa nos pés de um cliente, nem mesmo um gigante como a United Airlines é capaz de resistir aos seus próprios pés de barro.

*Paulo Márcio de Mello

Professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

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