quarta-feira, 3 de julho de 2013

O grande arraiá

                                                                                                                                                          Quarta-feira, 3 de julho de 2013
coluna EMPRESA-CIDADÃ
Paulo Márcio de Mello*

Nestes meses de junho e julho, o Brasil vira quase um só arraiá. É a época de uma das suas festas mais populares. No arraiá chamado mercado, as empresas também evoluem conforme o ritmo puxado pela sanfona. A dança é inspirada na “quadrille”, daí a denominação quadrilha, dançada na corte francesa no século XIX. Todos os passos têm as suas denominações também derivadas do Francês.

Primeiro passo, Anarriê!
 
Do Francês “en arrière” (para trás). A este comando, o grupo evolui aos pares para o centro de uma roda, onde, ao chegarem, separam-se, caminhando para trás. No arraiá do mercado, cada empresa olha para o seu par e concorrente e pensa “se ele vai, eu não vou ficar para trás”, mas quando está chegando ao centro da questão, muitas delas desistem, caminham para trás e sorriem para a assistência.
 
Segundo passo, Anavan!
 
Do Francês “en avant” (avancem). Este comando indica que homens e mulheres devem avançar, até reencontrarem os seus pares. No arraiá do mercado, a evolução também não é linear, podendo acontecer por determinação ou por arrependimento. O par pode ser concorrente, mas acima disto, pode ser companheiro. Só a cooperação com ele permite seguir dançando a quadrilha, por muito mais tempo.
 
Terceiro passo, Balance!
 
Do Francês “balancer” (balançar). Comando para que os dançarinos marquem passo, sem sair do lugar. No arraiá do mercado, a disposição de dançar não assegura a evolução dos pares. Acontece de haver esforço, queimar recursos e não sair do lugar. Continuar marcando passo sem evoluir, indefinidamente, no entanto, só como farsa.
 
Quarto passo, Travessê!
 
Do Francês “traverser” (atravessar). A partir deste comando, os pares, divididos em duas colunas, vão até o centro da roda, formam um trançado e daí, seguem para o lado oposto ao que estavam inicialmente. No arraiá do mercado, empresas que se proporcionam as possibilidades do trançado da diversidade, chegam mais longe.
 
Quinto passo, Tur!
 
Do Francês “tour” (giro). Com este comando, o homem abraça a cintura da dama que coloca o braço no ombro dele e, juntos, dão uma volta. No arraiá do mercado, a realização do giro também depende da aproximação entre as partes interessadas.
 
Sexto passo, Changê de dame!
 
Do Francês “changer de dame” (trocar de dama). Este é o comando para que o círculo se movimente, com a alternância na formação dos casais. No arraiá do mercado, só com as trocas de valores entre partes interessadas, a empresa consegue se movimentar.
 
Último passo, À La Vonté!
Do Francês “a (la) volontê” (à vontade). Este é comando que realiza a diversão para quem, até aqui, cumpriu a marcação de todos os passos. No arraiá do mercado, é a diferença entre brincar à vontade ou dançar. Quem observou os procedimentos de valorização da diversidade e interagiu com as partes interessadas, brinca à vontade. Quem não observou, dança.
 
Desde a RIO+20,
 
realizada há um ano, a mais importante iniciativa de defesa do ambiente é o anúncio do Plano de ação climática, pelo presidente dos EUA, no final do mês passado. O plano está estabelecido sobre três eixos, a saber: preparação do país para suportar os impactos das mudanças climáticas, como os causados pelo furacão Sandy, em 2012; diminuição das emissões de dióxido de carbono (CO2) em 17% até 2020, tendo por base os níveis de emissões de 2005; e mobilização de esforços internacionais para eliminar barreiras comerciais, com vistas ao livre comércio de bens ambientais, a exemplo de painéis solares e turbinas eólicas.
 
O anúncio do plano, apesar dos seus aspectos meritórios, não elimina a necessidade de resolução de contradições, como a histórica resistência norte americana em subscrever o Protocolo de Quioto, que estabelece compromissos de redução das emissões de carbono pelos países desenvolvidos em 5,2%, entre 2008 e 2012, em relação aos níveis de 1990. O protocolo foi prorrogado até 2020, na Conferência climática de Doha, em dezembro de 2012.
 
Ou ainda, a contradição da chamada “revolução do xisto”, representada pela tecnologia de fratura hidráulica e perfuração horizontal, que consiste em fraturar a rocha em profundidade com uma combinação de água e de produtos químicos, projetada com alta pressão, para liberar os hidrocarbonetos. A tecnologia, consensualmente considerada contaminadora pelos ecologistas, levou o petróleo de xisto a representar 29% da produção de petróleo e 40% da produção de gás dos EUA, em 2012.
 
Paulo Márcio de Mello
paulomm@paulomm.pro.br
Professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

A coluna EMPRESA-CIDADÃ é publicada, desde 2001,
toda quarta-feira, no jornal Monitor Mercantil (www.monitormercantil.com.br).
Através dela, são apresentados conceitos relativos à responsabilidade social,
casos de empreendedores e empresas, pesquisas, resenhas ou agenda.

7 comentários:

  1. Aristóteles L de Figueiredo1 de agosto de 2013 às 07:49

    Os problemas advindos da exploração do gás de xisto podem ser muito maiores que os benefícios, uma vez que contaminar lençóis freáticos, que não se sabe bem de onde vem e para onde vão, acaba por tornar a prática uma loteria de resultados imprevisíveis e altamente danosos para o próprio home e meio ambiente. Verificando um comentário de Alexei Miller, presidente da Gazprom, a empresa russa que é a maior produtora mundial de gás, reflitamos uma vez mais: - a produção de cada poço não deve ultrapassar 15 ou 20 anos. Se esse for realmente o caso, não estamos de fato diante de uma "revolução", mas talvez de uma "bem organizada campanha de relações públicas" – Os EUA mais uma vez demonstram que dão um passopara frente dois para trás no quesito meio ambiente...

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  2. Os Estados Unidos da América desde sempre defendem a liberdade, desde que possam mandar. Tal qual a classe média brasileira retrógrada que posa de libertária, onde todos tem os mesmos direitos desde que tenham quem limpe sua privada por muito pouco dinheiro, respire fumaça tóxica em suas lanchonetes e seja escravizado em suas boutiques. Da mesma forma os EUA agem. Sua indústria bélica necessita de guerras para vender muito e assim meia dúzia de raposas do Tea Party ficarem mais podres de ricos, e volta e meia acontece alguma desculpa esfarrapada para uma guerra. Mas em contrapartida se arrogam os defensores da paz no mundo. Também sujam o mundo inteiro na medida em que a classe oligárquica dos países periféricos vende seus conterrâneos, e entra facilmente onde leis ambientais e trabalhistas são fracas e frouxas, favorecendo apenas uma das partes. Após sujarem bastante, envenenarem os rios, solo e tudo o mais, traçam metas de redução do lixo. Até acredito que seja uma meta de boa vontade, sinceramente, tal qual o viciado em drogas faz um pacto para se desintoxicar. A dança é a mesma de sempre, não importa qual seja a música: É um ser humano querendo legitimar a exploração do outro.

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  3. OS EUA aparentemente se movem em relação a sustentabilidade, mas como vemos nem tudo é como parece, a redução de 17 por cento é em relação a 2005, sendo que hoje a emissão já é muito maior, a revolução do xisto que apareceu como uma alternativa a exploração offshore, é apontada por especialistas como extremamente danosa ao meio ambiente, mas que para os EUA é muito benéfica por causa de suas grandes reservas.

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  4. A principal meta do protocolo de Kyoto era a redução, até 2012,das emissões de dióxido de carbono a níveis pelo menos 5% menores do que os que vigoravam em 1990. No ano de vencimento desta meta (2012) cerca de 200 países concordaram em estender o Protocolo da Kyoto até 2020. Infelizmente, países como Rússia (4º maior emissor de CO2), Japão (5º maior emissor de CO2) e Canada (8º maior emissor de Co2) abandonaram o procolo e os EUA (2º maior emissor de CO2) sequer assinou o Protocolo. Com isso, s nações que obedecerão suas regras até o ano-meta (2020) são responsáveis por apenas 15% (!!!) das emissões globais de Co2. Muito provavelmente, os presidentes da Rússia,Japão e Canadá mudaram as opiniões de outrora e resolveram pensar como George W. Bush: O protocolo de Kyoto é mesmo uma "má política"...

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  5. Vimos que a visão norte americana se volta hoje muita mais para questões de sustentabilidade do que em anos anteriores. Como a posição estabelecida em anos atrás no Protocolo de Kyoto, no qual se colocou contraria a proposta de redução de dióxido de carbono e no caso da Revolução de Xisto. Mas essa nova direção se encontra ainda muito abaixo do que realmente o EUA pode reduzir de dióxido de carbono, visto seu nível de poluição. Mas já é um bom começo, visto a influencia dessa medida em comparação com outros países no qual são influenciados pelos EUA. Como o caso da China, que a partir de então fica numa situação desconfortável em virtude dessa nova retomada da política norte americana.

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  6. Os EUA estão acostumados com um paradigma de produção e consumo dos séculos XIX e XX, época em que se acreditava que o planeta era um saco sem fundo, capaz de suprir todas as necessidades dos seres humanas eternamente, sem qualquer limite. A política externa americana, militar, expansionista e genocida é um reflexo desse tipo de pensamento. É difícil se readaptar e adquirir hábitos mais sustentáveis, mas, se quisermos ter um futuro na Terra, é necessário assumir essa responsabilidade para com as futuras gerações. É hora de mudar.

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  7. O desenvolvimento de novas tecnologias chegou a um patamar que a preocupação não é o meio ambiente, nem os interesses sociais, e sim o recurso. A busca incessante pela produção com investimentos menores não carregam sobre si a culpa de se poluir um ambiente. Mesmo que a médio prazo, tal prática é sim prejudicial. Ao mesmo tempo, é complicado garantir que empresas não façam isso. Bem verdade é que a Rio+20 deu alguns passos, esperaremos mais desfechos.

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