quarta-feira, 11 de setembro de 2013


 
Deserto do planejamento
 
                                                             
Importantes mudanças climáticas vão impactar
os biomas brasileiros de formas diferentes.
O que está sendo feito para o país
encarar as transformações
que mexerão com a vida das pessoas e
com a economia?
 
blog do professor paulo márcio
economia&arte
 
Quarta-feira, 11 de setembro de 2013
coluna EMPRESA-CIDADÃ
por Paulo Márcio de Mello*
 
      Relatório divulgado nesta semana pelo Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas indica a previsão de aumento do aquecimento no país, no decorrer deste século, com redução de chuvas no Norte e no Nordeste e aumento no Sudeste e no Sul. As margens da previsão são de 1ºC a 5ºC para a temperatura e de 5% a 20% nas mudanças no volume de chuvas, conforme o comportamento da emissão de gases causadores do aquecimento global.
 
      Os biomas da Amazônia, Cerrado e Caatinga deverão experimentar secas mais intensas, com a possibilidade de transformação do Semiárido nordestino em deserto. Na Amazônia, até 2040, haverá redução de 10% de chuvas e elevação de até 1,5ºC na temperatura.
 
      De 2040 até 2070, a redução prevista no volume de chuvas é de 25% a 30% e aumento na temperatura de 3ºC a 3,5ºC. De 2071 até o final do século XXI, a diminuição no regime de chuvas alcançará de 40% a 45% e a elevação da temperatura atingirá de 5ºC a 6ºC. O desmatamento contribui para acentuar a gravidade dos fenômenos, acarretando a savanização da Amazônia.
 
      Dados do Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), operado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), divulgados na mesma semana, mostram que o número de alertas sobre desmatamento e degradação da Floresta Amazônica cresceu 35%, entre agosto de 2012 e julho de 2013, na comparação com igual período do ano anterior.
 
      As áreas atingidas chegam a 2.766 km2, enquanto no ano precedente chegou a 2.051 km2, representando uma perda 35% maior. As queimadas, por causas naturais e intencionais, respondem pela expansão das áreas degradadas. A maior parte dos alertas foi representada pelo corte raso da vegetação (59%), seguida por fogo (33%) e exploração florestal (3%). O restante (5%) é decorrente de falhas técnicas na apuração das imagens de satélite.
 
      Os estados mais afetados pelos alertas de detecção de desmatamento são Mato Grosso, Pará, Rondônia e Amazonas. Mato Grosso liderou a devastação no último ano, com 1.184km2, mais 25% em relação ao ano anterior. A pecuária extensiva explica a devastação.
 
      No estado do Pará, a região mais atingida é o eixo da BR 163 (Cuiabá - Santarém), pela pecuária e pela grilagem. No Amazonas, as regiões mais visadas são o Sul do estado, pelo desmatamento, e o eixo da rodovia Transamazônica, pelas atividades da pecuária.
 
      A ação de madeireiras também prejudica a região. De agosto de 2012 até abril de 2013, o Ibama apreendeu 68.000 m3 de madeira em toras e 17.000 m3 de madeira serrada. Foram embargados 252.000 ha, emitidos 4.000 autos de infração, atingindo quase R$ 2 bilhões em multas, apreendidos 86 caminhões, 158 tratores e 291 motosserras.
 
      Na Caatinga, até 2040, deverá ocorrer um acréscimo de 0,5ºC a 1ºC na temperatura e redução no volume de chuvas de 10% a 20%. De 2041 a 2070, o aumento da temperatura será de 1ºC a 2,5ºC e a redução no volume de chuva de 25% a 35%. De 2071 até o final do século, a temperatura será elevada de 3,5ºC a 4,5ºC e a diminuição das chuvas será de 40% a 50%.
 
      No Cerrado, estão previstas elevação de 1ºC na temperatura e redução de 10% a 20% nas chuvas, até 2040. De 2041 até 2070, a temperatura será elevada de 3ºC a 3,5ºC e a quantidade de chuvas será reduzida de 20% a 35%. De 2071 até o final do século, o aumento da temperatura ficará entre 5ºC e 5,5ºC e a diminuição de chuvas entre 35% e 45%.
 
      O Pantanal, até 2040, deverá sentir aumento de 1ºC na temperatura e diminuição de 5% a 15% no regime de chuvas. Daí até 2070, o volume de chuvas será reduzido, caindo de 10% a 25%, enquanto a temperatura será elevada de 2,5ºC a 3ºC. Após 2070 até o final do século, a temperatura será elevada de 3,4ºC a 4,5ºC e o volume de chuvas será reduzido de 35% a 45%.
 
      O nordeste da Mata Atlântica, até 2040, verificará alta de temperatura entre 2ºC e 3ºC e redução de chuva entre 20% e 25%. Daí para o final do século, as mesmas variações serão sentidas. No sul e sudeste da Mata Atlântica, a temperatura subirá entre 2,5ºC e 3ºC,  até o final do século.
 
      Nos Pampas, as projeções são de 5% a 10% mais chuvas e 1ºC mais de temperatura, até 2040. A partir de então, o aquecimento oscilará entre 1ºC e 1,5ºC e a intensificação das chuvas será de 15% a 20%, até 2070. Até o final do século, a alta de temperatura será de 2,5ºC a 3ºC e o aumento de chuvas será de 35% a 40%.
 
      As projeções do Painel ocuparam três anos de estudos e envolveram mais de 300 cientistas brasileiros. O planejamento de soluções para as impactantes transformações que as mudanças climáticas terão na vida dos brasileiros e das suas atividades econômicas exige urgência.
 
*Paulo Márcio de Mello
paulomm@paulomm.pro.br
Professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)
 
A coluna EMPRESA-CIDADÃ é publicada, desde 2001, toda quarta-feira,
no centenário jornal Monitor Mercantil (www.monitormercantil.com.br).
Através dela, são apresentados casos de empreendedores e empresas,
pesquisas, resenhas, editais ou agenda, relativos à responsabilidade social, à sustentabilidade e ao desenvolvimento sustentável.

2 comentários:

  1. Já se sabe que o aquecimento global é o principal causador das mudanças meteorológicas no mundo. Com a descoberta desse causador, diversos países se juntaram com a pretensão de reduzir a emissão dos gases causadores do efeito estufa, contudo sem a presença dos Estados Unidos, maior emissor desses gases, formando o Protocolo de Kyoto. Além desse protocolo, o Brasil também assinou a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança Climática, na Eco-92. Entretanto, apesar dessas assinaturas, o Brasil está entre os 10 maiores emissores mundiais de gases estufa. De uns anos para cá, o Brasil tem elaborado planos para diminuir essa emissão. Resta saber se esses planos serão cumpridos...O ideal para que haja uma diminuição desses gases seria a conscientização da população para tentar minimizar o desmatamento, além de expandir as novas gerações de energias limpas; ex: a energia eólica que está crescendo muito em países desenvolvidos, como a Alemanha, energia solar etc.. Dessa forma será possível que ocorra uma redução desse efeito estufa e os biomas brasileiros deixarão de ser um alvo dessas mudanças climáticas.
    Ass: Ana C.N.P de la Cal

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  2. Nós estamos seriamente "endividados" com a Natureza, e teremos que correr muito atrás para nos recuperarmos desses danos, alguns infelizmente permanentes. As próximas gerações é que irão ter que pagar por essas escolhas que fazemos hoje, como foi dito pela Ana no comentário acima, acordos já foram feitos ao longo da história, mas a economia parece sempre falar mais alto, assinar um documento de diminuição de gases para um país como EUA significa ter que diminuir sua produção, o que consequentemente afetaria sua economia, mas o que eles ainda não perceberam é que esse mesmo crescimento sem precedentes é que vai acabar por nos destruir e destruir nosso planeta. Países emergentes como Brasil, já devem com urgência tratar essas questões com seriedade, pois nós já somos um grande exemplo quando se fala de poluição ambiental, e em contraste a essa realidade também somos um país de imensos recursos naturais, a ciência, incluindo as ciências econômicas, precisam se aplicar cada vez mais nesse assunto em busca de novas fontes de energias, e opções melhores para a população e para o meio ambiente.
    Aluna: Clarice Miranda de Carvalho

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