terça-feira, 12 de novembro de 2013

Retrato em branco e preto
 
Assim como a população brasileira está se “desbranqueando”
por motivos sociocomportamentais,
há um longo caminho a ser percorrido pelas empresas,
até que cheguem a retratar o mesmo tom da população.
 
blog do professor paulo márcio
economia&arte
 
Quarta-feira, 13 de novembro de 2013
coluna EMPRESA-CIDADÃ
por Paulo Márcio de Mello*
 
u      A participação de pretos e pardos na composição da população residente no Brasil atingiu a marca de 53% do total, a partir de 2012. Dez anos antes, este segmento representava apenas 46,1% do total. É o que indica a mais recente edição do boletim eletrônico Tempo em Curso, editado pelo Laboratório de Análises Econômicas, Históricas, Sociais e Estatísticas das Relações Raciais (LAESER, www.laeser.ie.ufrj.br/) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A análise é baseada em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).
 
u       A análise detalhada por população de pardos e população de pretos demonstra que, entre 2002 e 2012, os homens e mulheres pardos aumentram a participação relativa no total da população de 40,5% para 45,5%. A participação relativa dos homens e mulheres pretos cresceu de 5,6% para 7,9%. Em todas as faixas etárias observadas, o mesmo fenômeno foi constatado, com destaque para a faixa compreendida entre os 10 e 19 anos, que chegou a 60%.
 
u       A análise propõe duas hipóteses para explicar o fenômeno. A primeira delas estaria relacionada a aspectos demográficos, como alterações nas taxas de fecundidade ou mortalidade dos grupos de cor ou raça. A segunda hipótese estaria relacionada a aspectos culturais, políticos e sociais, modificados por presumível mudança na percepção da presença afrodescendente na sociedade, influenciada por políticas de ação afirmativa implementadas no período.
 
Rendimentos do trabalho
 
Em agosto de 2013, o rendimento médio habitualmente recebido pela população economicamente ativa (PEA) ocupada, de mulheres e homens, nas seis maiores regiões metropolitanas do país (Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo), foi de R$1.883,02. Em relação a agosto de 2012, o crescimento foi de 1,3%.
 
Em agosto de 2013, o rendimento médio das mulheres e homens pretos e pardos da PEA foi igual a R$1.351,50, enquanto o rendimento médio das mulheres e homens brancos foi de R$2.320,89. Portanto, superior em 71,7%. O hiato, em agosto de 2012, foi de 77,6%.
 
Entre agosto de 2012 e agosto de 2013, observou-se um acréscimo de 0,2% nos rendimentos da PEA branca e de 3,6% para a PEA preta e parda. Entre os homens brancos verificou-se um crescimento da ordem de 1,7% e, entre os homens pretos e pardos, houve um crescimento de 3,6%. Entre as mulheres brancas, foi identificada uma queda nos rendimentos de 1,6%, enquanto entre as mulheres pretas e pardas, constatou-se um aumento de 4,8%.
 
Em agosto de 2013, o rendimento médio anual das mulheres brancas era 68,7% superior ao das mulheres pretas e pardas. A diferença experimentou uma redução de 11,1 pontos percentuais, em relação a agosto de 2012.
 
Em agosto de 2013, a diferença entre os rendimentos dos homens brancos e das mulheres pretas e pardas era igual a 139,2%. No mesmo período, os rendimentos das mulheres brancas foram 23,7% mais elevados do que dos homens pretos e pardos.
 
Desemprego
 
Em agosto de 2013, a taxa de desemprego dos homens e mulheres, das seis maiores regiões metropolitanas, foi igual a 5,3%, mesmo percentual observado em agosto de 2012. O desemprego de mulheres e homens brancos foi de 4,3% (4,4%, em 2012) e, entre mulheres e homens pretos e pardos, alcançou 6,4% (6,3%, em 2012).
 
Durban
 
Uma declaração de conteúdo ético que pode contribuir para a definição de políticas publicas ou empresariais, com o objetivo de corrigir estas iniquidades, é a Declaração de Durban. Leva o nome da cidade da África do Sul onde foi realizada, em setembro de 2001, a III Conferência Mundial de Combate ao Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata.
 
Entre as referências objetivas que faz a algumas possibilidades de atuação das empresas, está o parágrafo 63, que incentiva o setor empresarial a desenvolver códigos de conduta, visando a impedir o tráfico de seres humanos e a proteção das suas vítimas.
 
No item referente ao emprego, a Declaração de Durban menciona a necessidade de organização e funcionamento de empresas cujos proprietários tenham sido vítimas de racismo, discriminação racial, xenofobia e intolerância correlata, com a correspondente promoção da igualdade de condições de acesso ao crédito e a programas de treinamento.
 
O parágrafo 104 menciona o apoio à criação de locais de trabalho livres de discriminação, através de estratégias complexas, que incluam o cumprimento dos direitos civis e a proteção dos direitos dos trabalhadores.
 
No parágrafo 215, a declaração propõe aos Estados adotarem medidas para assegurar que as corporações transnacionais operem nos territórios nacionais, respeitando preceitos e práticas livres de racismo e de discriminação. Incentiva ainda a colaboração com sindicatos para o desenvolvimento de códigos de conduta de adoção voluntária, destinados à prevenção, ao combate e à erradicação do racismo.
 
As propostas da Declaração de Durban podem ajudar a equilibrar o retrato em preto e branco das empresas, hoje, muito mais branco do que preto.
 
Paulo Márcio de Mello
Professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)
 
A coluna EMPRESA-CIDADÃ é publicada, desde 2001, toda quarta-feira,
no centenário jornal Monitor Mercantil (www.monitormercantil.com.br).
Através dela, são apresentados casos de empreendedores e empresas,
pesquisas, resenhas, editais ou agenda, relativos à responsabilidade social, à sustentabilidade e ao desenvolvimento sustentável.


14 comentários:

  1. Essa adequação das empresas à realidade étnica do Brasil deve ultrapassar a proposta no âmbito coorporativo e se refletir nas campanhas de publicidade. Campanhas quase sempre com protagonistas mais identificáveis com qualquer cidadão austríaco do que com um cidadão brasileiro.

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  2. Ao longo dos anos, o povo negro vem ganhando destaque na sociedade mundial, seja através de lideres políticos como personagens da mídia. A grande questão de fato é, saber até quando o povo negro será discriminado por sua cor, pois erroneamente são tratados como seres inferiores aos brancos, quando na verdade, são tão fundamentais para a sociedade quanto qualquer outro tipo de grupo étnico. É necessário que haja menos discriminação racial e sim mais igualdade, pois no mundo de hoje, não somos nada sozinhos, sempre precisando da ajuda do próximo.

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  3. Parece ter acabado, mas se analisarmos criticamente os dados apresentados hoje em dia, iremos notar o racismo atuante na sociedade brasileira, nos empregos, nas escolas, nas empresas. Precisos não esquecer que o nosso país tem um histórico recente de combate ao racismo, e que iniciativas como a Declaração de Durban são muito importantes no que se diz a luta contra esse preconceito, ainda mais quando se cria esses tipo de normas à empresas, e concordo que essas medidas precisam ser alongadas à publicidade, que ainda é um meio de manipulação e segregação quando falamos de negros e mulheres

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  4. O racismo é qualquer pensamento ou atitude que separam as raças humanas por considerarem algumas superiores a outras. Quando tocamos neste assunto logo pensamos que é contra negros, porém é um preconceito baseado na diferença de raças poderia ser contra asiáticos, índios, até com brancos. O Brasil em diversos setores como educação, trabalho e turismo, tem se mostrado com uma população preconceituosa em relação aos homens e mulheres negros e pardos, segundo os dados apresentados pelo texto acima. Acredito que as pessoas deveriam levar em consideração que este grupo étnico foi de grande importãncia no processo de colonização brasileira e que possuem declarações, leis que amparam este grupo tanto como qualquer outro grupo étnico. Antes de tudo devemos respeitar o outro independente de sua raça, cor ou sexo.

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  5. Apesar dos países estarem cada vez se desenvolvendo mais, alguns aspectos continuam limitados, como por exemplo a discriminação racial. É evidente que esse preconceito está diminuindo, mas em pleno século XXI é incrível pensar que há indivíduos que acreditam ainda que a cor da pele pode influenciar na inteligência, no caráter etc... É muito bom saber que iniciativas como a Declaração de Durban estão presentes para tentar alterar e combater a ideia do racismo. Acredito que o governo brasileiro deveria fazer mais iniciativas, pois há poucas ainda no nosso pais. Eles vêm tentando erroneamente criar leis, como a cota para negros, que nada mais é do que um ato discriminatório, pois os fazem acreditar que necessitam de uma “ajuda” pelo fato de terem outra cor. O governo precisa, sim, de projetos úteis que visam a igualdade da sociedade.
    Ass: Ana de la Cal.

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  6. Sabemos muito bem que ainda existe preconceito no Brasil hoje em dia, como podem comprovar alguns indicadores que são mostrados nesse texto : os de rendimento de trabalho e desemprego . Logo, observamos que os negros e pardos estão lutando por um espaço, onde sejam vistos iguais aos brancos , mas mesmo assim, ainda continuam sendo inferiorizados. Por isso concordo com politicas de ações afirmativas para este determinado grupo étnico que não tem uma oportunidade igualitária aos demais, sendo assim precisam dessas ações . Acredito que ações como a Declaração de Durban se tornam essenciais para que haja esse "desbranqueamento" e que sirva de exemplo para que venham novas ações em prol deste grupo étinico

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  7. O Brasil, é um país que ainda possui muitas diferenças entre pretos e pardos quando comparados aos brancos. O texto mostra que essas diferenças está diminuindo, porém ainda existe diferenças raciais, principalmente quando analisamos os cargos ocupados nas empresas ou os salários que são muitas vezes discrepantes. A declaração de Durban é muito importante ao auxiliar na construção de uma sociedade mais igualitária, que se tornou um dos principais objetivos do nosso país.

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  8. As mudanças apresentadas no texto em relação a população branca, negra e parda, retrata a evolução social que o Brasil apresenta. Mas muito ainda precisa ser feito pra que o preconceito, e a desigualdade sejam extintos de verdade.
    Segundo o dicionário, preconceito é um conceito ou opinião formados antes de se ter os conhecimentos adequados; opinião ou sentimento desfavorável, concebido antecipadamente ou independente de experiência ou razão. Portanto ainda que as diferenças financeiras acabem, a aparência ( a cor ) ainda é um problema, bem antigo afinal, herança deixada pela escravidão e por causa deste fato os negros eram ( e por alguns ainda são ) tratados como seres inferiores pelos brancos. Para uma sociedade verdadeiramente igualitária o pensamento das pessoas precisam mudar, e isso nenhuma campanha ou investimento do governo pode conseguir.

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  9. Letícia Quaresma Paolino6 de janeiro de 2014 às 15:00

    Parece ter acabado, mas se analisarmos criticamente os dados apresentados hoje em dia, iremos notar o racismo atuante na sociedade brasileira, nos empregos, nas escolas, nas empresas. Precisos não esquecer que o nosso país tem um histórico recente de combate ao racismo, e que iniciativas como a Declaração de Durban são muito importantes no que se diz a luta contra esse preconceito, ainda mais quando se cria esses tipo de normas à empresas, e concordo que essas medidas precisam ser alongadas à publicidade, que ainda é um meio de manipulação e segregação quando falamos de negros e mulheres

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  10. Erika Cipriano de Sousa24 de janeiro de 2014 às 05:10

    A questão do combate ao racismo no Brasil, é um grande desafio, já que o que encontra-se é o famoso "racismo á brasileira", ou seja, a existência do racismo dissimulado. O que não deveria acontecer, pois a população negra e parda representa mais da metade da população do Brasil, é renegar a própria identidade brasileira, caracterizada há décadas por essa mistura, por essa miscigenação. É muita ignorância por parte das pessoas, conservar esse pensamento antigo de que os negros são inferiores ou menos capacitados de deter de qualidades positivas.
    As propostas da Declaração de Durban, se aplicada seria muito benéfica para a inclusão desse grupo. Mas do que adianta a existência de diversas leis, declarações se não colocadas em prática? De nada adianta.
    Por isso, o critério de raça deve ser anulada, a política de cotas para negros é uma forma de afirmarem tal distinção. A concepção das pessoas frente á esse grupo têm de mudar, temos que evoluir não só economicamente, mas principalmente como cidadãos.

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  11. Gabriella da Costa Cunha26 de janeiro de 2014 às 07:49

    Em uma sociedade como a nossa, na qual negros e pardos ainda sofrem uma discriminação que é refletida tanto nos cargos de trabalho que ocupam, até no acesso à educação e ao lazer, é indispensável o constante debate sobre racismo e sobre ações que possam mudar este cenário.
    No entanto, o maior obstáculo no que diz respeito ao Brasil é o fato do preconceito se dar de forma velada, e por isso, tornar-se mais difícil de ser combatido. O resultado disso é que, apesar do Brasil possuir várias leis que coíbem a discriminação racial, ainda são lentas as transformações na sociedade.
    Apesar da grande importância, apenas o esforço do governo com a aplicação de ações e políticas públicas para a inserção destes grupos não é capaz de reverter essa situação, pois na verdade, o ideal seria a mudança (ou evolução!) do pensamento de toda a sociedade em busca da verdadeira igualdade entre todos os cidadãos.

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  12. Lamentavelmente ainda convivemos com o preconceito, e para mim isto é algo inadmissível, pois como podem julgar a capacidade de alguém pela sua cor de pele? É desanimador em pleno século XXI ainda existir racismo. Infelizmente algumas pessoas pensam que são alguém para julgar, mas no fim da vida todos voltam a ser pó. Então não adiante querer se sentir melhor do que ninguém, porque não somos nada para se achar. Em relação ao texto Acho muito legal essa iniciativa da cidade de Durban pois valorizam as pessoas e mostra para o resto do mundo que ainda temos que lutar contra o racismo.
    Aluna: Raquel de Almeida Alvarenga.

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  13. Uma dessas menções feitas pela Declaração de Durban, a do item que se refere ao emprego, diz haver "necessidade de organização e funcionamento de empresas cujos proprietários tenham sido vítimas de racismo, discriminação racial, xenofobia e intolerância correlata" e o legal é que ela poderia ser facilmente comparada a uma lei do Governo de Vargas! No pós abolição da escravidão no Brasil, por volta da década de 30, Getúlio garantiria uma participação "mais efetiva" ou, pelo menos, alguma participação dos negros na sociedade e, para isso, decretou que as empresas seriam obrigadas a contratar os brasileiros, de fato, e que, em sua grande maioria, eram os negros. Na verdade, 2/3 dos trabalhadores de qualquer estabelecimento haveriam de ser negros. E é claro que assim como em 1930, nos dias atuais, essa proposta feita pela Declaração de Durban promove uma maior inclusão social no âmbito industrial e empresarial dos negros. E olha que bacana! No livro do escritor Petrônio Domingues, "Uma história NÃO contada", que eu tive o prazer de trabalhar no colégio com algumas partes, é mencionado esse decreto de Vargas, junto a uma declaração de um ativista negro que viveu naquele período que diz "[...] quando houve o surto industrial de São Paulo, em 1915, 1916 e 1917, o negro não tinha profissão definida e só começou a ter profissão depois de 1930, com uma lei do sr. Getúlio Vargas, que exigia de todos os estabelecimentos, fábrica, indústria, uma proporção de brasileiro e brasileiro de cor. Isso foi importante porque o negro começou a ter profissão, começou a ter emprego". Ou seja, assim como já feito pelo pai do povo há mais de 80 anos, Durban hoje AINDA tenta reverter essa situação do "branqueamento". A atitude é boa, impecável, só falta consciência da população e, principalmente, como bem frisa o sociólogo Florestan Fernandes, acabar com o "preconceito do preconceito"; que é o pior preconceito que o brasileiro poderia portar, o de acreditar que não tem preconceito.

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  14. Embora o percentual de negros e pardos tenha aumentado (como mostra o texto), é possível observar que a taxa de desemprego na população negra e parda é também maior e isso mostra que,apesar da miscigenação característica do Brasil, ainda existe preconceito por parte das empresas ( estrangeiras, em sua maioria) que, ainda que disfarçadamente, são praticantes do racismo e, infelizmente, casos de discriminação são muito frequentes.
    É preciso que haja uma visão humanística geral que sobreponha cor de pele. Somos todos da raça humana, portanto, possuímos capacidades iguais. Chega dessa história de o negro ter que ser duplamente melhor que o branco para provar que é capaz !

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