domingo, 28 de dezembro de 2014

Supermercado da xepa
                                                             

A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) estima que 1/3 de todos os alimentos produzidos são desperdiçados. Muitas vezes, o descarte é feito por danos nas embalagens, erros nos rótulos ou pela aparência.

blog do professor paulo márcio
economia&arte

coluna EMPRESA-CIDADÃ
Quarta-feira, 24 de dezembro de 2014
Paulo Márcio de Mello*

     A 20ª Conferência das Partes da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas ou, simplesmente, Conferência do Clima de Lima (COP 20), reabilitou sentimentos de conferências anteriores, como decepção, frustração e até ... esperança.

       O cenário da COP 20 é a assertiva do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC; www.ipcc.ch), segundo a qual é necessário reduzir de 40% a 70%, até 2050, tendo por base os dados de 2010, o total de emissões dos gases causadores do aquecimento global e zerar as emissões, até 2100, para frear a elevação da temperatura em 2ºC, até o final deste século.

     Em 2013, o acesso aos alimentos foi uma preocupação para 34,5 milhões de brasileiros. Este número corresponde a cerca de 17% da população residente em domicílios particulares em situação de insegurança alimentar leve, ou 14,8% do total dos domicílios onde havia algum tipo de insegurança.

       No total, 52 milhões de brasileiros não tiveram acesso ao alimento de qualidade, na quantidade satisfatória, correspondendo a residentes nos 22,6% dos 65,2 milhões dos domicílios registrados. Este número já foi pior. Em 2004, eram 34,8 % dos domicílios e, em 2009, 29,5%. É o que informa o suplemento de Segurança Alimentar da Pesquisa Nacional por Amostra Domicílios (Pnad) 2013, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

       Outro contingente, com cerca de 10,3 milhões de brasileiros, cerca de 5,1% da população, conviveu com a limitação de acesso à quantidade satisfatória de alimentos. Representam 4,6% dos domicílios. Foram casos de insegurança alimentar moderada, aquela em que as pessoas convivem com a restrição de alimentos, de modo quantitativo.

       Um terceiro contingente, com 7,2 milhões de brasileiros, equivalentes a 3,6% da população, em 3,2% dos domicílios, chegaram a experimentar a fome, em 2013. É o caso da insegurança alimentar grave, cujo grau mais acentuado é a fome. Em 2004, este percentual de domicílios era de 6,9% e, em 2009, de 5%.

    Por outro lado, em situação de segurança alimentar, o número de famílias aumentou. Passou de 70,5%, em 2009, para 77,4%, em 2013. Significa que cerca de 150 milhões de brasileiros tiveram acesso permanente e regular, em quantidade, a alimentos de qualidade.

     Segundo o estudo, nos domicílios com brasileiros em situação de insegurança alimentar moderada ou grave, 7,4% da população residente habitavam áreas urbanas, enquanto 15,8% da população estavam em áreas rurais.

     Em relação às regiões geográficas, dos brasileiros residentes em domicílios em situação de insegurança alimentar, 36,1% localizavam-se na região Norte e 38,1% na região Nordeste. O menor índice foi o da região Sudeste, com 14,5% do total dos residentes em domicílios em situação de insegurança alimentar.

      Do percentual de brasileiros residentes em domicílios em situação de insegurança alimentar grave, 6,7% localizavam-se na região Norte; 5,6% na região Nordeste, enquanto na região Sul estavam 1,9% e na região Sudeste 2,3%. Entre 2004 e 2013, o maior crescimento percentual de domicílios livres da insegurança alimentar foi o do Nordeste, com 15,5%.

       Em 2013, o estado com o melhor índice de segurança alimentar foi o Espírito Santo (89,65% dos domicílios), seguido de Santa Catarina (88,9%) e São Paulo (88,4%), enquanto no Maranhão (39,1%) e no Piauí (39,1%) verificaram-se os piores índices. Os índices de segurança alimentar de todos os estados da região Nordeste ficaram abaixo da média nacional de 77,4% e, entre os estados da região Norte, só o estado de Rondônia superou-a (78,4%).

Supermercado da “xepa”

A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) estima que 1/3 de todos os alimentos produzidos são desperdiçados, situação agravada nos países mais industrializados, onde 300 milhões de alimentos são descartados anualmente, apesar de terem condições de consumo.

Muitas vezes, o descarte é feito por danos nas embalagens, erros nos rótulos ou pela aparência. Apesar de conservarem as suas propriedades alimentícias, ficam impedidos de frequentar as gôndolas dos supermercados. Os produtos descartados são elegantemente chamados de excedentes.

Na Europa começam a surgir supermercados voltados para a comercialização de excedentes, também chamados de supermercados sociais, que oferecem descontos de até 70% sobre os preços dos alimentos. Inglaterra, França, Espanha e Áustria já têm empreendimentos deste tipo.

Na Inglaterra surgiu o Community Shop, que tem a previsão de abertura de novos estabelecimentos. Trata-se de uma marca da Company Shop, rede tradicional de distribuição de excedentes. A loja-piloto do Community Shop fica na comunidade de Goldthorpe, região de muitas famílias de baixa renda, na cidade inglesa de Yorkshire. Inicialmente, a rede vendia os excedentes para os próprios colaboradores.

O conceito do Community Shop é o de atender à população que é cadastrada como beneficiária dos programas sociais do governo, oferecendo a ela programas de apoio financeiro, apoio social, instrução sobre culinária e sobre orçamento familiar.

No Brasil, estima-se em 40 mil toneladas/dia o total de excedentes, alimentos próprios para consumo que são jogados no lixo. Este número só não é maior pela existência da tradicional instituição brasileira, conhecida nas feiras livres como “xepa”, horário próximo do encerramento, em que as ofertas e promoções derrubam os preços. E a maledicência da vizinha faladeira derruba reputações...

Paulo Márcio de Mello
Professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

A coluna EMPRESA-CIDADÃ é publicada, desde 2001, toda quarta-feira,
no centenário jornal Monitor Mercantil (www.monitormercantil.com.br).
São mais de 600 edições apresentando casos de empreendedores e empresas,
pesquisas, resenhas, editais ou agenda, relativos à sustentabilidade,

à responsabilidade social e ao desenvolvimento sustentável.

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