Supermercado da xepa
A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO)
estima que 1/3 de todos os alimentos produzidos são desperdiçados. Muitas
vezes, o descarte é feito por danos nas embalagens, erros nos rótulos ou pela aparência.
blog do professor paulo márcio
economia&arte
coluna
EMPRESA-CIDADÃ
Quarta-feira, 24 de dezembro de 2014
Paulo Márcio
de Mello*
■ A 20ª Conferência das Partes da Convenção
Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas ou, simplesmente,
Conferência do Clima de Lima (COP 20), reabilitou sentimentos de conferências
anteriores, como decepção, frustração e até ... esperança.
■ O cenário da COP 20 é a assertiva do
Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC; www.ipcc.ch), segundo a qual é necessário reduzir
de 40% a 70%, até 2050, tendo por base os dados de 2010, o total de emissões
dos gases causadores do aquecimento global e zerar as emissões, até 2100, para
frear a elevação da temperatura em 2ºC, até o final deste século.
■ Em 2013, o acesso aos alimentos foi uma
preocupação para 34,5 milhões de brasileiros. Este número corresponde a cerca
de 17% da população residente em domicílios particulares em situação de
insegurança alimentar leve, ou 14,8% do total dos domicílios onde havia algum
tipo de insegurança.
■ No total, 52 milhões de brasileiros não tiveram
acesso ao alimento de qualidade, na quantidade satisfatória, correspondendo a residentes
nos 22,6% dos 65,2 milhões dos domicílios registrados. Este número já foi pior.
Em 2004, eram 34,8 % dos domicílios e, em 2009, 29,5%. É o que informa o
suplemento de Segurança Alimentar da Pesquisa Nacional por Amostra Domicílios
(Pnad) 2013, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE).
■ Outro contingente, com cerca de 10,3
milhões de brasileiros, cerca de 5,1% da população, conviveu com a limitação de
acesso à quantidade satisfatória de alimentos. Representam 4,6% dos domicílios.
Foram casos de insegurança alimentar moderada, aquela em que as pessoas
convivem com a restrição de alimentos, de modo quantitativo.
■ Um terceiro contingente, com 7,2 milhões
de brasileiros, equivalentes a 3,6% da população, em 3,2% dos domicílios, chegaram
a experimentar a fome, em 2013. É o caso da insegurança alimentar grave, cujo
grau mais acentuado é a fome. Em 2004, este percentual de domicílios era de
6,9% e, em 2009, de 5%.
■ Por outro lado, em situação de segurança
alimentar, o número de famílias aumentou. Passou de 70,5%, em 2009, para 77,4%,
em 2013. Significa que cerca de 150 milhões de brasileiros tiveram acesso permanente
e regular, em quantidade, a alimentos de qualidade.
■ Segundo o estudo, nos domicílios com
brasileiros em situação de insegurança alimentar moderada ou grave, 7,4% da
população residente habitavam áreas urbanas, enquanto 15,8% da população
estavam em áreas rurais.
■ Em relação às regiões geográficas, dos brasileiros
residentes em domicílios em situação de insegurança alimentar, 36,1% localizavam-se
na região Norte e 38,1% na região Nordeste. O menor índice foi o da região
Sudeste, com 14,5% do total dos residentes em domicílios em situação de
insegurança alimentar.
■ Do percentual de brasileiros residentes
em domicílios em situação de insegurança alimentar grave, 6,7% localizavam-se
na região Norte; 5,6% na região Nordeste, enquanto na região Sul estavam 1,9% e
na região Sudeste 2,3%. Entre 2004 e 2013, o maior crescimento percentual de
domicílios livres da insegurança alimentar foi o do Nordeste, com 15,5%.
■ Em 2013, o estado com o melhor índice de
segurança alimentar foi o Espírito Santo (89,65% dos domicílios), seguido de
Santa Catarina (88,9%) e São Paulo (88,4%), enquanto no Maranhão (39,1%) e no
Piauí (39,1%) verificaram-se os piores índices. Os índices de segurança
alimentar de todos os estados da região Nordeste ficaram abaixo da média
nacional de 77,4% e, entre os estados da região Norte, só o estado de Rondônia
superou-a (78,4%).
Supermercado
da “xepa”
A Organização das Nações Unidas para Alimentação e
Agricultura (FAO) estima que 1/3 de todos os alimentos produzidos são desperdiçados,
situação agravada nos países mais industrializados, onde 300 milhões de
alimentos são descartados anualmente, apesar de terem condições de consumo.
Muitas vezes, o descarte é feito por danos nas
embalagens, erros nos rótulos ou pela aparência. Apesar de conservarem as suas
propriedades alimentícias, ficam impedidos de frequentar as gôndolas dos
supermercados. Os produtos descartados são elegantemente chamados de
excedentes.
Na Europa começam a surgir supermercados voltados para
a comercialização de excedentes, também chamados de supermercados sociais, que
oferecem descontos de até 70% sobre os preços dos alimentos. Inglaterra,
França, Espanha e Áustria já têm empreendimentos deste tipo.
Na Inglaterra surgiu o Community Shop, que tem a
previsão de abertura de novos estabelecimentos. Trata-se de uma marca da
Company Shop, rede tradicional de distribuição de excedentes. A loja-piloto do
Community Shop fica na comunidade de Goldthorpe, região de muitas famílias de
baixa renda, na cidade inglesa de Yorkshire. Inicialmente, a rede vendia os
excedentes para os próprios colaboradores.
O conceito do Community Shop é o de atender à
população que é cadastrada como beneficiária dos programas sociais do governo,
oferecendo a ela programas de apoio financeiro, apoio social, instrução sobre culinária
e sobre orçamento familiar.
No Brasil, estima-se em 40 mil toneladas/dia o total
de excedentes, alimentos próprios para consumo que são jogados no lixo. Este
número só não é maior pela existência da tradicional instituição brasileira,
conhecida nas feiras livres como “xepa”, horário próximo do encerramento, em
que as ofertas e promoções derrubam os preços. E a maledicência da vizinha
faladeira derruba reputações...
Paulo Márcio de Mello
Professor da Universidade do Estado
do Rio de Janeiro (UERJ)
A coluna
EMPRESA-CIDADÃ é publicada, desde 2001, toda quarta-feira,
no centenário
jornal Monitor Mercantil (www.monitormercantil.com.br).
São mais de 600
edições apresentando casos
de empreendedores e empresas,
pesquisas, resenhas, editais ou agenda, relativos à sustentabilidade,
à
responsabilidade social e ao desenvolvimento sustentável.
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