quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Amanhã, presidente?!
                                                        
Das 49.932 vítimas de homicídios no Brasil,
74,6% eram negras,
53,5% eram jovens entre 15 e 29 anos,
e 91,3 eram do sexo masculino,
de acordo com dados do Ministério da Saúde, de 2010.
Gente muito parecida com a que participa dos rolezinhos.
A Associação Brasileira de Lojistas de Shopping, apesar disto,
insiste em impedir a entrada deles nos “shoppings”.
E mais nada.
 
blog do professor paulo márcio
economia&arte
 
Quarta-feira, 22 de janeiro de 2014
coluna EMPRESA-CIDADÃ
por Paulo Márcio de Mello*
 
 u     O presidente da Alshop, Nabil Sahyoun frequentou os noticiários, no início desta semana, ao solicitar reunião à presidente Dilma Rousseff e ao ministro José Eduardo Cardoso, tendo como pauta impedir que os “rolezinhos” sejam realizados nos “shoppings centers” do país Referindo-se a estes encontros de jovens, ele afirmou que "podemos amanhã lamentar mortes".
 
u      Dados do Ministério da Saúde (SVS/DASIS/Sistema de Informações sobre Mortalidade – SIM, 2010) mostram que 49.932 pessoas morreram no Brasil, vítimas de homicídio, ou seja, 26,2 a cada 100 mil habitantes. Destas, 70,6% das vítimas eram negras.
 
u      Precipitou o envio do ofício da Alshop o fechamento do Shopping Leblon, no Rio de Janeiro, no final de semana, para impedir a entrada de participantes de um "rolezinho", combinado através das redes sociais. O presidente da Alshop lembrou sutilmente à presidente que os “shoppings” são "importantes na geração de empregos e no recolhimento de impostos".
 
u      Em 2010, 26.854 jovens entre 15 e 29 foram vítimas de homicídio, ou seja, 53,5% do total de homicídios. Das vítimas, 74,6% eram negros e 91,3% eram do sexo masculino.
 
u      O presidente da Alshop lembrou também que a presidente recebeu os líderes do Movimento Passe Livre (MPL), após os protestos de rua de 2013.
 
u      De acordo com o Mapa da Violência no Brasil, de 2001 a 2011, o número de homicídios cometidos contra brancos foi reduzido em 27,1%, caindo os números absolutos anuais de 20.120, em 2001, para 14.664, em 2011. Contra negros, o número de homicídios cometidos aumentou em 35,9% no mesmo período, passando de 27.349, em 2001, para 37.156, em 2011.
 
u      A taxa de vitimização da população negra no país (homicídios cometidos contra negros cotejados com homicídios cometidos contra brancos, por 100 mil habitantes) evoluiu de 59,1, em 2001, até chegar a 133,2, crescendo continuamente, com a exceção de um só ano (2009), em que permaneceu igual ao ano anterior.
 
u      O presidente da Alshop declarou não ser contra os jovens frequentarem os estabelecimentos, mas que isso deveria ocorrer de forma organizada. Ele exemplificou como forma organizada, que os "rolezinhos" deveriam ocorrer em espaços públicos, e já adiantou-se na proposta de que o Sambódromo em São Paulo seja adotado.
 
u      Os “shoppings” passaram a adotar um elenco diversificado de medidas para impedir o ingresso destes jovens. Fechamento de portas, intimidação policial, com detenção de lideranças, mais tarde liberados por falta de provas, medidas judiciais, medidas de restrição ao uso das redes sociais, impedimento do ingresso dos menores desacompanhados dos responsáveis, e outras para evidenciar que os “sem grife” não são bem vindos.
 
u      É polêmica a possibilidade de se obstar o ingresso dos jovens dos “rolezinhos” nos “shoppings”. Os argumentos favoráveis estão baseados principalmente no caráter privado dos estabelecimentos, enquanto que os argumentos contrários mais recorrentes estão baseados na argumentação do direito de ir e vir.
 
u      Contraditoriamente, “shoppings” também aderiram ao discurso da responsabilidade social, mas os episódios recentes dos “rolezinhos” evidenciam que há partes interessadas que não interessam tanto assim.
 
Paulo Márcio de Mello
Professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)
 
A coluna EMPRESA-CIDADÃ é publicada, desde 2001, toda quarta-feira,
no centenário jornal Monitor Mercantil (www.monitormercantil.com.br).
Através dela, são apresentados casos de empreendedores e empresas,
pesquisas, resenhas, editais ou agenda, relativos à responsabilidade social, à sustentabilidade e ao desenvolvimento sustentável.


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