85% dos alimentos negociados no mundo são controlados
por somente 10 empresas.
Coluna Empresa-Cidadã,
publicada no jornal Monitor Mercantil,
publicada no jornal Monitor Mercantil,
em 15 de março de 2017,
por Paulo
Márcio de Mello*
Nem só de pão...
Estudos da Organização das Nações Unidas para Agricultura
e Alimentação (FAO) confirmam que o planeta tem condições de alimentar até 12
bilhões de pessoas. São dados apresentados pelo sociólogo suiço Jean Ziegler,
que ocupou a relatoria especial para o Direito à Alimentação da ONU, quando de
sua mais recente presença no Brasil, em 2013. Ziegler é autor do livro “Destruição em Massa – Geopolítica da Fome” (Editora Cortez).
Desde
1991, a produção capitalista de alimentos aumenta, chegando a duplicar, em
2002. No entanto, este crescimento se faz de forma concentrada, de tal forma
que cerca de 85% dos alimentos negociados no mundo são controlados por somente
10 empresas.
Ainda
segundo Ziegler, a especulação financeira o preço dos alimentos em bolsa é um
dos fatores determinantes para que os preços da cesta básica sejam inacessíveis
para milhões de pessoas. Citando números do Banco Mundial, Ziegler afirma que
1,2 bilhão de pessoas estão situadas na faixa da extrema pobreza, vivendo com
menos do que o equivalente ao poder de compra de um dólar por dia.
Outra
causa citada da fome é a política energética posta em prática em alguns países,
com o uso crescente de agrocombustíveis, que utilizam terras que poderiam ter o
uso alternativo da produção de alimentos. Continuou com crítica à política
econômica, que privilegia os produtores agrícolas de países ricos, com a oferta
desmedida de subsídios.
No que
classifica como dumping agrícola, os mercados de países africanos podem comprar
alimentos vindos da Europa por 1/3 do preço dos produtos produzidos pelos próprios
africanos, desestruturando as suas economias. Ziegler denunciou também o que
classificou como “roubo de terras”, isto é, o aluguel ou compra de terras em um
país mais pobre por fundos privados e bancos internacionais. Isto ocorreu com
mais de 202 mil hectares de áreas férteis na África, com crédito do Banco
Mundial e de instituições financeiras da África. Uma das consequências é que os
camponeses são expulsos das terras, processo que se intensifica todas as vezes
que os preços dos alimentos aumentam com a especulação.
O Banco
Mundial justifica a sua interferência neste processo com o argumento de que a
produtividade do camponês africano é baixa, com um hectare gerando, no máximo,
600 kg de produto por ano, enquanto que na Inglaterra ou no Canadá, um hectare
gera até uma tonelada.
Conforme
Ziegler, sem oferecer os meios adequados de produção ao camponês africano, o
círculo vicioso não se alterará, já que a irrigação é insuficiente, não há
adubo animal ou mineral, nem crédito agrícola, na medida da necessidade, além
da dívida externa dos países dificultar que eles invistam na agricultura.
Segundo
Ziegler, as mudanças só ocorrerão por meio da mobilização e da pressão popular.
Caberia exigir dos ministros de finanças nas assembleias do Fundo Monetário
Internacional que votem pela extinção das dívidas externas, além da mobilização
para impedir o uso de agro combustíveis em condições iníquas e para acabar com
o dumping agrícola.
Dia do Nutricionista
Em
31 de março, comemora-se o Dia do Nutricionista, profissão criada em 1902, no
Canadá, com a denominação de “Dietistas”. No Brasil, é o dia em que, em 1949,
foi criada a Associação Brasileira de Nutricionistas, hoje Associação
Brasileira de Nutrição (ASBRAN). Antes, em 1926, a Argentina teve o pioneirismo
no continente, com a criação do Instituto Municipal de Nutrição em Buenos
Aires.
No
Brasil, o primeiro curso de Nutrição foi criado em 1939, no então Instituto de
Higiene, da Universidade de São Paulo (USP), com o nome de Curso de
Nutricionistas. A profissão é regulamentada desde 1967 pela lei no 5276,
revogada e substituída em 1991, pela lei 8234.
Parabéns
Nutricionistas!
Em poucas mãos,
muitas bocas
Um pequeno número de empresas controla os alimentos do mundo, através
da produção de sementes, de fertilizantes e de agrotóxicos, para combater as
pragas. São estas corporações que definem o que você encontrará nos mercados e
do que você gostará. Por meio de incorporações, como a compra da Monsanto pela
Bayer, formou-se um oligopólio cada vez mais poderoso.
Outra multinacional integrante do oligopílio é a norte
americana DuPont. No Brasil, ela está presente no segmento de tratamento de
sementes, com um inseticida usado para o controle da lagarta helicoverpa, nas
lavouras de soja e de algodão. O inseticida foi lançado no início da década nos
EUA e, de lá, passou a ser vendido em outros países como Argentina, México e
Brasil.
Para desenvolver a molécula de que resultou este
defensivo, a DuPont investiu cerca de US$200 milhões. O mercado global de tratamento
de sementes, de cerca de US$2,5 bilhões em 2013, poderá chegar a US$4 bilhões,
em 2018. O Brasil representa cerca de US$700 milhões deste mercado, que cresce
à taxa de 10% ao ano, desde o início da década. Mais de 90% da área plantada
com soja, no Brasil, utiliza sementes tratadas. Coisa de gente grande…
*Paulo Márcio de Mello
Professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)
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