O velho e repetido caso da carne bombada.
EMPRESA-CIDADÃ
quarta-feira,
22 de março de 2017
Paulo Márcio de
Mello*
Rosselkhoznadzor não quer boi bombado.
u Sobre o “caso da carne”, muito já se
disse. Independentemente do interesse de outros países em uma retração no
mercado de carne ocupado por empresas brasileiras, no “exagero” da retumbância
das denúncias, nada apagará a questão essencial, que é o descaso com a saúde do
cidadão. E a questão não é nova.
u Na última semana de setembro de 2013, o
Ministério da Agricultura confirmou que o Serviço Federal de Fiscalização
Veterinária e Fitossanitária da Rússia (Rosselkhoznadzor) suspendeu, por tempo
indeterminado, a partir de 2 de outubro daquele ano, a venda de carnes suína e
bovina do Brasil para a união aduaneira, formada pela Rússia, Cazaquistão e
Belarus.
u As restrições foram impostas a dez
frigoríficos, sendo um de carne suína e nove de carne bovina. A relação é
constituída pelas empresas Pamplona (Riosulense), Marfrig, dois frigoríficos da
Minerva e seis frigoríficos do Grupo JBS-Friboi.
u Este último é um gigante do setor, que
se apresenta como “a maior empresa em processamento de proteína animal
do mundo, atuando nas áreas de alimentos, couro, biodiesel, colágeno e latas
(...) presente em todos os continentes, com plataformas de produção e
escritórios no Brasil, Argentina, Itália, Austrália, EUA, Uruguai, Paraguai,
México, China, Rússia, entre outros países (...) com acesso a 100% dos mercados
consumidores. (...) Possui 140 unidades de produção no mundo e mais de 120 mil
colaboradores focados no sucesso da companhia, sustentado pelo espírito
empreendedor e pelo pioneirismo” (como consta na sua página).
u Além da Friboi, o Grupo JBS é detentor de outras marcas
conhecidas, como Swift, Anglo, Apeti, Bertin, Tama, Bordon, Target, Hereford,
Vigor, Leco, Faixa Azul, Serrabella, Amélia e Carmelita.
u O Ministério da Agricultura informou que
o Rosselkhoznadzor enviou um relatório de inspeção feito por uma comissão de
veterinários russos que esteve no Brasil, entre 30 de junho e 14 de julho de
2013, junto a 18 empresas brasileiras. A fiscalização constatou a presença de
substância proibida, usada para estimular o crescimento muscular dos animais.
Lá, boi bombado não pode.
u Embora o ministério não tenha divulgado,
de imediato, detalhes do relatório, alegando a necessidade de tradução, a
Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo) já admitiu a possibilidade de
frigoríficos brasileiros fazerem uso da substância ractopamina na alimentação
de rebanhos, apesar de proibida. Com isto, os animais ganhariam massa muscular
e cresceriam com menor quantidade de gordura. A ractopamina pode afetar os
sistemas cardiovascular, reprodutivo e endócrino.
u Em sua página na Internet (www.jbs.com.br), a JBS divulga o
manual “Boas Práticas Agropecuárias Bovinos de Corte” editado pela Embrapa Gado
de Corte e pela Câmara Setorial da Bovinocultura e Bubalinocultura de Mato
Grosso do Sul, onde se lê, no capítulo denominado “Diretrizes relacionadas com a suplementação alimentar”, na página 39, que
é “proibido o uso de hormônios ou promotores de crescimento de efeito
anabólico”.
u No Brasil, o Grupo JBS tornou-se muito
conhecido pela campanha publicitária, insistentemente veiculada no horário
nobre da TV, em que o ator Toni Ramos faz uma pergunta, sobre a carne que o
consumidor adquire: “é Friboi ?”. Complementa com a frase “a carne em que sua
família pode confiar”.
O raio caiu duas vezes no mesmo lugar...
Paulo Márcio de Mello
Professor da Universidade
do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)
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