quarta-feira, 28 de maio de 2014

Lucros com lágrimas
                                                           
Os lucros obtidos ilegalmente por empresas com a exploração do trabalho escravo, degradante ou forçado é comparável ao obtido com a venda de armas. Não há justificativa para isto que não agrida a ética.

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Quarta-feira, 28 de maio de 2014
Coluna EMPRESA-CIDADÃ
Paulo Márcio de Mello*

 u      Desde 1998, pela primeira vez, os gastos militares apresentaram uma redução, em 2012, e pela segunda vez consecutiva, a venda de armas por empresas privadas para governos também diminuiu. Isto não significa que as armas tenham deixado de ser um excelente negócio.
 
u      As 100 maiores corporações produtoras de armas e fornecedoras de serviços militares alcançaram o faturamento recorde de US$ 395 bilhões, em 2012. Sozinha, a maior produtora, a Lockheed Martin, faturou US$ 36 bilhões, no período.
 
u        Segundo o site 24/7 Wall St., com base nos dados apurados pela Stockholm International Peace Research Institute (SIPRI, sigla em inglês), um dos fatores que contribuiu para a redução dos gastos militares foi a retirada de tropas norte-americanas do Afeganistão. Em 2011, a ocupação consumiu US$ 159 bilhões e, no ano seguinte, US$ 115 bilhões. A austeridade orçamentária nos EUA também respondeu por cortes, da ordem de US$ 15 bilhões.
 
u      A relação dos dez maiores faturamentos de corporações com a venda de armas, exibe, em 10º lugar, a L-3 Communications Holdings Inc. (Nyse: LLL). A empresa opera quatro linhas de negócios principais: comunicação de segurança, sistemas eletrônicos, plataformas de soluções logísticas e soluções de segurança nacional. A empresa faturou US$ 13.1 bilhões em 2012, dos quais US$ 10.8 bilhões com a venda de serviços bélicos (US$ 12.5 bilhões, em 2011). Empregou 51 mil empregados e teve um lucro anual de US$ 782 milhões.
 
u      Na nona posição da relação, está a italiana Finmeccanica, que responde por casos de corrupção ativa de compradores de seus helicópteros na Índia. O faturamento total em 2012 foi de US$ 22.1 bilhões, sendo US$ 12.5 bilhões em armamentos (US$ 14.5 bilhões em 2011). Empregou 67.408 pessoas e apresentou prejuízo de US$ 1 bilhão.
 
u      A oitava classificação pertence à United Technologies Corp.’s (Nyse: UTX). Produtora dos helicópteros militares Black Hawk e Seahawk, faturou com eles US$ 4.5 bilhões e, com a produção de equipamentos de navegação aérea (Pratt&Whitney), US$ 3.7 bilhões. No total de suas linhas, faturou US$ 62.2 bilhões, dos quais US$ 13.5 bilhões com a venda de equipamentos militares (US$11.6 bilhões, em 2011). Empregou 218.300 pessoas e exibiu o lucro de US$ 5.2 bilhões.
 
u      Na sétima posição, está a European Aeronautic Defense and Space Company (EADS). Diante da importância de um dos seus produtos, o avião comercial Airbus, mudou a sua denominação para Airbus Group, em 2014. Faturou US$ 72.6 bilhões em 2012. Destes, US$ 15.4 bilhões foram provenientes da venda de armamentos (queda de US$ 1 bilhão, em relação a 2011). Empregou 140.000 pessoas e apresentou lucro de US$ 1.6 bilhão.
 
u      Na sexta colocação, ficou a Northrop Grumman Corp. (Nyse: NOC). Apresentou faturamento de US$ 25.2 bilhões em 2012, sendo US$ 19.4 bilhões derivados da venda de armamentos como radares antimísseis, sistemas eletrônicos, e “drones” de altitude. Empregou 68.100 pessoas e apurou lucro de US$ 2 bilhões.
 
u      A quinta posição foi ocupada pela General Dynamics Corp (Nyse:GD), com faturamento de US$ 31.5 bilhões, dos quais US$ 20.9 bilhões, derivados principalmente da venda de aviões e veículos de combate (US$ 23.3 bilhões no ano anterior). Empregou 92.200 pessoas e apresentou prejuízo de US$ 332 milhões.
 
u      A quarta colocação apresentou a Raytheon Co. (Nyse: RTN), fundada em 1922, e tradicional parceira do governo norte-americano. A parceria inclui o módulo lunar da Apolo 11. Faturou US$ 24.4 bilhões. Destes, US$ 22.5 bilhões foram obtidos com a venda de armamentos como mísseis, radares e segurança aeroespacial. Empregou 67.800 pessoas e apresentou lucro de US$ 1.9 bilhão.
 
u      Como terceira maior vendedora de armamentos foi classificada a britânica BAE Systems, a maior fornecedora não americana dos EUA. Em operação desde 1847, a corporação foi atingida por cortes orçamentários do governo do Reino Unido. Ainda assim, faturou US$ 28.3 bilhões, dos quais US$ 26.9 bilhões obtidos com a venda de armamentos. Empregou 88.200 pessoas e exibiu o lucro de US$ 2.6 bilhões.
 
u      A segunda colocada nesta relação é a Boeing Co. (Nyse: BA) que, em 2012, faturou US$ 81.7 bilhões. Destes, US$ 27.6 bilhões derivaram da venda de armamentos. Com 174.400 empregados, lucrou US$ 3.9 bilhões.
 
u      Como maior fornecedora de armamentos do mundo consta a Lockheed Martin Corp. (Nyse: LMT). Faturou US$ 47.2 bilhões, sendo US$ 36 bilhões com armamentos, como sistemas de tecnologia de informação e aeronaves militares, a exemplo do C-5 Galaxy Class Airplane, o maior avião militar de transporte do mundo. Empregou 120.000 pessoas e apresentou o lucro de US$ 2.7 bilhões, apesar de atingida por cortes orçamentários de defesa dos EUA.
 
u      Relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT), recentemente divulgado, aponta que o trabalho forçado gera lucros ilegais avaliados em US$ 150 bilhões anualmente, em todo o mundo. Entre as vítimas, 55% são mulheres, exploradas sexualmente ou pelo trabalho doméstico, e 44% são migrantes. Comparável à indústria de armas.
 
Paulo Márcio de Mello
paulomm@paulomm.pro.br
Professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

Um comentário:

  1. Quanto a questão da tributação as Empresas que poluírem além do recomendável, torna-se necessário que o governo seja o primeiro a adotar tal politica de preocupação com o meio ambiente. Atualmente as Empresas púbicas não tem uma política adequada de controle de poluentes, não servindo como paradigma as empresas privadas. Além disso, há a necessidade de toda uma discussão mais aprofundada sobre o tema, a fim de ser recriada toda uma legislação que puna severamente os infratores, assim como um grande aparato fiscalizador que fiscalize se as leis estão sendo seguidas e não burladas.
    Resta saber, se os nossos políticos industriais e os grandes proprietários de terras estão dispostos a ter seu lucro diminuído em favor de um planeta mais limpo e sustentável .

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