Rosselkhoznadzor não quer boi bombado
As contradições entre o credo das
corporações
e as suas práticas não tem limites.
blog
do professor paulo márcio
economia&arte
Quarta-feira, 9 de outubro de 2013
coluna EMPRESA-CIDADÃ
por Paulo Márcio de Mello*
u Na última semana de setembro, o
Ministério da Agricultura confirmou que o Serviço Federal de Fiscalização
Veterinária e Fitossanitária da Rússia (Rosselkhoznadzor) suspendeu, por tempo
indeterminado, a partir de 2 de outubro, a venda de carnes suína e bovina do
Brasil para a união aduaneira, formada pela Rússia, Cazaquistão e Belarus.
u As restrições foram impostas a dez
frigoríficos, sendo um de carne suína e nove de carne bovina. A relação é
constituída pelas empresas Pamplona (Riosulense), Marfrig, dois frigoríficos da
Minerva e seis frigoríficos do Grupo JBS-Friboi.
u Este último é um gigante do setor, que
se apresenta como “a maior empresa em processamento de proteína animal
do mundo, atuando nas áreas de alimentos, couro, biodiesel, colágeno e latas (...)
presente em todos os continentes, com plataformas de produção e escritórios no
Brasil, Argentina, Itália, Austrália, EUA, Uruguai, Paraguai, México, China,
Rússia, entre outros países (...) com acesso a 100% dos mercados consumidores. (...) Possui
140 unidades de produção no mundo e mais de 120 mil colaboradores focados no
sucesso da companhia, sustentado pelo espírito empreendedor e pelo
pioneirismo”.
u Além da Friboi, o Grupo JBS é detentor de outras marcas
conhecidas, como Swift, Anglo, Apeti, Bertin, Tama, Bordon, Target, Hereford,
Vigor, Leco, Faixa Azul, Serrabella, Amélia e Carmelita.
u O Ministério da Agricultura informou que
o Rosselkhoznadzor enviou um relatório de inspeção feito por uma comissão de
veterinários russos que esteve no Brasil, entre 30 de junho e 14 de julho, junto
a 18 empresas brasileiras. A fiscalização constatou a presença de substância
proibida, usada para estimular o crescimento muscular dos animais. Lá, boi
bombado não pode.
u Embora o ministério não tenha divulgado,
de imediato, detalhes do relatório, alegando a necessidade de tradução, a
Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo) já admitiu a possibilidade de
frigoríficos brasileiros fazerem uso da substância ractopamina na alimentação
de rebanhos, apesar de proibida. Com isto, os animais ganhariam massa muscular
e cresceriam com menor quantidade de gordura. A ractopamina pode afetar os
sistemas cardiovascular, reprodutivo e endócrino.
u Em sua página na Internet (www.jbs.com.br), a JBS divulga
o manual “Boas Práticas Agropecuárias Bovinos de Corte” editado pela Embrapa
Gado de Corte e pela Câmara Setorial da Bovinocultura e Bubalinocultura de Mato
Grosso do Sul, onde se lê, no capítulo denominado “Diretrizes relacionadas com a suplementação alimentar”, na página 39, que
é “proibido o uso de hormônios ou promotores de crescimento de efeito
anabólico”.
u No Brasil, o Grupo JBS tornou-se muito
conhecido pela campanha publicitária, insistentemente veiculada no horário nobre
da TV, em que o ator Toni Ramos faz uma pergunta, sobre a carne que o
consumidor adquire: “é Friboi ?”. Complementa com a frase “a carne em que sua
família pode confiar”.
Empurra que vai...
Na introdução do relatório O Estado
da Insegurança Alimentar no Mundo,
divulgado no início do mês, os principais encarregados pelas agências por ele responsáveis,
José Graziano da Silva, da Organização para a Alimentação e a Agricultura (FAO),
Kanayo F. Nwanze, do Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (Ifad)
e Ertharin Cousin, do Programa Alimentar Mundial (PAM), registram que "Com
um empurrão final nos próximos dois anos, ainda podemos alcançá-lo"¸
referindo-se ao primeiro dos oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM),
instituídos em 2000.
Reduzir pela metade, até 2015, com base
em 1990, a proporção da população com renda inferior a um dólar por dia e a
proporção da população que sofre de fome é o estipulado pelo primeiro ODM. O
Brasil atingiu este ODM já em 2002, e ultrapassou-o em 2008, reduzindo de 25,6%
(em 1990) para 4,8% (em 2008), o contingente da população em situação de pobreza
extrema.
Apesar dos progressos observados em 38
países que já atingiram o objetivo de redução da proporção de pessoas que
padecem de fome crônica, o relatório alerta que há diferenças na evolução dos
resultados. Na África Subsaariana, o progresso do ODM é modesto. Esta continua
a ser a região do planeta com a maior prevalência de subnutrição, com 24,8% da
população passando fome.
A Ásia Ocidental não apresenta progresso,
enquanto o Sul da Ásia e o Norte de África revelam progresso lento. O Leste e o
Sudeste Asiático e a América Latina foram as regiões com maiores progressos. No
Sudeste Asiático, região com os melhores resultados, o percentual de pessoas
com fome crônica diminuiu de 31,1% para 10,7%, desde 1990.
Paulo Márcio de Mello
Professor
da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)
A coluna EMPRESA-CIDADÃ é publicada, desde 2001, toda quarta-feira,
no centenário jornal Monitor Mercantil (www.monitormercantil.com.br).Através dela, são apresentados casos de empreendedores e empresas,
pesquisas, resenhas, editais ou agenda, relativos à responsabilidade social, à sustentabilidade e ao desenvolvimento sustentável.
Cada vez mais a verdade sobre essas corporações e indústrias vem à tona, a verdade é que nós não sabemos o que realmente estamos comprando, comendo e usando, e isso é alarmante, a força dessas corporações, da publicidade, é imensa, e nos dá impressão que não temos pra onde fugir, pois a fiscalização não funciona como deveria, e como foi dito no texto, um mesmo Grupo é detentor de diversas marcas diferentes, ou seja, nosso dinheiro vai para uma mesma mão com uma mesma filosofia, lucro acima de tudo, da saúde, da ética, da sustentabilidade. Cabe a nós, cidadãos, investigarmos cada vez mais o que estamos consumindo, não só alimentação, mas também nossas roupas, nossos eletrodomésticos, produtos de beleza, e etc, pois assim poderemos dizer não a essas corporações, ou melhor, dizer a elas o que queremos para o nosso mundo.
ResponderExcluirA publicidade é quem comanda o país. Infelizmente hoje em dia confiamos nela de olhos fechados. As pessoas não se interessam em pesquisar se de fato aquilo é verídico, já vão logo consumindo aquilo que nos é oferecido, nos transformando em cidadãos alienados. Temos que ter a compreensão de que esses grupos empresariais só tem interesse em lucrar cada vez mais.Tomando assim o nosso bem-estar como principal prioridade ao invés de paradigmas da sociedade.
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