terça-feira, 8 de outubro de 2013


Rosselkhoznadzor não quer boi bombado 
 
                                                                         
As contradições entre o credo das corporações
e as suas práticas não tem limites.
 
blog do professor paulo márcio
economia&arte

Quarta-feira, 9 de outubro de 2013
coluna EMPRESA-CIDADÃ
por Paulo Márcio de Mello* 

u        Na última semana de setembro, o Ministério da Agricultura confirmou que o Serviço Federal de Fiscalização Veterinária e Fitossanitária da Rússia (Rosselkhoznadzor) suspendeu, por tempo indeterminado, a partir de 2 de outubro, a venda de carnes suína e bovina do Brasil para a união aduaneira, formada pela Rússia, Cazaquistão e Belarus.
 
u        As restrições foram impostas a dez frigoríficos, sendo um de carne suína e nove de carne bovina. A relação é constituída pelas empresas Pamplona (Riosulense), Marfrig, dois frigoríficos da Minerva e seis frigoríficos do Grupo JBS-Friboi.
 
u        Este último é um gigante do setor, que se apresenta como “a maior empresa em processamento de proteína animal do mundo, atuando nas áreas de alimentos, couro, biodiesel, colágeno e latas (...) presente em todos os continentes, com plataformas de produção e escritórios no Brasil, Argentina, Itália, Austrália, EUA, Uruguai, Paraguai, México, China, Rússia, entre outros países (...) com acesso a 100% dos mercados consumidores. (...) Possui 140 unidades de produção no mundo e mais de 120 mil colaboradores focados no sucesso da companhia, sustentado pelo espírito empreendedor e pelo pioneirismo”.
 
u        Além da Friboi, o Grupo JBS é detentor de outras marcas conhecidas, como Swift, Anglo, Apeti, Bertin, Tama, Bordon, Target, Hereford, Vigor, Leco, Faixa Azul, Serrabella, Amélia e Carmelita.
 
u        O Ministério da Agricultura informou que o Rosselkhoznadzor enviou um relatório de inspeção feito por uma comissão de veterinários russos que esteve no Brasil, entre 30 de junho e 14 de julho, junto a 18 empresas brasileiras. A fiscalização constatou a presença de substância proibida, usada para estimular o crescimento muscular dos animais. Lá, boi bombado não pode.
 
u        Embora o ministério não tenha divulgado, de imediato, detalhes do relatório, alegando a necessidade de tradução, a Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo) já admitiu a possibilidade de frigoríficos brasileiros fazerem uso da substância ractopamina na alimentação de rebanhos, apesar de proibida. Com isto, os animais ganhariam massa muscular e cresceriam com menor quantidade de gordura. A ractopamina pode afetar os sistemas cardiovascular, reprodutivo e endócrino.
 
u        Em sua página na Internet (www.jbs.com.br), a JBS divulga o manual “Boas Práticas Agropecuárias Bovinos de Corte” editado pela Embrapa Gado de Corte e pela Câmara Setorial da Bovinocultura e Bubalinocultura de Mato Grosso do Sul, onde se lê, no capítulo denominado “Diretrizes relacionadas com a suplementação alimentar”, na página 39, que é “proibido o uso de hormônios ou promotores de crescimento de efeito anabólico”.
 
u        No Brasil, o Grupo JBS tornou-se muito conhecido pela campanha publicitária, insistentemente veiculada no horário nobre da TV, em que o ator Toni Ramos faz uma pergunta, sobre a carne que o consumidor adquire: “é Friboi ?”. Complementa com a frase “a carne em que sua família pode confiar”.
 
Empurra que vai...
 
Na introdução do relatório O Estado da Insegurança Alimentar no Mundo, divulgado no início do mês, os principais encarregados pelas agências por ele responsáveis, José Graziano da Silva, da Organização para a Alimentação e a Agricultura (FAO), Kanayo F. Nwanze, do Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (Ifad) e Ertharin Cousin, do Programa Alimentar Mundial (PAM), registram que "Com um empurrão final nos próximos dois anos, ainda podemos alcançá-lo"¸ referindo-se ao primeiro dos oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), instituídos em 2000.
 
Reduzir pela metade, até 2015, com base em 1990, a proporção da população com renda inferior a um dólar por dia e a proporção da população que sofre de fome é o estipulado pelo primeiro ODM. O Brasil atingiu este ODM já em 2002, e ultrapassou-o em 2008, reduzindo de 25,6% (em 1990) para 4,8% (em 2008), o contingente da população em situação de pobreza extrema.
 
Apesar dos progressos observados em 38 países que já atingiram o objetivo de redução da proporção de pessoas que padecem de fome crônica, o relatório alerta que há diferenças na evolução dos resultados. Na África Subsaariana, o progresso do ODM é modesto. Esta continua a ser a região do planeta com a maior prevalência de subnutrição, com 24,8% da população passando fome.
 
A Ásia Ocidental não apresenta progresso, enquanto o Sul da Ásia e o Norte de África revelam progresso lento. O Leste e o Sudeste Asiático e a América Latina foram as regiões com maiores progressos. No Sudeste Asiático, região com os melhores resultados, o percentual de pessoas com fome crônica diminuiu de 31,1% para 10,7%, desde 1990.
 
Paulo Márcio de Mello

Professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)
 
A coluna EMPRESA-CIDADÃ é publicada, desde 2001, toda quarta-feira,
no centenário jornal Monitor Mercantil (www.monitormercantil.com.br).
Através dela, são apresentados casos de empreendedores e empresas,
pesquisas, resenhas, editais ou agenda, relativos à responsabilidade social, à sustentabilidade e ao desenvolvimento sustentável.

2 comentários:

  1. Cada vez mais a verdade sobre essas corporações e indústrias vem à tona, a verdade é que nós não sabemos o que realmente estamos comprando, comendo e usando, e isso é alarmante, a força dessas corporações, da publicidade, é imensa, e nos dá impressão que não temos pra onde fugir, pois a fiscalização não funciona como deveria, e como foi dito no texto, um mesmo Grupo é detentor de diversas marcas diferentes, ou seja, nosso dinheiro vai para uma mesma mão com uma mesma filosofia, lucro acima de tudo, da saúde, da ética, da sustentabilidade. Cabe a nós, cidadãos, investigarmos cada vez mais o que estamos consumindo, não só alimentação, mas também nossas roupas, nossos eletrodomésticos, produtos de beleza, e etc, pois assim poderemos dizer não a essas corporações, ou melhor, dizer a elas o que queremos para o nosso mundo.

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  2. A publicidade é quem comanda o país. Infelizmente hoje em dia confiamos nela de olhos fechados. As pessoas não se interessam em pesquisar se de fato aquilo é verídico, já vão logo consumindo aquilo que nos é oferecido, nos transformando em cidadãos alienados. Temos que ter a compreensão de que esses grupos empresariais só tem interesse em lucrar cada vez mais.Tomando assim o nosso bem-estar como principal prioridade ao invés de paradigmas da sociedade.

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