Deflagrado nos EUA,
o movimento Occupy Wall Street (OWS) incorporou o DNA de outros, como o europeu
Indignados (inicialmente M15M), na Espanha, ou como das rebeliões de massa que
nutriram a Primavera Árabe, ou mesmo dos norte-americanos Adbusters, US Day of
Rage, Anonymous, com as suas máscaras características, e o New Yorkers Against
Budget Cuts (Novaiorquinos contra os cortes no orçamento).
coluna EMPRESA-CIDADÃ
Quarta-feira 1º de março de 2016
Paulo Márcio de Mello*
OCCUPY E STIGLITZ
Incompreendido nas primeiras manifestações, por se apresentar como um
movimento sem uma bandeira específica de lutas, encontrou as principais razões
do seu êxito na pluralidade, na ausência de lideranças formais e de estrutura,
e sobretudo, na característica de um escopo flexível de reivindicações.
Contemporâneo frente a um mundo volátil na sucessão de questões a
enfrentar, em que as organizações privilegiam o domínio do conhecimento, para
daí gerar seus produtos, tornou o domínio da “tecnologia de ocupar” a sua maior
qualidade. Decantou daí o lema expressivo “nós somos os 99% que lutam contra a
ganância de 1%”.
Na ocasião, é oportuno ler uma seleção do que Joseph E.
Stiglitz,professor na Universidade de Colúmbia agraciado com o Prêmio Nobel de
Economia de 2001, escreveu sobre o OWS.
“O slogan (‘somos 99%’) ecoa no título de um artigo que recentemente
publiquei: ‘Do 1%, para o 1% e pelo 1%’. Ele descreve o enorme aumento de
desigualdade nos Estados Unidos, onde 1% da população controla mais de 40% da
riqueza e recebe mais de 20% da renda. E os que pertencem a este grupo
rarefeito são frequentemente remunerados, de forma extravagante, não por terem
contribuído para a sociedade, mas porque são, para dizer de forma franca,
bem-sucedidos (e às vezes corruptos) caçadores de rendas alheias.”
“Em todo o mundo, influência
política e práticas de oligopólio (frequentemente garantidas por meio da
política) foram centrais para o aumento da desigualdade econômica. E os
sistemas tributários nos quais um bilionário como Warren Buffett paga
percentualmente menos impostos que sua secretária – ou em que os especuladores
que ajudaram a derrubar a economia global são menos tributários do que os
trabalhadores – reforçaram a tendência”.
“Este é um sistema no qual os banqueiros são resgatados, enquanto suas
vítimas são obrigadas a lutar pela sobrevivência. Pior: os banqueiros estão de
volta a seus gabinetes, recebendo bônus anuais superiores ao que a maioria dos
trabalhadores espera ganhar durante toda a vida, enquanto jovens que estudaram
muito e seguiram as regras do jogo não veem perspectivas de um emprego decente”.
“O aumento da desigualdade é
produto de uma espiral viciosa. Os rentistas usam seus recursos para criar leis
que protejam e ampliem sua riqueza – e sua influência. A Suprema Corte dos
Estados Unidos, deu às corporações, numa decisão que se tornou conhecida como
Citizens United, rédea solta para usar dinheiro e influenciar os rumos da
política. Mas enquanto os ricos podem usar seu dinheiro para ampliar o alcance
de seus pontos de vista, a polícia não permitiu que eu usasse um megafone para
me dirigir aos manifestantes do Occupy Wall Street”.
“Eles estão certos ao dizer que há algo errado com nosso ‘sistema’. Em
todo o mundo, temos recursos desaproveitados – gente que quer trabalhar, máquinas
paradas, edifícios vazios – e imensas necessidades não realizadas: luta contra
a pobreza, promoção do desenvolvimento e reorganização da economia para
enfrentar o aquecimento global, apenas para citar algumas. Nos Estados Unidos,
depois de mais de 7 milhões de despejos, nos últimos anos, temos casas vazias e
gente sem casa”.
“Em 1999, os protestos em Seattle, durante o que seria o início de uma
nova rodada de negociações comerciais, chamaram atenção para as falhas da
globalização e das instituições e acordos que a governam. Quando a imprensa
examinou as alegações dos manifestantes, descobriu que havia verdade nelas. As
negociações comerciais que se seguiram foram diferentes ao menos, em princípio.
Elas deveriam levar a uma Rodada de Desenvolvimento, para enfrentar algumas das
deficiências sublinhadas pelos protestos.
“Num certo sentido, os manifestantes de agora pedem pouco: uma chance
para usar seus talentos e habilidades. O direito a trabalho com salário
decente. Uma economia e sociedade mais justas. Seu desejo é de evolução, não de
revolução. Mas num outro plano, eles estão lutando por algo grande: uma
democracia em que as pessoas, e não os dólares, falem mais alto; e uma economia
de mercado que entregue o que promete”.
“As reivindicações estão ligadas. Como vimos, mercados sem regulação
conduzem a crises econômicos e políticas. Os mercados funcionam de forma
apropriada apenas quando enquadrados por regulações apropriadas, definidas por
governos. E estas regulações só podem ser estabelecidas numa democracia que
reflita o interesse comum, não o interesse do 1%. O melhor governo que o
dinheiro possa comprar já não é suficiente”.
Paulo Márcio de Mello*
Professor
da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)
A coluna EMPRESA-CIDADÃ é publicada, desde 2001,
continuamente às quartas-feiras, no jornal Monitor Mercantil (www.monitormercantil.com.br).
Através dela, são apresentados conceitos relativos
à responsabilidade social, à sustentabilidade, ao desenvolvimento
sustentável e à ética nos negócios, através de casos de empreendedores e
empresas, pesquisas, resenhas, editais ou agenda na temática.
A coluna EMPRESA-CIDADÃ também
pode ser lida pelo Blog arteeconomia. Acesso através de http://pauloarteeconomia.blogspot.com
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário