quinta-feira, 13 de outubro de 2016

9-colunista
Deflagrado nos EUA, o movimento Occupy Wall Street (OWS) incorporou o DNA de outros, como o europeu Indignados (inicialmente M15M), na Espanha, ou como das rebeliões de massa que nutriram a Primavera Árabe, ou mesmo dos norte-americanos Adbusters, US Day of Rage, Anonymous, com as suas máscaras características, e o New Yorkers Against Budget Cuts (Novaiorquinos contra os cortes no orçamento).

coluna EMPRESA-CIDADÃ
Quarta-feira 1º de março de 2016
Paulo Márcio de Mello*

OCCUPY E STIGLITZ

Incompreendido nas primeiras manifestações, por se apresentar como um movimento sem uma bandeira específica de lutas, encontrou as principais razões do seu êxito na pluralidade, na ausência de lideranças formais e de estrutura, e sobretudo, na característica de um escopo flexível de reivindicações.
Contemporâneo frente a um mundo volátil na sucessão de questões a enfrentar, em que as organizações privilegiam o domínio do conhecimento, para daí gerar seus produtos, tornou o domínio da “tecnologia de ocupar” a sua maior qualidade. Decantou daí o lema expressivo “nós somos os 99% que lutam contra a ganância de 1%”.
Na ocasião, é oportuno ler uma seleção do que Joseph E. Stiglitz,professor na Universidade de Colúmbia agraciado com o Prêmio Nobel de Economia de 2001, escreveu sobre o OWS.
“O slogan (‘somos 99%’) ecoa no título de um artigo que recentemente publiquei: ‘Do 1%, para o 1% e pelo 1%’. Ele descreve o enorme aumento de desigualdade nos Estados Unidos, onde 1% da população controla mais de 40% da riqueza e recebe mais de 20% da renda. E os que pertencem a este grupo rarefeito são frequentemente remunerados, de forma extravagante, não por terem contribuído para a sociedade, mas porque são, para dizer de forma franca, bem-sucedidos (e às vezes corruptos) caçadores de rendas alheias.”
 “Em todo o mundo, influência política e práticas de oligopólio (frequentemente garantidas por meio da política) foram centrais para o aumento da desigualdade econômica. E os sistemas tributários nos quais um bilionário como Warren Buffett paga percentualmente menos impostos que sua secretária – ou em que os especuladores que ajudaram a derrubar a economia global são menos tributários do que os trabalhadores – reforçaram a tendência”.
“Este é um sistema no qual os banqueiros são resgatados, enquanto suas vítimas são obrigadas a lutar pela sobrevivência. Pior: os banqueiros estão de volta a seus gabinetes, recebendo bônus anuais superiores ao que a maioria dos trabalhadores espera ganhar durante toda a vida, enquanto jovens que estudaram muito e seguiram as regras do jogo não veem perspectivas de um emprego decente”.
 “O aumento da desigualdade é produto de uma espiral viciosa. Os rentistas usam seus recursos para criar leis que protejam e ampliem sua riqueza – e sua influência. A Suprema Corte dos Estados Unidos, deu às corporações, numa decisão que se tornou conhecida como Citizens United, rédea solta para usar dinheiro e influenciar os rumos da política. Mas enquanto os ricos podem usar seu dinheiro para ampliar o alcance de seus pontos de vista, a polícia não permitiu que eu usasse um megafone para me dirigir aos manifestantes do Occupy Wall Street”.
“Eles estão certos ao dizer que há algo errado com nosso ‘sistema’. Em todo o mundo, temos recursos desaproveitados – gente que quer trabalhar, máquinas paradas, edifícios vazios – e imensas necessidades não realizadas: luta contra a pobreza, promoção do desenvolvimento e reorganização da economia para enfrentar o aquecimento global, apenas para citar algumas. Nos Estados Unidos, depois de mais de 7 milhões de despejos, nos últimos anos, temos casas vazias e gente sem casa”.
“Em 1999, os protestos em Seattle, durante o que seria o início de uma nova rodada de negociações comerciais, chamaram atenção para as falhas da globalização e das instituições e acordos que a governam. Quando a imprensa examinou as alegações dos manifestantes, descobriu que havia verdade nelas. As negociações comerciais que se seguiram foram diferentes ao menos, em princípio. Elas deveriam levar a uma Rodada de Desenvolvimento, para enfrentar algumas das deficiências sublinhadas pelos protestos.
“Num certo sentido, os manifestantes de agora pedem pouco: uma chance para usar seus talentos e habilidades. O direito a trabalho com salário decente. Uma economia e sociedade mais justas. Seu desejo é de evolução, não de revolução. Mas num outro plano, eles estão lutando por algo grande: uma democracia em que as pessoas, e não os dólares, falem mais alto; e uma economia de mercado que entregue o que promete”.
“As reivindicações estão ligadas. Como vimos, mercados sem regulação conduzem a crises econômicos e políticas. Os mercados funcionam de forma apropriada apenas quando enquadrados por regulações apropriadas, definidas por governos. E estas regulações só podem ser estabelecidas numa democracia que reflita o interesse comum, não o interesse do 1%. O melhor governo que o dinheiro possa comprar já não é suficiente”.

Paulo Márcio de Mello*
Professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

A coluna EMPRESA-CIDADÃ é publicada, desde 2001,
continuamente às quartas-feiras, no jornal Monitor Mercantil (www.monitormercantil.com.br).
Através dela, são apresentados conceitos relativos
à responsabilidade social, à sustentabilidade, ao desenvolvimento sustentável e à ética nos negócios, através de casos de empreendedores e empresas, pesquisas, resenhas, editais ou agenda na temática.
A coluna EMPRESA-CIDADÃ também pode ser lida pelo Blog arteeconomia. Acesso através de http://pauloarteeconomia.blogspot.com


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