quinta-feira, 13 de outubro de 2016


Primeiramente, cabe esclarecer que, apesar do título, esta coluna não tratará de questões da conjuntura política do país, mas de empresas que frequentaram recentemente o noticiário econômico, médico, policial
(menos do que deveriam, em alguns casos)
e outras páginas menos nobres.

coluna EMPRESA-CIDADÃ
Quarta-feira, 30 de março de 2016
Paulo Márcio de Mello*

Trapalhões - I

Contabilidade cruel

Lee Iacocca é um desses executivos de grandes corporações apresentados como emblemáticas sabedorias gerenciais. Publicado e republicado como um empreendedor e líder notável. Cercado de lendas, já foi falado do mito que cortava anualmente 10% dos seus executivos de menor desempenho, mesmo que o desempenho não fosse ruim.

Uma fórmula de eugenia executiva, eliminando os mais fracos. Se parecer cruel este pacote anual de demissões, é importante não se esquecer da contabilidade macabra de que ele se utilizava. Seu último lançamento enquanto dirigia a FORD, foi um automóvel classificado como subcompacto.

Chegou a ser popular nos EUA, em uma época em que teve início o questionamento das imensas banheiras sobre pneus, comuns ainda hoje por lá. Leve (900 Kg), não bebia tanto, preço de US$ 2,000. Seu lançamento deu-se em um 11 de setembro, o de 1970.

Criado para enfrentar a concorrência do AMC Gremlin, teve a sua produção sustada nos anos 1980, por apresentar gravíssimos problemas de segurança. Não chegou a ser produzido no Brasil. O dito popular dá como causa para a renúncia de produção no Brasil...o nome do modelo.

Sua venda começou a despencar quando se verificou que, devido ao design e localização do tanque de combustível, impactos por trás à velocidade de 32 km/h, ou superior, causavam a ruptura do tanque, derivando daí uma explosão.

Ocorre que, através de testes de colisão, ficou provado que a empresa sabia dos riscos a que submetia seus usuários. A contabilidade macabra estimava que, para corrigir os erros estruturais, o custo seria de US$11,00 por unidade, totalizando US$137 milhões, considerando toda a linha de produção.

A indenização para cada vida perdida (evitável) custaria US$200.000; a indenização por queimaduras graves custaria US$67.000 e cada veículo a ser recuperado após uma colisão, custaria US$700,00. Conclui-se que se até 2100 veículos incendiassem, 180 pessoas sofressem queimaduras graves e outras 180 morressem, o custo de indenizações não ultrapassaria US$49,5 milhões. Ou seja, o critério de Iacocca e da FORD foi exclusivamente financeiro. Corrigir (US$137 milhões) ou indenizar os óbitos e feridos graves (US$49.5 milhões).

Talquinho

O que pode parecer mais inofensivo do que talco infantil? Pois não é que o talco infantil da Johnson&Johnson matou Jacqueline Fox (62) de câncer no ovário? A empresa foi obrigada a pagar US$72 milhões de indenização. E outros 1.200 processos semelhantes foram abertos contra a Johnson&Johnson nos EUA.

9-colunistaJacqueline Fox foi vítima do uso contumaz da linha de talcos da empresa, inclusive os infantis. A decisão foi da corte de St. Louis, em consequência da sonegação da informação sobre as consequências do uso continuado da mercadoria

Jacqueline Fox pediu para que metade da indenização fosse doada para um fundo que atende vítimas de crimes no estado do Missouri. Um dos membros do júri, Jerome Kendrick, acusou a empresa de tentar dissimular os efeitos do uso da mercadoria e influenciar associações que fiscalizam cosméticos.

Jere Beasley, advogado, acusou a empresa de estar ciente dos riscos do uso da mercadoria, desde 1980. Um dos jurados, Jerome Kendrick, afirmou que a empresa "tentou cobrir [os danos do produto] e influenciar associações que regulam cosméticos".

O advogado da família, Jere Beasley, disse que a companhia "sabia desde 1980 dos riscos", mas manteve essas informações afastadas do público e de agências regulatórias, segundo o jornal local de St Louis

Paulo Márcio de Mello*
Professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

Colunista
9-colunista

A coluna EMPRESA-CIDADÃ é publicada, desde 2001, continuamente, toda quarta-feira, no centenário jornal Monitor Mercantil (www.monitormercantil.com.br).
Através dela, são apresentados conceitos relativos à responsabilidade social, à sustentabilidade, à ética corporativa e ao desenvolvimento sustentável, casos de empreendedores e empresas, pesquisas, resenhas ou agenda sobre o assunto.
A coluna também pode ser lida no blog arteeconomia, com acesso http://pauloarteeconomia.blogspot.com

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