quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Um aumento de 5% do transporte rodoviário no mundo, até 2030, poderá aumentar o uso da água na agricultura em até 20%, em decorrência da produção de biocombustíveis, conforme a Agência Internacional de Energia. Pela correspondência existente, o tema escolhido pela ONU para o Dia Mundial da Água de 2014 foi “Água e Energia”.

coluna EMPRESA-CIDADÃ
Quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Paulo Márcio de Mello*


Água e energia no contexto geopolítico.


u      Segundo o relatório “Conjuntura de Recursos Hídricos no Brasil – Informe 2013”, editado pela Agência Nacional de Águas (ANA), no Brasil há cerca de 1.064 empreendimentos hidrelétricos, dos quais 407 são centrais de geração (CGH), 452 são pequenas centrais (PCH) e 205 são usinas (UHE). Quase 70% da capacidade total do sistema de produção de energia elétrica instalada no Brasil é hidrelétrica. Outras modalidades de geração também são dependentes do uso de água, como a térmica e a nuclear.

Manifesto

Um grupo de 100 pesquisadores ambientais brasileiros, de universidades e institutos, de diferentes estados, redigiu o “Manifesto de Cientistas pela Defesa de Nossos Rios.” O documento resgata a Moção sobre Barramentos, aprovada no X Congresso de Ecologia do Brasil (http://www.cpap.embrapa.br/pesca/online/PESCA2011_10CEB1.pdf), de setembro de 2011.

A finalidade da divulgação do manifesto é apelar por políticas públicas eficientes em garantir a manutenção da diversidade, incluindo-se as culturas humanas tradicionais dos ribeirinhos e os remanescentes de ecossistemas fluviais e de sistemas associados, como as matas ciliares, diante do crescimento de empreendimentos hidrelétricos no Brasil.

Segundo o manifesto, a Amazônia é a grande fronteira prevista para este crescimento. Há aproximadamente dois anos, o governo federal anunciou empreendimentos, diminuindo em mais de 90 mil hectares algumas grandes Unidades de Conservação da Amazônia.

Um dos casos mais notórios é o da hidrelétrica de Belo Monte (PA), em região já conflagrada, pela existência conversão de florestas em pastagens e consequente desmatamento. Na Amazônia, há também impactos derivados de duas grandes hidrelétricas do rio Madeira (Santo Antônio e Jirau; RO). No Pantanal, mais de 130 pequenas e médias hidrelétricas estão previstas ou em construção, em série nas cabeceiras dos rios dos estados do Mato Grosso do Sul e Mato Grosso.

No sul do Brasil, os planos da Empresa de Pesquisa Energética (EPE, do MME) para o rio Uruguai preveem pelo menos 11 barramentos em série, o que causaria perdas da biodiversidade, como o peixe dourado, que vem desaparecendo na região.

Cientistas apontam a falta de pesquisas de ecologia e de etnoecologia, a fim de se romper a atual forma de geração de estudos pontuais e parciais, por consultorias financiadas pelo setor elétrico, para contemplar o interesse dos mesmos interessados na expansão das hidrelétricas no País.

Cerca de 2/3 dos projetos de grandes, médias e pequenas hidrelétricas estão incidindo justamente no Mapa Oficial das Áreas Prioritárias para a Conservação da Biodiversidade (Port. MMA n. 9, 23/01/2007). O mapa das áreas definidas como de “Extrema Importância” possui cerca de ¼ dos projetos de hidrelétricas previstos para os próximos anos.

O manifesto destaca a necessidade de compromissos governamentais na realização de estudos mais abrangentes, denominados Avaliação Ambiental Estratégica (AAE) ou Integrada (AAI). Estas avaliações mais abrangentes do que os estudos de impacto ambiental (EIA-RIMA) apresentam metodologias próximas de um zoneamento ecológico-econômico e resultados de grande importância para os tomadores de decisão.

Estas metodologias, com base no Princípio da Precaução, que o Brasil assumiu perante acordos internacionais, fortalecem a visão inteligente de se avaliar, previamente, as alternativas locacionais, energéticas e de dimensão de empreendimentos.

Alternativas cada vez mais viáveis e baratas poderiam gerar muito mais energia elétrica do que hoje se utiliza no Brasil. Na Alemanha, a energia solar já é responsável por uma geração de 30GW, descentralizada, maior do que a capacidade de geração da usina de Itaipu.

No atual cenário geopolítico do mundo, o domínio sobre a água é crítico e seu confisco se faz de formas sutis, às vezes, como no caso da produção de alimentos irrigada sem a preocupação com a conservação. E então, países como o nosso exportam água na forma de comodities, com um simples balançar especulativo de curto prazo nos preços dos alimentos.

Paulo Márcio de Mello*
Professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

A coluna EMPRESA-CIDADÃ é publicada, desde 2001, toda quarta-feira,
no centenário jornal Monitor Mercantil (www.monitormercantil.com.br).
Através dela, são apresentados casos de empreendedores e empresas, pesquisas, resenhas, editais ou agenda, relativos à responsabilidade social, à ética corporativa, à sustentabilidade e ao desenvolvimento sustentável.

A coluna EMPRESA-CIDADÃ também pode ser lida no BLOG arteeconomia com acesso por http://pauloarteeconomia.blogspot.com

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