Enquanto, nas últimas duas décadas, decresceu o serviço estável no
continente; em contrapartida, aumentou a absorção da mão-de-obra temporária.
Em 20 anos, não foi só o mercado que mudou. De acordo com a pesquisa
realizada pelo chileno Fernando Vigorena, mudou o perfil do trabalhador
latino-americano. Vigorena, pesquisador da Universidad Autonôma do Sul, coletou
informações sobre o mercado de trabalho na América Latina, desde 1982.
Coluna EMPRESA-CIDADÃ
Quarta-Feira, 23.02.2016
Paulo Márcio de Mello*
Os Sem Teto (II)
Entre as
conclusões a que chegou estão a de que o emprego fixo, com carteira assinada,
está sendo substituído pelo trabalho de curto prazo, com a terceirização de
todas as funções possíveis. Segundo ele, estas perspectivas são irreversíveis,
e não seriam contornadas nem com crescimento econômico mundial. A sociedade do
conhecimento, de acordo com Vigorena, vai gerar menos empregos estáveis do que
a sociedade industrial.
Segundo
Fernando Vigorena, desde 1982, cerca de dois milhões de pessoas estão empregadas
em regime temporário no Continente sul americano. O fenômeno, não é
circunscrito ao setor privado. O nível de contratações temporárias, no setor
público aumentou mais de 500%, principalmente devido à terceirização.
Fernando
Vigorena destaca que o aumento do “trabalho flexível” se dá em velocidade ainda
maior do que a redução do “emprego estável”. A multiplicação de serviços – na
maioria terceirizados – de ensino, internet, comércio, finanças e rh, por
exemplo, está absorvendo as pessoas desvinculadas do mercado de trabalho
tradicional. A vantagem para o empresário está na transformação da gestão de
custos, transformando os custos fixos em custos variáveis e reduzindo a
participação relativa dos custos indiretos (uma bomba que explode com o tempo)
sobre os custos diretos que permite uma visibilidade maior nos indicadores
financeiros das empresas. A tendência, de acordo com o pesquisador, foi gerada,
principalmente, pelos custos sociais do trabalho, frente a um mercado que exige
produtos cada vez melhores e mais baratos. As economias de escala e de escopo e
os ganhos de produtividade do trabalhador valorizado parecem não responder para
reduzir custos, nos discursos dos empresários.
As empresas,
assegura Fernando Vigorena, mudaram. Perto de 50% delas reduziram pessoal à
metade, contrataram mão-de-obra de salários mais baixos, trocaram empregados
que executavam trabalhos rotineiros pelas tecnologias informatizadas, como o
software de gestão, e subcontrataram funções nos setores de serviços, produção
e vendas.
"As
fábricas estão agonizando, porque as indústrias progressivamente deixaram de
produzir, tornando-se muitas, empresas montadoras, com produção terceirizada e
pulverizada. A Benetton é um exemplo nítido. É a maior empresa têxtil do mundo,
mas não fabrica nem vende nada. Terceiriza ambos os serviços.
As áreas mais
promissoras dentro do novo cenário trabalhista são tecnologia; biotecnologia e
saúde; ensino (principalmente ensino à distância); consultoria administrativa;
serviços de conveniência; entretenimento, hotelaria; turismo e finanças.
Os setores
menos favorecidos atualmente são a área industrial, construção civil e
intermediação na venda de imóveis e de ações.
Fernado
Vigorena destaca três características do trabalhador que as empresas contam
hoje. Ser praticamente autônomo, isto é, ao mesmo tempo, empregável e
descartável; ter mentalidade de empresário independente; praticar alto grau de
flexibilidade e preencher os requisitos para ser contratado como pessoa
jurídica.
Paulo Márcio de Mello*
Professor
da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)
A coluna EMPRESA-CIDADÃ é publicada, desde 2001,
continuamente às quartas-feiras, no jornal Monitor Mercantil (www.monitormercantil.com.br).
Através dela, são apresentados conceitos relativos
à responsabilidade social, à sustentabilidade, ao desenvolvimento
sustentável e à ética nos negócios, através de casos de empreendedores e
empresas, pesquisas, resenhas, editais ou agenda na temática.
A coluna EMPRESA-CIDADÃ também
pode ser lida pelo Blog arteeconomia. Acesso através de http://pauloarteeconomia.blogspot.com
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