quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Enquanto, nas últimas duas décadas, decresceu o serviço estável no  continente; em contrapartida, aumentou a absorção da mão-de-obra temporária.
Em 20 anos, não foi só o mercado que mudou. De acordo com a pesquisa realizada pelo chileno Fernando Vigorena, mudou o perfil do trabalhador latino-americano. Vigorena, pesquisador da Universidad Autonôma do Sul, coletou informações sobre o mercado de trabalho na América Latina, desde 1982.

Coluna EMPRESA-CIDADÃ
Quarta-Feira, 23.02.2016
Paulo Márcio de Mello*

Os Sem Teto (II)

Entre as conclusões a que chegou estão a de que o emprego fixo, com carteira assinada, está sendo substituído pelo trabalho de curto prazo, com a terceirização de todas as funções possíveis. Segundo ele, estas perspectivas são irreversíveis, e não seriam contornadas nem com crescimento econômico mundial. A sociedade do conhecimento, de acordo com Vigorena, vai gerar menos empregos estáveis do que a sociedade industrial.

Segundo Fernando Vigorena, desde 1982, cerca de dois milhões de pessoas estão empregadas em regime temporário no Continente sul americano. O fenômeno, não é circunscrito ao setor privado. O nível de contratações temporárias, no setor público aumentou mais de 500%, principalmente devido à terceirização.

Fernando Vigorena destaca que o aumento do “trabalho flexível” se dá em velocidade ainda maior do que a redução do “emprego estável”. A multiplicação de serviços – na maioria terceirizados – de ensino, internet, comércio, finanças e rh, por exemplo, está absorvendo as pessoas desvinculadas do mercado de trabalho tradicional. A vantagem para o empresário está na transformação da gestão de custos, transformando os custos fixos em custos variáveis e reduzindo a participação relativa dos custos indiretos (uma bomba que explode com o tempo) sobre os custos diretos que permite uma visibilidade maior nos indicadores financeiros das empresas. A tendência, de acordo com o pesquisador, foi gerada, principalmente, pelos custos sociais do trabalho, frente a um mercado que exige produtos cada vez melhores e mais baratos. As economias de escala e de escopo e os ganhos de produtividade do trabalhador valorizado parecem não responder para reduzir custos, nos discursos dos empresários.

As empresas, assegura Fernando Vigorena, mudaram. Perto de 50% delas reduziram pessoal à metade, contrataram mão-de-obra de salários mais baixos, trocaram empregados que executavam trabalhos rotineiros pelas tecnologias informatizadas, como o software de gestão, e subcontrataram funções nos setores de serviços, produção e vendas.

"As fábricas estão agonizando, porque as indústrias progressivamente deixaram de produzir, tornando-se muitas, empresas montadoras, com produção terceirizada e pulverizada. A Benetton é um exemplo nítido. É a maior empresa têxtil do mundo, mas não fabrica nem vende nada. Terceiriza ambos os serviços.

As áreas mais promissoras dentro do novo cenário trabalhista são tecnologia; biotecnologia e saúde; ensino (principalmente ensino à distância); consultoria administrativa; serviços de conveniência; entretenimento, hotelaria; turismo e finanças.

Os setores menos favorecidos atualmente são a área industrial, construção civil e intermediação na venda de imóveis e de ações.

Fernado Vigorena destaca três características do trabalhador que as empresas contam hoje. Ser praticamente autônomo, isto é, ao mesmo tempo, empregável e descartável; ter mentalidade de empresário independente; praticar alto grau de flexibilidade e preencher os requisitos para ser contratado como pessoa jurídica.

Paulo Márcio de Mello*
Professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

A coluna EMPRESA-CIDADÃ é publicada, desde 2001,
continuamente às quartas-feiras, no jornal Monitor Mercantil (www.monitormercantil.com.br).
Através dela, são apresentados conceitos relativos
à responsabilidade social, à sustentabilidade, ao desenvolvimento sustentável e à ética nos negócios, através de casos de empreendedores e empresas, pesquisas, resenhas, editais ou agenda na temática.
A coluna EMPRESA-CIDADÃ também pode ser lida pelo Blog arteeconomia. Acesso através de http://pauloarteeconomia.blogspot.com


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