100% para o planeta
China, EUA e Índia lideram a escalada de danos à população do planeta, através da emissão de dióxido de
carbono. Em 2013, foram emitidas 36,1 bilhões de toneladas métricas de dióxido
de carbono, superiores em 2,3%, ao que foi emitido em 2012. Foi um novo
recorde.
blog do professor paulo márcio
economia&arte
Quarta-feira,
1º de outubro de 2014
Paulo Márcio de Mello*
► Em 2013, foram emitidas 36,1
bilhões de toneladas métricas de dióxido de carbono, superiores às emissões de
2012 em 2,3 %, estabelecendo-se assim um novo recorde. China, EUA e Índia
lideram esta escalada de danos à população do planeta, conforme resultados de
pesquisa divulgados nas revistas Nature Geoscience e Nature Climate Change. O
mesmo estudo prevê um aumento de 2,5% nas emissões em 2014.
► Em
2013, na Índia, observou-se um crescimento nas emissões de 5,1%; na China de
4,2% e nos EUA de 2,9%. Acima da média mundial, portanto. Em consequência, o
estudo cogita da possibilidade de um aumento de 1,1ºC, até 2040, apesar do
compromisso assumido pelos líderes políticos presentes, em 2009, na Conferência
sobre o clima de Copenhagen, de contenção do aquecimento global. A conferência chegou
a ser chamada de “Hopenhagen”, pela expectativa otimista então despertada.
► Dos
primeiros cem anos da Revolução Industrial para 2012, o estudo aponta um
aumento constatado na temperatura global de 0,85ºC e prevê alta, até 2100, de
2,6ºC (cenário mais otimista) a 4,8ºC (cenário mais pessimista). Entre tantas
consequências perversas, está a do aumento constatado de 19cm no nível do mar,
entre 1901 e 2010. Este fenômeno prosseguirá até 2100, com o aumento previsto,
de 26cm (cenário mais otimista), até 82cm (cenário mais pessimista).
► Da
concentração de carbono na atmosfera de 280 ppm (partes por milhão) do século
19, o mundo chegou até a marca de 387 ppm, alcançada em 2009, ano da COP 15
(Copenhagen). A despeito da recomendação da ciência, de não se ultrapassar a
marca de 350 ppm, o planeta ultrapassou 400 ppm, pela primeira vez em milhões
de anos. O anúncio foi feito pela National Oceanic and Atmospheric Agency
(NOAA), laboratório do governo norte-americano, localizado no estado do Havaí.
É o símbolo da frustração com o empenho das lideranças políticas e
empresariais: 400,03 ppm, em 10 de maio de 2013.
► Às
vésperas da realização da Cúpula do Clima da ONU, que reuniu cerca de 120
líderes e chefes de Estado, a partir de 23 de setembro, em diversas localidades
do planeta a população disse como é importante reverter a tendência das
emissões que, ao ritmo atual, chegarão aos 450 ppm, em 2040, nível considerado
catastrófico.
► Manifestações
aconteceram em dezenas de cidades. Em Nova York, onde se reuniu a Cúpula do
Clima, mais de 300 mil pessoas, na Marcha Popular pelo Clima, tomaram emprestada
a frase síntese do movimento Occupy Wall Street ("nós somos os 99% que não vão mais tolerar a ganância de 1%") ,
e disseram “100% para o planeta!”
► Apesar de afetar a todos, como é de costume, os
mais frágeis são os primeiros a pagar a conta do aquecimento. Estudo da
Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal) estima entre 1,5% a
5% do PIB o custo decorrente das mudanças climáticas, na hipótese do aumento da
temperatura alcançar 2,5ºC.
► Não são, no entanto, estes os países mais
responsáveis pela emissão do CO2. A região responde por 9% do total de emissão,
com uma taxa observada de 0,6% de crescimento, entre 1990 e 2011. Diferente dos
maiores emissores, China, EUA e Índia, a mudança do uso do solo, na América
Latina o desmatamento e o agronegócio são as maiores causas de emissão de
carbono.
► A posição brasileira nesta Cúpula do Clima esteve
focada no estabelecimento da agenda dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
(ODS), apresentados na Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento
Sustentável, a Rio+20, em junho de 2012. Os ODS sucederão os Objetivos de
Desenvolvimento do Milênio (ODM), a partir de 2015.
►
O desafio é apresentar os Objetivos do
Desenvolvimento Sustentável (ODS) em um formato que agilize a transição dos
Objetivos do Desenvolvimento do Milênio (ODM) para o novo estatuto, os ODS. Entre
os temas fundamentais para o estabelecimento de uma agenda sustentável estão a
erradicação da pobreza no mundo, a produção de alimentos e a geração de
energias renováveis.
► Foram poucos os
compromissos assumidos pelos líderes participantes. Alguns governantes
manifestaram a disposição de firmar um novo acordo climático, em 2015, na
cidade de Paris, reiterando a meta de não ultrapassar 2ºC de aquecimento. Para
tanto, foram ouvidas algumas manifestações de investir no Fundo Verde para o
Clima da ONU, que objetiva apoiar países ameaçados pelo aumento do nível dos
mares e interessados em uma economia descarbonizada.
► A França
comprometeu-se com aporte de US$1 bilhão, nos próximos quatro anos. A Noruega
comprometeu-se a destinar até US$300 milhões para o apoio específico ao
programa peruano de redução das emissões derivadas da destruição de parte da
Amazônia peruana e mais US$150 milhões para minimizar os impactos provocados
pelo desmatamento na Libéria, causado pela agricultura e pela produção de
carvão. A União Europeia comprometeu-se com a destinação de até US$3,8 bilhões
nos próximos sete anos, para apoio a iniciativas de energia limpa.
► Os
países mais necessitados pedem uma capitalização inicial do fundo de US$15
bilhões. A ONU fala em necessidades iniciais da ordem de US$10 bilhões. No
entanto, de concreto, até novembro, quando o fundo realizará a sua primeira conferência,
há US$2,3 bilhões comprometidos.
Paulo Márcio de Mello
Professor da Universidade do Estado
do Rio de Janeiro (UERJ)
A coluna
EMPRESA-CIDADÃ é publicada, desde 2001, toda quarta-feira,
no centenário
jornal Monitor Mercantil (www.monitormercantil.com.br).
São mais de 600
edições apresentando casos
de empreendedores e empresas,
pesquisas, resenhas, editais ou agenda, relativos à sustentabilidade, à
responsabilidade social e ao desenvolvimento sustentável.
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