sábado, 8 de novembro de 2014

100% para o planeta
                                                             
China, EUA e Índia lideram a  escalada de danos à população do planeta, através da emissão de dióxido de carbono. Em 2013, foram emitidas 36,1 bilhões de toneladas métricas de dióxido de carbono, superiores em 2,3%, ao que foi emitido em 2012. Foi um novo recorde.

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Quarta-feira, 1º de outubro de 2014

Paulo Márcio de Mello*



►      Em 2013, foram emitidas 36,1 bilhões de toneladas métricas de dióxido de carbono, superiores às emissões de 2012 em 2,3 %, estabelecendo-se assim um novo recorde. China, EUA e Índia lideram esta escalada de danos à população do planeta, conforme resultados de pesquisa divulgados nas revistas Nature Geoscience e Nature Climate Change. O mesmo estudo prevê um aumento de 2,5% nas emissões em 2014.

►      Em 2013, na Índia, observou-se um crescimento nas emissões de 5,1%; na China de 4,2% e nos EUA de 2,9%. Acima da média mundial, portanto. Em consequência, o estudo cogita da possibilidade de um aumento de 1,1ºC, até 2040, apesar do compromisso assumido pelos líderes políticos presentes, em 2009, na Conferência sobre o clima de Copenhagen, de contenção do aquecimento global. A conferência chegou a ser chamada de “Hopenhagen”, pela expectativa otimista então despertada.

►      Dos primeiros cem anos da Revolução Industrial para 2012, o estudo aponta um aumento constatado na temperatura global de 0,85ºC e prevê alta, até 2100, de 2,6ºC (cenário mais otimista) a 4,8ºC (cenário mais pessimista). Entre tantas consequências perversas, está a do aumento constatado de 19cm no nível do mar, entre 1901 e 2010. Este fenômeno prosseguirá até 2100, com o aumento previsto, de 26cm (cenário mais otimista), até 82cm (cenário mais pessimista).

►      Da concentração de carbono na atmosfera de 280 ppm (partes por milhão) do século 19, o mundo chegou até a marca de 387 ppm, alcançada em 2009, ano da COP 15 (Copenhagen). A despeito da recomendação da ciência, de não se ultrapassar a marca de 350 ppm, o planeta ultrapassou 400 ppm, pela primeira vez em milhões de anos. O anúncio foi feito pela National Oceanic and Atmospheric Agency (NOAA), laboratório do governo norte-americano, localizado no estado do Havaí. É o símbolo da frustração com o empenho das lideranças políticas e empresariais: 400,03 ppm, em 10 de maio de 2013.

►      Às vésperas da realização da Cúpula do Clima da ONU, que reuniu cerca de 120 líderes e chefes de Estado, a partir de 23 de setembro, em diversas localidades do planeta a população disse como é importante reverter a tendência das emissões que, ao ritmo atual, chegarão aos 450 ppm, em 2040, nível considerado catastrófico.

►      Manifestações aconteceram em dezenas de cidades. Em Nova York, onde se reuniu a Cúpula do Clima, mais de 300 mil pessoas, na Marcha Popular pelo Clima, tomaram emprestada a frase síntese do movimento Occupy Wall Street ("nós somos os 99% que não vão mais tolerar a ganância de 1%") , e disseram “100% para o planeta!”

►      Apesar de afetar a todos, como é de costume, os mais frágeis são os primeiros a pagar a conta do aquecimento. Estudo da Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal) estima entre 1,5% a 5% do PIB o custo decorrente das mudanças climáticas, na hipótese do aumento da temperatura alcançar 2,5ºC.

►      Não são, no entanto, estes os países mais responsáveis pela emissão do CO2. A região responde por 9% do total de emissão, com uma taxa observada de 0,6% de crescimento, entre 1990 e 2011. Diferente dos maiores emissores, China, EUA e Índia, a mudança do uso do solo, na América Latina o desmatamento e o agronegócio são as maiores causas de emissão de carbono.

►      A posição brasileira nesta Cúpula do Clima esteve focada no estabelecimento da agenda dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), apresentados na Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, em junho de 2012. Os ODS sucederão os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), a partir de 2015.

►      O desafio é apresentar os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) em um formato que agilize a transição dos Objetivos do Desenvolvimento do Milênio (ODM) para o novo estatuto, os ODS. Entre os temas fundamentais para o estabelecimento de uma agenda sustentável estão a erradicação da pobreza no mundo, a produção de alimentos e a geração de energias renováveis.

►      Foram poucos os compromissos assumidos pelos líderes participantes. Alguns governantes manifestaram a disposição de firmar um novo acordo climático, em 2015, na cidade de Paris, reiterando a meta de não ultrapassar 2ºC de aquecimento. Para tanto, foram ouvidas algumas manifestações de investir no Fundo Verde para o Clima da ONU, que objetiva apoiar países ameaçados pelo aumento do nível dos mares e interessados em uma economia descarbonizada.

►      A França comprometeu-se com aporte de US$1 bilhão, nos próximos quatro anos. A Noruega comprometeu-se a destinar até US$300 milhões para o apoio específico ao programa peruano de redução das emissões derivadas da destruição de parte da Amazônia peruana e mais US$150 milhões para minimizar os impactos provocados pelo desmatamento na Libéria, causado pela agricultura e pela produção de carvão. A União Europeia comprometeu-se com a destinação de até US$3,8 bilhões nos próximos sete anos, para apoio a iniciativas de energia limpa.

►      Os países mais necessitados pedem uma capitalização inicial do fundo de US$15 bilhões. A ONU fala em necessidades iniciais da ordem de US$10 bilhões. No entanto, de concreto, até novembro, quando o fundo realizará a sua primeira conferência, há US$2,3 bilhões comprometidos.

Paulo Márcio de Mello
Professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

A coluna EMPRESA-CIDADÃ é publicada, desde 2001, toda quarta-feira,
no centenário jornal Monitor Mercantil (www.monitormercantil.com.br).
São mais de 600 edições apresentando casos de empreendedores e empresas,
pesquisas, resenhas, editais ou agenda, relativos à sustentabilidade, à responsabilidade social e ao desenvolvimento sustentável.

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