terça-feira, 25 de novembro de 2014

“Lava Jato” e códigos corporativos
                                                             
As corporações expressam as práticas que desejam dos seus membros através de códigos de conduta. Nota-se que, nem sempre, vale o que está escrito...
blog do professor paulo márcio
economia&arte

Quarta-feira, 26 de novembro de 2014
coluna Empresa-Cidadã
Paulo Márcio de Mello*

Altos executivos de grandes empresas privadas brasileiras foram detidos pela Polícia Federal para investigações, em Curitiba (PR), em um dos desdobramentos da chamada Operação “Lava-Jato”. As empresas, entre outros instrumentos, com frequência expressam os seus credos corporativos através de códigos de conduta, ora chamados de conduta ética, ora chamados de conduta moral. Neles, é dito o que os membros da comunidade empresarial, podem fazer, ou o que não podem, na condição de integrantes da corporação.

A leveza angelical de muitos destes códigos de conduta nem sempre é capaz de sustentar o peso concreto das práticas de governança corporativa. No caso, por exemplo da Camargo Correa (em ordem alfabética), o seu Código de Conduta afirma que “O Grupo Camargo Corrêa adota os seguintes valores permanentes, originários da sua história e de sua prática.”

“Respeito às pessoas e ao meio ambiente. Agir sempre correta e justamente em relação a acionistas, profissionais, clientes, fornecedores, governos, comunidades locais e a sociedade em geral. Atuar com responsabilidade em relação ao meio ambiente”; “Atuação responsável. Atender ao estabelecido na legislação onde quer que atuemos, agindo de forma íntegra. Respeitar a diversidade de acordo com as normas universais de boa convivência humana, sem discriminação de raça, sexo, credo, religião, cargo, função ou outra”; “Transparência. Fornecer informações claras e abrangentes sobre as atividades, as realizações, as políticas e o desempenho do grupo, de maneira sistemática e acessível.” E por aí vai...

No caso da ENGEVIX, o Código de Ética, entre outras, afirma “Proibir expressamente a utilização de práticas ilegais tais como suborno, corrupção, fraudes, extorsão, propina, pirataria, sonegação fiscal, contrabando e violação de patentes e direitos autorais.”

Premiada como melhor empresa do setor da Indústria da Construção pelo Guia Melhores&Maiores (Revista Exame; Ed. Abril), “A matéria relata que a Companhia aumentou dez vezes a receita desde que a Petrobras entrou em sua carteira de clientes.” A empresa também é signatária do Pacto Global.

A empresa Galvão Engenharia SA, dispõe de uma expressa Política de Conduta e Identidade, onde se encontra, no item “Relações com parceiros, fornecedores e clientes (da área Pública ou Privada)”, que “São proibidos acordos e condutas, que tenham como objetivo ou possam causar impedimentos ou restrições à concorrência, incluindo acordos formais e informais que possam: Frustrar ou fraudar, mediante ajuste, combinação ou qualquer outro expediente, o caráter competitivo de procedimento licitatório público ou privado”; e “Impedir, perturbar ou fraudar a realização de qualquer ato de procedimento licitatório público ou privado.”

Por sua vez, o grupo IESA Projetos, Equipamentos e Montagens SA tem por missão “Oferecer com excelência as melhores soluções em infraestrutura através de uma empresa sustentável e transparente.” Os valores que explicita são “Respeito: Ao próximo, a si mesmo e ao meio ambiente”; “Paixão: Pelo empreendimento com ousadia e inovação”; “Credibilidade: Aos clientes, fornecedores e mercado em geral”; “Responsabilidade: Com os clientes, acionistas e funcionários” e “Simplicidade e previsibilidade: Diferencial indispensável para o sucesso.”

Sobre valores, o grupo Mendes Junior apresenta “Excelência em negócios de engenharia; Respeito ao ser humano; Cumprimento dos contratos; Perseverança e Ética”.

O grupo OAS SA, em sua “Política de QSMS”, enuncia que “executa obras e serviços relacionados com engenharia, entende que a qualidade é de vital importância para assegurar o desenvolvimento da empresa. A responsabilidade por QSMS - Qualidade, Segurança, Meio Ambiente e Saúde - é de todos e está presente em nossas atividades, atitudes e valores: Orientação para Resultados, Competência Profissional, Garra e Confiança.

O Grupo Galvão, afirma em seu Código de Ética que  “O combate à pirataria, sonegação, fraude e corrupção são fundamentais para a formação de um ambiente de trabalho saudável e uma sociedade mais justa. Todo e qualquer oferecimento ou recebimento de doações ou presentes só devem ser efetuados se livres de favorecimentos indevidos ou diferenciados.”

“A atuação dos colaboradores da Queiroz Galvão S.A. com agentes públicos e privados deverá pautar-se sempre e em todos os casos na boa-fé, cabendo-lhes manter, em quaisquer circunstâncias, os mais altos padrões de comportamento ético.”

Em Procedimentos Competitivos (inclusive Licitações Públicas) e Contratos Públicos e Privados, consta que “é vedado aos colaboradores da Queiroz Galvão S.A. praticar quaisquer condutas que possam, direta ou indiretamente, frustrar ou fraudar o caráter competitivo de procedimentos competitivos públicos ou privados, sendo também expressamente proibida a realização de atos que visem corromper representantes da Administração Pública ou do mercado privado, notadamente com a finalidade de obtenção de vantagem ou benefícios indevidos através da celebração, alteração, prorrogação ou extinção de contrato público ou privado.”

Por último, a UTC Engenharia SA vale-se de um Código de Ética, que contempla, entre outros aspectos, que “A honestidade, a dignidade, o respeito, a lealdade, o decoro, o zelo, a eficácia, a transparência e a consciência dos princípios éticos são os valores maiores que orientam a relação da UTC com seu público de interesse”; e que “A UTC não apoia nem promove a prática de fraudes de qualquer natureza.” Ou os códigos de conduta foram negligenciados por conselhos, diretorias e gerências, ou eles expressam um modo muito peculiar de governança, a governança pelo não dito.

Há muito se sabe que é preciso melhorar o nível das cadeias do Brasil. Como elas nunca tinham sentido tamanho peso do PIB em suas instalações, quem sabe o processo de melhoria começou. Assim, nenhum ministro da Justiça dirá mais que prefere a morte, nem a Justiça italiana voltará recusar a extradição de um criminoso por precariedade das instalações penitenciárias do país...

Paulo Márcio de Mello
Professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

A coluna EMPRESA-CIDADÃ é publicada, desde 2001, toda quarta-feira,
no centenário jornal Monitor Mercantil (www.monitormercantil.com.br).

São mais de 600 edições apresentando casos de empreendedores e empresas, pesquisas, resenhas, editais ou agenda, relativos à sustentabilidade, à responsabilidade social e ao desenvolvimento sustentável.

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