quarta-feira, 5 de novembro de 2014

ODS, para além de 2015
                                                             
Acabar com a pobreza em todos os lugares. Este é o primeiro dos Objetivos do desenvolvimento sustentável (ODS) que constam do documento preliminar “Minuta Zero”, resultante da RIO+20. Deverão suceder os Objetivos do Desenvolvimento do Milênio (ODM), instituídos em 2000, pela Declaração do Milênio, da Organização  das Nações Unidas (ONU), após 2015.

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Quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Paulo Márcio de Mello*



u      O relatório “O futuro que queremos”, síntese da Rio+20, propôs a constituição do Grupo de Trabalho Aberto (GTA), para desenvolver um elenco de objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS), compatível com a agenda de desenvolvimento da Organização das Nações Unidas (ONU), para além de 2015. O GTA aprontou o documento “Minuta Zero” com o intuito de demarrar os processos de discussão e redação dos ODS.

u      Até 31 de agosto, a Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República (SRI/PR) receberá contribuições ao texto do GTA (pelo endereço saf.internacional@presidência.gov.br), colocado em processo de consulta junto a gestores públicos do país. O texto resultante será apresentado à 68ª Assembleia Geral da ONU, em setembro próximo, quando se tornará a agenda global para os próximos quinze anos. Sucederá a Declaração do Milênio, que instituiu, em 2000, os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (http://dialogosfederativos.gov.br/).

u      Com motivos, o GTA propôs como primeiro ODS “Acabar com a pobreza em todos os lugares”. Atualmente, a extrema pobreza é relacionada às pessoas com menos do que o equivalente a US$ 1.25, por dia. Entre as metas, estão a de erradicar este contingente, até 2030, bem como reduzir, no mínimo pela metade, a proporção dos que vivem na pobreza, conforme os parâmetros utilizados em cada país.

u      O segundo objetivo proposto é “Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável”. Entre as metas, constam as de, até 2030, “acabar com a fome e garantir o acesso, de todas as pessoas, ao alimento seguro, nutritivo e suficiente”; “acabar com todas as formas de desnutrição, atingindo, até 2025, as metas ajustadas em nanismo e desperdício, em crianças menores de cinco anos de idade”; e “duplicar a produtividade agrícola e os rendimentos dos pequenos produtores de alimentos, particularmente as mulheres, povos indígenas, agricultores familiares, pastores e pescadores”.

u      Seguem os objetivos de “Garantir vida saudável e promover o bem estar para todos em todas as idades” (terceiro); “Garantir educação de qualidade, justa e inclusiva e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos” (quarto); “Atingir a igualdade de gêneros e empoderar todas as mulheres e meninas” (quinto); “Garantir água potável e saneamento básico para um mundo sustentável” (sexto); e “Garantir acesso à energia confiável, sustentável e moderna para todos” (sétimo).

u      Os objetivos propostos em décimo primeiro lugar e décimo segundo são “Construir cidades e assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis” e “Garantir padrões de consumo e produção sustentáveis”, respectivamente. Seguem “Tomar medidas urgentes para combater as mudanças climáticas e os seus impactos” (décimo terceiro) e “Conservar e usar de modo sustentável os oceanos, mares e recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável” (décimo quarto).

u      Os últimos objetivos propostos são “Proteger, recuperar e promover o uso sustentável de ecossistemas, manejar florestas de modo sustentável, combater a desertificação, deter e reverter a degradação do solo e toda a perda de biodiversidade” (décimo quinto); “Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, prover o acesso à justiça para todos e criar instituições eficazes, confiáveis e inclusivas em todos os níveis” (décimo sexto); e “Fortalecer os meios de implementação e revitalizar as parcerias globais para o desenvolvimento sustentável” (décimo sétimo).

u      Cabe um comentárIo sobre os objetivos de “Promover o crescimento econômico sustentado, sustentável e inclusivo, emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todos” (oitavo); “Criar infraestrutura resiliente, promover a industrialização inclusiva e sustentável e fomentar a inovação” (nono); e “Reduzir as desigualdades intra-países e entre os países” (décimo).

u      O oitavo ODS proposto (“Promover o crescimento econômico sustentado, sustentável e inclusivo, emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todos”), ainda está inflado do conceito tradicional de crescimento econômico, fetiche soberano desde o século passado. Mesmo adjetivado como sustentado, inclusivo ou, como apresentado no Relatório Brundtland (1987), sustentável, não há como conciliá-lo com o ideal de equidade.

u      Entre as metas deste ODS, constam as de “sustentar o crescimento econômico per capita em, pelo menos, 7% ao ano”, medido pela expansão do PIB, “alcançar níveis mais elevados de produtividade das economias através da diversificação, modernização tecnológica e inovação, inclusive mediante um foco em alto valor agregado e setores de trabalho intensivo”; e “alcançar a eficiência dos recursos globais no consumo e na produção”, procurando “dissociar o crescimento econômico da degradação ambiental, com os países desenvolvidos assumindo a liderança”.

u      Nenhum retrospecto histórico, da antiguidade clássica ao Protocolo de Kioto, se faz fiador da combinação amigável entre expansão do PIB e degradação ambiental, modernização tecnológica com criação de postos de trabalho, emprego pleno e decente, ou com redução das desigualdades, sob a liderança dos países desenvolvidos. Para além de 2015. Muito além!

Paulo Márcio de Mello
Professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

A coluna EMPRESA-CIDADÃ é publicada, desde 2001, toda quarta-feira,
no centenário jornal Monitor Mercantil (www.monitormercantil.com.br).
São mais de 600 edições apresentando casos de empreendedores e empresas, pesquisas, resenhas, editais ou agenda, relativos à sustentabilidade, à responsabilidade social e ao desenvolvimento sustentável.

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