segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Janela (mais ou menos) aberta
                                                             
5º Relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC). Um derradeiro grito de alerta.

blog do professor paulo márcio
economia&arte


Quarta-feira, 5 de novembro de 2014
Paulo Márcio de Mello*


►      A divulgação nesta semana do 5º Relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), em Copenhague (Dinamarca), é grito de alerta para que sejam reduzidas as emissões dos gases causadores das mudanças climáticas imediatamente, ou não haverá mais tempo para conter os danos dentro dos limites civilizatórios. A janela de oportunidade é muito estreita.

►      Participaram da produção do relatório 830 cientistas de 80 países. O relatório destaca que, desde a era pré-industrial, a acumulação de gases causadores do efeito estufa tem aumentado, destacando-se o período de 2000 a 2010, como o de mais altas emissões de dióxido de carbono, metano e oxido nitroso dos últimos 800 anos. O presidente IPCC, Rajendra Pachauri cobrou seriedade no enfrentamento da questão, para que ainda se consiga um futuro mais próspero e saudável.

►     No período de 2000 a 2010, a queima de combustíveis fósseis foi a atividade de maior responsabilidade pelas emissões, com 47% do total, seguida da indústria, com 30%. Nas últimas três décadas, foi verificado um aquecimento na superfície do planeta, sem precedentes, desde 1850. No período compreendido entre 1880 e 2012, o aquecimento médio foi de 0,85ºC (grau Celsius).

►     No intervalo entre 1991 e 2010, o derretimento das geleiras da Antártida e da Groenlândia acarretaram um aumento médio do nível do mar equivalente a 19 centímetros. Os ecossistemas marinhos são afetados também pelo crescimento da acidificação dos oceanos em média de 26%, como decorrência da captura do dióxido de carbono da atmosfera.

►    O cenário delineado é tenebroso, se não se alcançar a rápida interrupção das mudanças climáticas. Neste cenário, meios de vida seriam obstados por tempestades ou inundações derivadas do aumento do nível do mar, e por fases de calor e secas. A segurança alimentar estaria comprometida, assim como a oferta de água, a produção primária, a biodiversidade e a infraestrutura de serviços, atingindo inicialmente as populações mais carentes de forma mais vigorosa.

►      O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, presente na apresentação do 5º Relatório do IPCC, o relatório síntese, exercitou o seu otimismo, sem diminuir a dramaticidade do momento. Segundo ele, desde as frustrações da Conferência do Clima de Copenhague, de 2009, que chegou a ser chamada, no início, de “Hopenhague”, houve mais diálogo entre os líderes das nações e maior comprometimento, a ponto de haver disposição para um acordo climático, cujas bases serão apresentadas em dezembro de 2014, em Lima (Peru), na COP 20. O acordo está previsto para ser firmado em 2015, na COP 21, a se realizar em Paris (França).

►     Repetidamente, no entanto, as negociações batem na trave da indefinição sobre quem pagará a conta da redução das emissões dos gases causadores do efeito estufa. Apesar deste relatório reiterar que o custo de se investir em eficiência energética e em substituir o uso de energia proveniente de combustíveis de origem fóssil por energias renováveis seja menor do que o custo de corrigir as consequências do aquecimento.

►   A comunidade científica internacional estipula parâmetros para conter a crise climática como os de redução das emissões mundiais de gases que provocam o efeito estufa entre 40% e 70%, de 2010 a 2050, e redução de 100%, até 2100. O relatório, no entanto, adverte que a mudança climática tem probabilidade de exceder um aquecimento de 4ºC, até 2100, comparado ao período pré-industrial.

 É o fim da História do “Price Competition in 1955” (http://ablemesh.co.uk/PDFs/journal-of-retailing1955.pdf), do marqueteiro Victor Lebow, considerado um marco na transformação da sociedade de abastecimento, vivida até então, para a sociedade de consumo exacerbado dos nossos dias.

►      Dizia ele que “(...) nossa economia enormemente produtiva requer que façamos do consumo o nosso modo de vida, que convertamos a compra e o uso de mercadorias em rituais (…) que busquemos a nossa satisfação espiritual ou do nosso ego no consumo (…) a medida do status social, da aceitação, do prestígio, está baseado em nosso padrão de consumo (...) a maior coerção sobre o indivíduo para formá-lo na defesa e aceitação dos padrões, tenda a expressar suas aspirações e individualidade em termos do que ele usa, dirige, come – sua casa, seu carro, seu padrão alimentar, seu lazer (...) nós precisamos de coisas consumidas, destruídas, gastas, substituídas e descartadas numa taxa continuamente crescente”.

►      O secretário-geral da ONU, Ban Ki-monn, no tom do otimismo possível nas atuais circunstâncias, acrescentou. “O tempo não está a nosso favor. Vamos trabalhar em conjunto por um mundo mais sustentável. Vamos preservar o nosso planeta e promover desenvolvimento de maneira sustentável. Cada indivíduo pode participar desse esforço. Um único pingo de água precisa ser usado de uma maneira mais sustentável”.
Paulo Márcio de Mello
Professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

A coluna EMPRESA-CIDADÃ é publicada, desde 2001, toda quarta-feira,
no centenário jornal Monitor Mercantil (www.monitormercantil.com.br).
São mais de 600 edições apresentando casos de empreendedores e empresas,
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