terça-feira, 4 de novembro de 2014

Filantropia sabor controvérsia?
                                                             
No Brasil, o Instituto Ronald McDonald coordena a maior iniciativa não governamental do país em benefício
de crianças e adolescentes com câncer.

blog do professor paulo márcio
economia&arte

Quarta-feira, 13 de agosto de 2014
Coluna EMPRESA-CIDADÃ
Paulo Márcio de Mello*

u            O câncer infantojuvenil é a primeira causa de morte por enfermidade na faixa etária de 5 a 19 anos, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA). As chances de cura da doença evoluiram nos últimos 30 anos, saltando de cerca de 15% para 65%, atualmente. Em alguns casos, pode chegar a 85%.

u      No Brasil, o Instituto Ronald McDonald coordena a maior iniciativa não governamental do país em benefício de crianças e adolescentes com câncer, realizada através de programas, como a “Casa Ronald McDonald”, o “Espaço Família”, o “Atenção Integral” e o “Diagnóstico Precoce”.

u      O programa Casas Ronald McDonald, coordenado no Brasil pelo Instituto Ronald McDonald, parte da constatação de que muitas crianças e adolescentes precisam viajar grandes distâncias para receber atendimento médico. Ocorre que seus acompanhantes, por falta de recursos para acomodação, chegam a desistir do tratamento. O conceito deste programa é “uma casa longe de casa”, já que oferece hospedagem, alimentação, transporte e suporte psicossocial aos pacientes e seus familiares, ausentes de suas cidades de origem em função do tratamento.

u      Cada Casa Ronald McDonald é certificada pela organização internacional Ronald McDonald House Charities (RMHC), que assegura os mesmos padrões de qualidade de atendimento em qualquer parte do mundo. A primeira Casa Ronald McDonald do Brasil e da América Latina foi inaugurada no Rio de Janeiro, em 1994, existindo outras casas em Belém (PA) e São Paulo (ABC, Moema, Jahu e Campinas).

u      O programa Espaço Família tem por conceito oferecer condições mais humanizadas durante a estada no hospital, em um ambiente que permite o contato com outros familiares em mesmas condições, colaborando com a continuidade do tratamento. O Instituto Ronald McDonald coordena o modelo de gestão e planejamento, articulação com “stakeholders”, além da supervisão financeira, e os hospitais em que estão sediados os Espaços da Família são responsáveis por administrar operacional e financeiramente cada unidade.

u      O primeiro Espaço da Família Ronald McDonald do Brasil foi inaugurado em 2011, no Hospital Grupo de Pesquisa e Assistência ao Câncer Infantil (GPACI), em Sorocaba (SP). Há outros, como o do Hospital de Câncer Infanto juvenil “Luiz Inácio Lula da Silva”, em Barretos (SP), e o do Hospital de Câncer de Mato Grosso, em Cuiabá.

u      O Programa Diagnóstico Precoce tem por conceito contribuir para a diminuição do tempo entre o aparecimento de sintomas do câncer e o diagnóstico, aumentando a expectativa de cura. A iniciativa, idealizada em 2005, viabiliza a capacitação de profissionais médicos, enfermeiros e agentes comunitários de saúde, entre outros, para que possam identificar e encaminhar adequadamente potenciais casos de câncer em crianças e adolescentes.

u      Em 2008, foi realizada a fase piloto do programa, com a participação de oito instituições, que atuaram na capacitação de 2.606 profissionais, responsáveis pela cobertura de 640.910 jovens. A expansão do programa, iniciada em 2009, investiu em 13 projetos, de 10 diferentes estados.

u      Por fim, O Programa Atenção Integral visa elevar as taxas de cura dos jovens pacientes, por meio do apoio a ações e articulação de serviços complementares, como estratégias de consolidação da Rede de Atenção Oncológica, na região de execução do projeto, orientadas por edital anual.

u      Todos os programas beneficiam anualmente cerca de 30 mil crianças, adolescentes e seus familiares. São custeados por diferentes modos, como parcerias com outras empresas, doações, Cofrinhos (presentes em todos os caixas dos restaurantes e quiosques McDonald’s) e, principalmente, pela campanha McDia Feliz.

u      Nela, todo recurso arrecadado com a venda de sanduíches Big Mac (exceto alguns impostos), vendido separadamente ou na McOferta de Big Mac, além de materiais promocionais confeccionados pelas instituições participantes são revertidos para instituições de apoio e combate ao câncer infanto-juvenil de todo país.

u      Desde 1988, o McDia Feliz tornou-se o dia de maior movimento em mais de 600 restaurantes McDonald’s, contando com uma mobilização de cerca de 30 mil voluntários. O programa já arrecadou mais de R$ 150 milhões, aplicados em quase todas os estados brasileiros.

u      Os recursos têm viabilizado a implantação de unidades de internação, ambulatórios, salas de quimioterapia, casas de apoio e unidades de transplante de medula óssea, entre outros projetos. Todos os projetos apoiados pelo Instituto Ronald McDonald são auditados (disponível em http://www.instituto-ronald.org.br/index.php/instituicoes-e-projetos/projetos-apoiados). Ano passado, o McDia Feliz beneficiou 81 projetos, de 58 instituições, com a arrecadação de R$20.441.012,00.

u      A filantropia empresarial, uma das consequências e características da formação do pensamento empresarial norte americano, atua fortemente na criação, desenvolvimento e manutenção de um grande número de iniciativas benemerentes, bem diferente de como é percebida no Brasil, onde chega a ser pejorativamente chamada por alguns de “pilantropia”.

u      Enquanto isso, três empresas brasileiras, a JBS (“a carne é Friboi?”), a Ambev e a OAS (empresa que fez parte do Consórcio Via Amarela, responsável pelas obras da estação Pinheiros, do metro São Paulo, que desabou em 2007, matando 7 pessoas) são responsáveis por 65% do financiamento das campanhas eleitorais pela Presidência da República até o dia 6 de agosto.

u      A JBS, doadora mais generosa, responde por 35% das doações. Foram doados por ela R$5 milhões para a campanha da presidenta Dilma Rousseff, mais R$5 milhões para a campanha do senador Aécio Neves e mais R$1 milhão, para o governador Eduardo Campos.

Paulo Márcio de Mello
Professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

A coluna EMPRESA-CIDADÃ é publicada, desde 2001, toda quarta-feira,
no centenário jornal Monitor Mercantil (www.monitormercantil.com.br).
Através dela, são apresentados casos de empreendedores e empresas,

pesquisas, resenhas, editais ou agenda, relativos à responsabilidade social, à sustentabilidade e ao desenvolvimento sustentável.

Um comentário:

  1. A participação dos setores empresarias nas questões sociais é muito importante. Como sabemos, as empresas são constituídas exatamente para beneficiarem-se de externalidades, portanto, é justo que ao obterem tantas vantagens a partir dessas externalidades que retribuam minimamente benefícios à sociedade.
    Em relação às ações de "filantropia" em que organizações promovem ou custeiam empreendimentos que de alguma forma beneficiam as comunidades que estão direta ou indiretamente ligadas a elas, a destinação de recursos é muito positiva, porque coopera com as atitudes dos governos e dos cidadãos no sentido de melhorar a sociedade.
    Por outro lado, no entanto, no caso de organizações que destinam parte de suas verbas para financiamento de campanha eleitoral, como citado no texto, o assunto é muito mais delicado. Essas relações não trazem diretamente (provavelmente nem indiretamente) benefícios para a sociedade, mas apenas para determinados grupos políticos e, claro, para as próprias organizações. Neste caso, como está sendo discutido atualmente no campo político brasileiro, devemos repensar a legalidade dessas "doações".

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