Filantropia sabor controvérsia?
No Brasil, o Instituto Ronald McDonald coordena a maior iniciativa não
governamental do país em benefício
de crianças e adolescentes com câncer.
blog do professor paulo márcio
economia&arte
Quarta-feira, 13 de agosto de 2014
Coluna EMPRESA-CIDADÃ
Paulo Márcio de Mello*
u O câncer
infantojuvenil é a primeira causa de morte por enfermidade na faixa etária de 5
a 19 anos, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da
Silva (INCA). As chances de cura da doença evoluiram nos últimos 30 anos,
saltando de cerca de 15% para 65%, atualmente. Em alguns casos, pode chegar a
85%.
u No Brasil, o Instituto Ronald
McDonald coordena a maior iniciativa não governamental do país em benefício de crianças e
adolescentes com câncer, realizada através de programas, como a “Casa Ronald
McDonald”, o “Espaço Família”, o “Atenção Integral” e o “Diagnóstico Precoce”.
u O programa Casas Ronald McDonald, coordenado no
Brasil pelo Instituto Ronald McDonald, parte da constatação de que muitas crianças
e adolescentes precisam viajar grandes distâncias para receber atendimento
médico. Ocorre que seus acompanhantes, por falta de recursos para acomodação,
chegam a desistir do tratamento. O conceito deste programa é “uma casa longe de
casa”, já que oferece hospedagem, alimentação, transporte e suporte
psicossocial aos pacientes e seus familiares, ausentes de suas cidades de
origem em função do tratamento.
u Cada Casa Ronald McDonald é certificada
pela organização internacional Ronald McDonald House Charities (RMHC), que assegura
os mesmos padrões de qualidade de atendimento em qualquer parte do mundo. A
primeira Casa Ronald McDonald do Brasil e da América Latina foi inaugurada no
Rio de Janeiro, em 1994, existindo outras casas em Belém (PA) e São Paulo (ABC,
Moema, Jahu e Campinas).
u O programa Espaço Família tem por conceito oferecer
condições mais humanizadas durante a estada no hospital, em um ambiente que
permite o contato com outros familiares em mesmas condições, colaborando com a
continuidade do tratamento. O Instituto Ronald McDonald coordena o modelo de
gestão e planejamento, articulação com “stakeholders”, além da supervisão
financeira, e os hospitais em que estão sediados os Espaços da Família são
responsáveis por administrar operacional e financeiramente cada unidade.
u O primeiro Espaço da Família Ronald McDonald do
Brasil foi inaugurado em 2011, no Hospital Grupo de Pesquisa e
Assistência ao Câncer Infantil (GPACI), em Sorocaba (SP). Há outros, como o do
Hospital de Câncer Infanto juvenil “Luiz Inácio Lula da Silva”, em Barretos
(SP), e o do Hospital de Câncer de Mato Grosso, em Cuiabá.
u O Programa Diagnóstico Precoce tem por conceito
contribuir para a diminuição do tempo entre o aparecimento de sintomas
do câncer e o diagnóstico, aumentando a expectativa de cura. A iniciativa,
idealizada em 2005, viabiliza a capacitação de profissionais médicos,
enfermeiros e agentes comunitários de saúde, entre outros, para que possam
identificar e encaminhar adequadamente potenciais casos de câncer em crianças e
adolescentes.
u Em 2008, foi realizada a fase piloto do programa,
com a participação de oito instituições, que atuaram na capacitação de 2.606
profissionais, responsáveis pela cobertura de 640.910 jovens. A expansão do programa,
iniciada em 2009, investiu em 13 projetos, de 10 diferentes estados.
u Por fim, O Programa Atenção Integral
visa elevar as taxas de cura dos jovens pacientes,
por meio do apoio a ações e articulação de serviços complementares, como estratégias de consolidação da
Rede de Atenção Oncológica, na região de execução do projeto, orientadas por
edital anual.
u Todos os programas beneficiam anualmente cerca de 30 mil crianças, adolescentes e seus
familiares. São custeados por diferentes modos, como parcerias
com outras empresas, doações, Cofrinhos (presentes em todos os caixas dos
restaurantes e quiosques McDonald’s) e, principalmente, pela campanha McDia
Feliz.
u Nela, todo recurso arrecadado com a venda
de sanduíches Big Mac (exceto alguns impostos), vendido separadamente ou na
McOferta de Big Mac, além de materiais promocionais confeccionados pelas
instituições participantes são revertidos para instituições de apoio e combate
ao câncer infanto-juvenil de todo país.
u Desde 1988, o McDia Feliz tornou-se o dia
de maior movimento em mais de 600 restaurantes McDonald’s, contando com uma
mobilização de cerca de 30 mil voluntários. O programa já arrecadou mais de R$
150 milhões, aplicados em quase todas os estados brasileiros.
u Os recursos têm viabilizado a implantação
de unidades de internação, ambulatórios, salas de quimioterapia, casas de apoio
e unidades de transplante de medula óssea, entre outros projetos. Todos os
projetos apoiados pelo Instituto Ronald McDonald são auditados (disponível em http://www.instituto-ronald.org.br/index.php/instituicoes-e-projetos/projetos-apoiados).
Ano passado, o McDia Feliz beneficiou 81 projetos, de 58 instituições, com a
arrecadação de R$20.441.012,00.
u A filantropia empresarial, uma das
consequências e características da formação do pensamento empresarial norte
americano, atua fortemente na criação, desenvolvimento e manutenção de um
grande número de iniciativas benemerentes, bem diferente de como é percebida no
Brasil, onde chega a ser pejorativamente chamada por alguns de “pilantropia”.
u Enquanto isso,
três empresas brasileiras, a JBS (“a carne é Friboi?”), a
Ambev e a OAS (empresa que fez parte do Consórcio Via Amarela, responsável pelas
obras da estação Pinheiros, do metro São Paulo, que desabou em 2007, matando 7
pessoas) são responsáveis por 65% do financiamento das campanhas eleitorais
pela Presidência da República até o dia 6 de agosto.
u A JBS, doadora
mais generosa, responde por 35% das doações. Foram doados por ela R$5 milhões para
a campanha da presidenta Dilma Rousseff, mais R$5 milhões para a campanha do
senador Aécio Neves e mais R$1 milhão, para o governador Eduardo Campos.
Paulo Márcio de Mello
Professor da Universidade do Estado
do Rio de Janeiro (UERJ)
A coluna
EMPRESA-CIDADÃ é publicada, desde 2001, toda quarta-feira,
no centenário
jornal Monitor Mercantil (www.monitormercantil.com.br).
Através dela,
são apresentados casos
de empreendedores e empresas,
pesquisas, resenhas, editais ou agenda, relativos à responsabilidade social, à
sustentabilidade e ao desenvolvimento sustentável.
A participação dos setores empresarias nas questões sociais é muito importante. Como sabemos, as empresas são constituídas exatamente para beneficiarem-se de externalidades, portanto, é justo que ao obterem tantas vantagens a partir dessas externalidades que retribuam minimamente benefícios à sociedade.
ResponderExcluirEm relação às ações de "filantropia" em que organizações promovem ou custeiam empreendimentos que de alguma forma beneficiam as comunidades que estão direta ou indiretamente ligadas a elas, a destinação de recursos é muito positiva, porque coopera com as atitudes dos governos e dos cidadãos no sentido de melhorar a sociedade.
Por outro lado, no entanto, no caso de organizações que destinam parte de suas verbas para financiamento de campanha eleitoral, como citado no texto, o assunto é muito mais delicado. Essas relações não trazem diretamente (provavelmente nem indiretamente) benefícios para a sociedade, mas apenas para determinados grupos políticos e, claro, para as próprias organizações. Neste caso, como está sendo discutido atualmente no campo político brasileiro, devemos repensar a legalidade dessas "doações".