quarta-feira, 5 de novembro de 2014

ODMs: valeram a pena? (II)
                                                             
Lideranças de todo o mundo apresentaram uma agenda com perspectiva ética, para orientar o desenvolvimento até 2015. Trata-se dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODMs). É oportuna uma leitura crítica dos principais resultados em relação aos objetivos de reduzir a mortalidade infantil; melhorar a saúde materna; combater o HIV/AIDS, a malária e outras doenças; garantir a sustentabilidade ambiental; e estabelecer uma parceria mundial para o desenvolvimento.

blog do professor paulo márcio
economia&arte

Quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Paulo Márcio de Mello*



u      Em 2000, através da Declaração do Milênio, iniciativa da secretaria geral da ONU, lideranças de todo o mundo apresentaram uma agenda com perspectiva ética, para orientar o desenvolvimento, até 2015. Trata-se dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODMs), um conjunto de objetivos, metas, projetos e indicadores que, tomando por base as condições de 1990, estipula a busca de avanços em diferentes áreas.

u      Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODMs) representam uma agenda ética para orientar o desenvolvimento global. O compromisso, uma iniciativa da Secretaria Geral da ONU, foi firmada pelos Estados membros em 2000, para ser alcançado até 2015, com base na situação observada em 1990. Esta edição é dedicada à leitura dos principais resultados em relação aos objetivos de reduzir a mortalidade infantil; melhorar a saúde materna; combater o HIV/AIDS, a malária e outras doenças; garantir a sustentabilidade ambiental; e estabelecer uma parceria mundial para o desenvolvimento.

u      O quarto ODM foi atingido pelo Brasil, em sua meta de redução da mortalidade na infância (menores de 5 anos). A taxa passou de 53,7 óbitos por mil nascidos vivos, em 1990, para 17,7, em 2011. O melhor índice é observado na Região Sul (13,0 por mil nascidos vivos), seguida das regiões Sudeste (15,0), Centro Oeste (17,9), Nordeste (20,7) e Norte (23,7).

u      Outra meta que caracteriza este objetivo é a redução da mortalidade infantil (crianças até 1 ano), responsável por cerca de 85% das mortes de crianças até 5 anos, no Brasil. A meta já foi atingida, com a redução de 47,1, entre mil nascidos vivos, em 1990, para 15,3, em 2011. A terceira meta que compõe o objetivo, proporção de crianças de até 1 ano de idade vacinadas contra o sarampo, alcançou 96% das crianças de 9 meses a 14 anos de idade, já em 1992, com a campanha de vacinação, realizada no primeiro semestre daquele ano.

u      O quinto ODM, de melhorar a saúde materna, é composto por duas metas. A primeira é reduzir a mortalidade materna em 75% do patamar observado em 1990 e a segunda é universalizar o acesso à saúde sexual e reprodutiva. O mundo não deverá alcançar a primeira meta, conforme relatório divulgado em 2013, pela ONU. Tanto no segmento dos países em desenvolvimento, quanto no dos países da América Latina, a redução informada foi da ordem de 45%.

u      O Brasil ainda enfrenta dificuldades para alcançar a meta, apesar de se observar uma redução da mortalidade materna de 55%, entre 1990 e 2011. Em relação à segunda meta, a situação do Brasil está mais próxima de ser atingida, com 99% dos partos realizados em estabelecimentos de saúde e cerca de 90% das gestantes (51% nos demais países em desenvolvimento) realizarem pelo menos 4 consultas pré-natais, em 2011.

u      Combater o HIV/AIDS constitui-se no sexto ODM. Há três metas para este objetivo. A primeira é interromper a propagação e diminuir a incidência do HIV/AIDS. Universalizar o acesso ao tratamento, até 2010, é a outra meta. A terceira é reduzir a incidência de malária e outras enfermidades, como a tuberculose.

u      Nos países em desenvolvimento, a meta de diminuição da incidência do HIV/AIDS já foi alcançada com a redução, entre 2001 e 2011, das novas infecções por HIV, de 0,09 para 0,06 da população. No Brasil, a taxa de detecção de HIV/AIDS estabilizou-se há mais de uma década. Quanto à meta de universalização do acesso a tratamento, há ceticismo em relação à sua efetivação, com apenas 55% de atendimento às pessoas necessitadas, pelos dados da ONU.

u      A meta de redução da incidência da malária já foi atingida, com a redução de 25% da taxa global de mortalidade, entre 2000 e 2011. No Brasil, a incidência caiu, de 3,9 casos por mil habitantes, para 1,3 caso, entre 1990 e 2012. No caso da tuberculose, o Brasil também já alcançou a meta.

u      O sétimo ODM, assegurar a sustentabilidade ambiental, está expresso por metas, como proteger os recursos ambientais; reduzir as perdas da biodiversidade; reduzir pela metade a proporção da população sem acesso permanente e sustentável à água e saneamento; e melhorar significativamente as condições de habitantes de assentamentos precários.

u      Entre 1990 e 2010, o percentual da população mundial sem acesso a água potável caiu, de 24% para 11%, caracterizando a efetivação da meta. No Brasil, em 2012, os percentuais de pessoas sem acesso à água e ao esgotamento sanitário já estavam abaixo da metade do patamar de 1990. Sobre as condições de moradia, o Brasil reduziu a população em condições inadequadas, de 53% para 36,6%, entre 1992 e 2012.

u      Na Amazônia Legal, o desmatamento, indicador básico das metas de proteção dos recursos naturais e de redução das perdas da biodiversidade, é monitorado desde 1988 e, apesar dos números atingirem 29,1 mil km2, em 1995, e 2,7 mil km2, em 2004, desde então observa-se redução consistente no desmatamento. Em 2012, com a marca de 4,57 mil km2, o desmatamento foi reduzido em cerca de 84%, entre 2004 e 2012. Outros biomas são monitorados desde 2002, como a Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal. O Cerrado revela-se como o bioma mais agredido pelo desmatamento, com perdas de 85 mil km2, entre 2002 e 2008.

u      O oitavo ODM, formar uma parceria global para o desenvolvimento, engloba metas como as de mudança no sistema financeiro internacional; repactuação das dívidas das nações altamente endividadas; e ampliação do acesso a medicamentos e tecnologias, entre outras. Trata-se do ODM mais específico para chamar os países à efetivação desta agenda de desenvolvimento ético, conforme as responsabilidades ditadas por seus diferentes estágios de desenvolvimento.

Paulo Márcio de Mello
Professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

A coluna EMPRESA-CIDADÃ é publicada, desde 2001, toda quarta-feira,
no centenário jornal Monitor Mercantil (www.monitormercantil.com.br).
São mais de 600 edições apresentando casos de empreendedores e empresas,

pesquisas, resenhas, editais ou agenda, relativos à sustentabilidade, à responsabilidade social e ao desenvolvimento sustentável.

Nenhum comentário:

Postar um comentário